Maioria dos convidados olímpicos de Xi são líderes não democráticos

Doze dos líderes - incluindo o russo Vladimir Putin - governam nações rotuladas como “autoritárias” ou de “regime híbrido”

"Diga-me com quem andas..."
Por Kristal Chia
03 de Fevereiro, 2022 | 12:45 PM

Bloomberg — O presidente chinês, Xi Jinping, receberá 21 líderes mundiais nas Olimpíadas de Inverno, e a maioria deles presidem regimes não democráticos.

Doze dos líderes - incluindo o russo Vladimir Putin- governam nações rotuladas como “autoritárias” ou de “regime híbrido” no mais recente Índice de Democracia da Economist Intelligence Unit. A organização classifica as nações por seu processo eleitoral, participação política e liberdades civis.

Outras oito democracias principais e Mônaco, que não foi classificado pela EIU, são classificadas como “livre” pela Freedom House, com sede nos Estados Unidios. Os Jogos Olímpicos de 2008 atraíram uma série de líderes das democracias ocidentais, com destaque para a presença do ex-presidente dos EUA, George W. Bush, para Pequim.

Um boicote diplomático liderado pelos EUA às Olimpíadas deste ano, devido a supostos abusos de direitos humanos na região de Xinjiang, no oeste da China - rotulado de genocídio pela Casa Branca - tornou a participação de chefes de Estado profundamente política. Pequim tem lutado para administrar as consequências, chamando as alegações de genocídio de “mentiras cruéis” e dizendo que não planejava convidar alguns políticos “anti-China”, de qualquer maneira.

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O Ministério das Relações Exteriores da China declarou que se opõe à politização dos esportes e prometeu “garantir a realização tranquila” dos Jogos de Pequim. “Os Jogos Olímpicos de Inverno são um grande evento para atletas de todo o mundo, e a China tem confiança para apresentar um evento olímpico simples, seguro e maravilhoso”, disse o ministério na quarta-feira (2) em uma resposta por e-mail a perguntas.

As restrições causadas pela covid são parcialmente responsáveis pela queda no comparecimento, em comparação aos Jogos de Verão de 2008, em Pequim, quando a China mostrou sua expansão econômica pouco antes de uma crise imobiliária nos EUA desencadear uma crise financeira global. A China é um dos últimos países que continua tentando eliminar os surtos de Covid, e tem estado especialmente vigilante na capital, exigindo que os dignitários visitantes passem por rigorosos regimes de testes.

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A exigência feita à delegação do Paquistão, incluindo o primeiro-ministro Imran Khan, foi que fizessem testes diários de coronavírus por quatro dias consecutivos antes de participar da cerimônia de abertura, segundo fontes familiarizadas com o assunto. Quaisquer testes positivos entre eles os forçariam a recuar, disseram as pessoas. Um porta-voz do primeiro-ministro não respondeu a vários pedidos de comentários.

Líderes da Áustria, Letônia, Holanda, Nova Zelândia, Suécia e Coreia do Norte mencionaram a pandemia como motivo de sua ausência – embora o COI já tivesse suspendido a participação de Pyongyang em eventos até o final de 2022, por ter se recusado a comparecer aos Jogos de Tóquio do verão passado.

Embora os Jogos de Verão sejam sempre mais frequentados, até porque a maior parte da África e da América do Sul não compete no inverno, várias democracias que normalmente enviam líderes estão ausentes este ano, incluindo Dinamarca, Finlândia e Noruega. Pesquisas do Pew Research Center mostram que as atitudes em relação à China estão se tornando menos favoráveis nas nações ocidentais nos últimos anos.

“O nível de escrutínio sobre o histórico de direitos humanos de Pequim mudou drasticamente desde as Olimpíadas de 2008 e, em países democráticos, em particular, a opinião pública da China nunca esteve tão ruim”, disse Natasha Kassam, diretora programa de opinião pública e estrangeira do Lowy Institute.

Os países com líderes presentes respondem por 6% do produto interno bruto global, segundo cálculos baseados em dados do Banco Mundial. Os líderes das economias em desenvolvimento que comparecerem terão a chance de se sentar com Xi, enquanto ele retoma a diplomacia presencial, após um hiato de quase dois anos devido à covid.

Espera-se que o presidente da Argentina, Alberto Fernandez, peça à China uma ampliação de sua troca bilateral de moedas em yuan enquanto estiver na cidade. Cinco países da Ásia Central anunciaram sua participação, em conjunto com a promessa de Pequim de US$ 500 milhões em ajuda e 50 milhões de doses de vacinas contra a Covid.

“A lista de convidados das Olimpíadas de Inverno mostra como a defesa dos EUA da diplomacia baseada em valores combinada com a diplomacia belicosa da China enfraqueceram o alcance diplomático de Pequim em relação às democracias liberais”, disse Wen-Ti Sung, professor da Universidade Nacional Australiana de Taiwan.

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– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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