Profissão influencer: criar conteúdo nas redes é um negócio de verdade

Brasil é o terceiro país com mais usuários do Instagram, com 114,9 milhões, atrás somente dos EUA e da Índia, que lidera o ranking com 201,1 milhões

A influenciadora pernambucana foi uma das 500 personalidades mais influentes da América Latina pela Bloomberg Línea em 2021
14 de Fevereiro, 2022 | 05:33 AM

Bloomberg Línea — Se olharmos para os fluxos de uma empresa física e consolidada, como planejamento, balanços, perspectivas de longo prazo, a resposta é sim. Mas e se mirarmos os lucros que um influenciador teria com criação de conteúdo para redes sociais? Daí a resposta é com certeza.

Não é de hoje que os influenciadores digitais vêm ganhando cada vez mais espaço e transcendendo as redes sociais, mas sem dúvidas eles foram catapultados na pandemia -- enquanto muitos negócios reduziam seus custos e perdiam lucros, eles só enxergavam crescimento.

Em dezembro de 2021, o Instagram atingiu a marca de 2 bilhões de usuários ativos no mundo, segundo a agência de dados Statista, entre 3,4 bilhões de usuários de redes sociais no geral. O Brasil é o terceiro país com mais usuários da rede social, com 114,9 milhões de usuários ativos, atrás somente dos Estados Unidos, com 157,1 milhões, e da Índia, que lidera o ranking com 201,1 milhões.

Ainda segundo a agência alemã, 40% dos consumidores brasileiros dizem que o principal impulsionador de sua decisão de compra é o influenciador digital, ante 35% na China e pouco mais de 10% nos EUA.

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“O Conteúdo de Marca é o recurso mais difundido entre os criadores para gerar renda”, segundo um porta-voz do Instagram em resposta à Bloomberg Línea. A ferramenta é usada por “parcerias com marcas que podem ser publicadas no Feed, Stories, Reels e transmissões Ao Vivo”.

Também não é de hoje que Camila Coutinho faz do Instagram sua principal fonte de renda. Quando criou seu blog para falar sobre moda e estilo de vida, em 2006, ela diz que não imaginava que 16 anos depois estaria fazendo disso seu negócio - mas, por incentivo de seu pai, que já tinha uma mente empreendedora, registrou o título de sua página oficialmente, o Garotas Estúpidas, como contou em entrevista à Bloomberg Línea.

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“Nunca imaginaria que isso fosse desenvolver dessa forma, que os influenciadores seriam o cerne do que é o consumo digital hoje em dia”, disse Camila em entrevista exclusiva. “Ao longo desses anos, o mercado editorial e de consumo virou de cabeça para baixo. Mudaram as vias de comunicação. O ambiente de compra mudou completamente, a publicidade também. Tudo gira em torno de conteúdo e influência”, completou.

“Por estratégia e até um pouco de sorte por ter começado isso antes do Instagram, tenho uma visão mais a longo prazo.”

Após consolidar sua carreira no universo digital, a pernambucana expandiu os horizontes e criou, em setembro de 2020, seu primeiro produto físico: a GE Beauty, uma marca de cosméticos para cabelos customizáveis. Camila foi uma das 500 personalidades mais influentes da América Latina pela Bloomberg Línea em 2021. A influencer acumula quase 3 milhões de seguidores em sua conta no Instagram. Hoje em dia, ela envolve cerca de 12 pessoas que trabalham para suas contas nas redes sociais.

“A GE Beauty um negócio completamente diferente, mas também muito complementar. As marcas criadas agora têm outra estratégia, e isso materializa tudo o que eu já fiz e o que eu penso”, explicou Camila.

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Camila Coutinho

“Nesse momento, a GE Beauty consome muito mais o meu tempo, é um negócio muito mais complexo e difícil de administrar no dia a dia [do que sua conta de influencer no Instagram]. Um negócio de uma influenciadora pode funcionar só com a influenciadora e sem custo nenhum: internet, ela e criatividade.”

As empresas Camila Coutinho atuam em dois ramos. O primeiro reúne as atividades de mídia: Camila como comunicadora e o Garotas Estupidas como veículo.

Todas as empresas encontram-se em estágio de startups e seguem um plano de crescimento auto-financiado. Congregam um grupo de 20 profissionais experientes e dedicados alocados em equipes multidisciplinares. Somadas, as empresas faturam acima de 7 dígitos anualmente e tem dobrado de tamanho ano a ano, desde a sua fundação.

Mesmo com a pandemia, a influencer viu seus negócios crescerem nos últimos anos. Considerando Camila Coutinho somada à conta de seu blog, o Garotas Estúpidas, o aumento em faturamento total de 2019 para 2020 foi 49,39%, e de 2020 para 2021 foi 50,52%.

