Hong Kong volta a registrar mortes por covid com novo surto

Após meses de calmaria, a cidade passa pela maior onda de casos da doença desde o início da pandemia em 2020

Após ver casos dobrarem em praticamente um dia, governo de Hong Kong aperta o cerco e toma medidas mais rigorosas
Por Jinshan Hong
10 de Fevereiro, 2022 | 12:13 PM

Bloomberg — Hong Kong registrou três mortes de pacientes com covid, sendo as primeiras no centro financeiro desde setembro, enquanto um surto recorde sobrecarrega hospitais e drena recursos de testes, gerando o maior desafio à sua abordagem de tolerância zero ao vírus desde o início da pandemia.

Dois homens na faixa dos 70 anos – um imunizado com duas doses da vacina da chinesa Sinovac (SVA) e o outro não vacinado – e uma mulher de 94 anos morreram esta semana. Todos os pacientes tinham doenças crônicas. Os óbitos ocorrem à medida Hong Kong registra seu maior número de casos até o momento – foram 986 novas infecções anunciadas na quinta-feira (10), após mais de mil no dia anterior.

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O surto, embora pequeno em comparação com outros lugares, está pressionando o sistema de saúde, que está configurado para erradicar todos os casos e bloquear todas as infecções. A cidade conseguiu viver por meses sem transmissão local devido a medidas rigorosas – incluindo proibições de voos, até 21 dias de quarentena e internação obrigatória – mas a chegada da ômicron arrisca acabar com a estratégia de Covid Zero adotada pela China.

A cidade também registrou cerca de 800 infecções chamadas preliminares nesta quinta-feira (10).

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O rápido aumento de casos, que quase dobrou em um dia, chegando a um recorde de 1.161 na quarta-feira (9), está testando um sistema hospitalar que era usado até recentemente para abrigar todos os casos de covid, independentemente da gravidade. As autoridades agora solicitam que quem testou positivo não vá para o pronto-socorro. A maioria dos casos de hospitalização ainda é leve em Hong Kong porque a variante dominante é a ômicron, mas há pouca experiência com covid na comunidade, que, assim como a China, viveu sem casos por longos períodos na pandemia.

Idosos tinham entre 70 e 94 anos, com doenças crônicas; um estava imunizado com duas doses

As autoridades estão especialmente preocupadas com idosos – apenas metade dos cidadãos acima de 70 anos recebeu a primeira dose da vacina até o momento. O vírus foi encontrado em mais de 10 casas de repouso.

Agonia

O aumento explosivo nos casos desencadeou uma série de decisões do governo, incluindo um pedido para que qualquer pessoa com sintomas leves de covid-19 fosse a um médico particular para fazer o teste em vez de ir ao pronto-socorro para confirmar o diagnóstico. A obrigatoriedade de testagem, assim como implantado na China continental, resultou em longas filas de pessoas em diversos bairros.

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“Lamentamos muito e ficamos agoniados ao saber que muitos cidadãos tiveram de enfrentar filas para fazer um teste, e muitos cidadãos que testaram positivo também tiveram de esperar muito” para entrar em isolamento, relatou Carrie Lam, chefe do poder Executivo de Hong Kong, em uma publicação no Facebook na noite de quarta-feira. As autoridades “estão se esforçando e estão constantemente buscando formas e apoio adicional para melhorar suas capacidades”, disse.

Hong Kong está implementando suas restrições de vírus mais rígidas em toda a pandemia, incluindo um limite para reuniões em residências e outros locais privados, bem como o retorno de um limite de duas pessoas para aglomerações em locais públicos. O governo ampliará a lista de locais em que a entrada é restrita a vacinados a shoppings, mercados e salões de beleza em um sistema que começa em 24 de fevereiro.

Estratégia de Covid Zero passa a se tornar insustentável co o surgimento de variantes mais transmissíveis

Além de focar na socialização – após as aglomerações reuniões durante o feriado do Ano Novo Lunar da semana passada, que levaram a culpa pelo aumento exponencial de casos – as autoridades também precisaram afrouxar algumas outras medidas de saúde.

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Anteriormente, todos os pacientes infectados, mesmo aqueles sem sintomas, eram mantidos em isolamento hospitalar por semanas, mas agora os casos leves estão sendo transferidos para o setor de quarentena de Penny’s Bay, administrado pelo governo. Os contatos próximos podem se isolar em casa, apesar do maior risco de disseminação que essas medidas representam, representando uma reviravolta na política anterior, que obrigava o isolamento em uma instalação de quarentena.

Hong Kong e a China continental são os últimos adeptos restantes da estratégia Covid Zero, que conseguiu conter o vírus no início da pandemia, mas tornou-se mais difícil de manter em meio a variantes mais transmissíveis. Continuar com a abordagem também arrisca deixar os dois lugares isolados – e sujeitos a medidas de contenção cada vez mais perturbadoras ou bizarras – à medida que o resto do mundo reabre e busca conviver com a covid.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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