Lula desdenha Moro: ‘Não considero ele nem candidato’

Declaração foi dada a rádio de Curitiba, berço político do ex-juiz que condenou o petista por corrupção: “Esse cidadão sempre teve a pretensão de ser político”

“Eu acho importante que ele seja candidato, eu não escolho adversário. Eu vou disputar as eleições com tantos quantos sejam candidatos”
15 de Fevereiro, 2022 | 09:20 AM

Bloomberg Línea — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu uma exceção à estratégia de ignorar a existência Sergio Moro, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto. Em uma entrevista a uma rádio de Curitiba, berço político do ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, o petista desdenhou as pretensões políticas do seu antigo algoz.

“Eu não considero ele nem candidato. O papel que ele está fazendo em cada entrevista é tão ridículo que eu quero é que ele se exponha mais, que tenha mais tempo de televisão, dê mais entrevista em rádio, que se coloque na frente da imprensa para desnudar que aquele homem sem toga não vale nada”, disse Lula em entrevista nesta terça (15) à rádio Banda B, de Curitiba.

O contexto da declaração foi a resposta de Lula a uma pergunta sobre se, em teoria, considerava mais fácil bater Moro do que o atual presidente Jair Bolsonaro na disputa presidencial. Lula completou na sequência: “Eu acho importante que ele seja candidato, eu não escolho adversário. Eu vou disputar as eleições com tantos quantos sejam candidatos”.

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Como juiz da Lava Jato, Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em 2017. No ano seguinte, a condenação foi confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e a pena, aumentada para 12 anos e um mês.

No ano passado, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o processo de Lula sobre o tríplex não deveria ter corrido na Justiça Federal de Curitiba e as condenações foram anuladas, abrindo caminho para que Lula fosse libertado após 580 dias preso e retomasse os direitos políticos.

Em uma segunda decisão, Moro também foi considerado parcial no processo de Lula pelo STF, acolhendo um argumento da defesa do petista, que ganhou impulso depois que foram revelados os diálogos trocados pelo então juiz e procuradores da força-tarefa num escândalo conhecido como Vaza Jato. Moro nega que tenha participado de conluio com o Ministério Público Federal para condenar Lula e tirá-lo do jogo político, como acusa a defesa do petista.

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“Esse cidadão sempre teve a pretensão de ser político, a pretensão de sair da mediocridade que ele é como pessoa humana para ganhar notoriedade na política. Agora, ele tem uma chance, mas ele não terá mais a unanimidade da imprensa”, afirmou Lula, em outro trecho da entrevista.

“Ele foi uma invenção, um deus de barro criado por setores da mídia brasileira e que está desmoronando”, disse.

Sergio Moro foi ao Twitter para rebater os ataques de Lula.

(Este texto foi atualizado às 10h05 desta terça, 15/2, para agregar a resposta de Sergio Moro pelo Twitter)

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.