Já a GE Beauty está presente no varejo online e físico, em loja própria. A primeira loja foi instalada em Recife, a segunda, em formato pop-up em São Paulo. Camila tem planos de expansão e abertura de novas lojas este ano.

Espaço para todos

Não são somente as influenciadoras na casa dos milhões de seguidores que se dão bem na profissão, em um momento em que o engajamento vale mais do que os números no perfil.

Clarissa Barbio é um exemplo desse caso. Além de bailarina, professora, publicitária e modelo, ela se tornou também influenciadora em 2020. Seu perfil do Instagram tem 117 mil seguidores.

Clarissa Barbio

“Comecei a gravar uns vídeos dançando na pandemia, mas não tinha pretensão de trabalhar com as redes sociais porque tinha medo de não conseguir conciliar com a minha escola de dança, e também tinha receio das pessoas na internet serem muito ruins”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

A empresária abriu sua própria escola de dança em 2016, aos 23 anos. Hoje em dia, ela afirma que seu lucro tem sido muito maior com as publicidades que faz pela sua conta no Instagram do que com sua escola de dança.

Diferentemente de Camila Coutinho, que tem uma equipe própria, Clarissa conta com uma agência para cuidar de sua presença digital. A Grapa Digital, agência especializada em marketing de influência, foi fundada recentemente após a fusão da ID. Impulso Digital e Pappon Digital.

A Grapa trabalha com 55 influenciadores exclusivos e mais de 400 parceiros. “A meta para 2022 é que, com a expertise adquirida de cada uma das agências anteriores, a Grapa Digital consiga no seu primeiro ano quadruplicar o resultado em faturamento de suas antecessoras”, disse um representante da agência em nota à Bloomberg Línea.

Para a conta de Clarissa Barbio, a Grapa contabiliza uma média de 5 a 15 clientes para publicidades por mês.

Dependência da plataforma

Apesar de ser um tipo de trabalho em ascensão, um debate que vem tomando forma de maneira proporcional é o fato de os influenciadores dependerem de uma plataforma de terceiros para exercerem sua função.

O Instagram chegou ao Brasil em 2010, e em 2012 foi comprado pela Meta (FB), dona do Facebook.

Conforme Camila Coutinho, essa exclusividade do Instagram “preocupa todos os dias a todos os criadores de conteúdo. Agora que o TikTok entrou no jogo, o Instagram está tendo que ser mais flexível em alguns termos porque não está mais sozinho.”

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“Os usuários ativos estão diminuindo por diversos fatores, pela concorrência, pela fadiga, as pessoas estão percebendo que têm que dosar o uso”, disse. Ela também defende que os influenciadores precisam expandir seus horizontes e se conectar com seus seguidores de outras maneiras.

É uma estratégia muito interessante para o influenciador ir trazendo a audiência para outros pontos de contato, além das redes sociais. Eu tenho os 3 milhões de seguidores, mas não são meus. Não sou eu quem decide se todos vão ver o que eu estou postando.”

O que diz o Instagram

O Instagram tem realizado testes para melhorar a relação com os criadores de conteúdo, como o Subscriptions, para ajudá-los a ter uma renda mensal recorrente no Instagram, “oferecendo conteúdo e experiências exclusivas para seus seguidores mais engajados”, disse o porta-voz à Bloomberg Línea. O Affiliate link é mais um recurso sendo testado, “que permite aos criadores ganharem comissões pelas compras que eles gerarem, tudo dentro do aplicativo do Instagram”. Por enquanto, os testes ainda não estão disponíveis no Brasil, conforme o representante da rede social.

“Os criadores sempre estiveram no centro do Instagram”, disse o diretor de parcerias com criadores da Meta para a América Latina, Mauro Bedaque, em nota à Bloomberg Línea. “Eles dão vida a todo o ecossistema da plataforma, movimentando a economia criativa e conectando marcas com pessoas que se identificam não só com os produtos, mas com o seu estilo e personalidade.”

Queremos ajudar tanto os criadores já consolidados quanto os que estão começando a transformarem o Instagram em fonte de renda e continuaremos a investir em ferramentas que permitam a eles dar esse passo

Mauro Bedaque, diretor de parcerias com criadores da Meta para a América Latina

De acordo com a plataforma, a companhia tem feito investimentos recorrentes em educação para os criadores de conteúdo. O Instagram disponibilizou nesta semana conteúdos para auxiliar a comunidade de criadores de conteúdo “a aprimorar seus conhecimentos sobre as ferramentas disponíveis, planejar uma estratégia digital eficiente e aprofundar a conexão com a sua audiência”. O curso ‘Melhores Práticas Do Instagram’ é aberto ao público e conta com a participação de executivos do Instagram, que compartilham as práticas recomendadas e insights úteis para criadores de conteúdo impulsionarem suas carreiras no Instagram.

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.