Presidente de Burkina Faso é detido em base militar após motim do exército

Diversas bases militares abriram fogo em revolta neste domingo (23); internet foi cortada e governo ordenou toque de recolher

Quarto maior país do continente africano vem passando por manifestações contra o governo, afirmando que este fracassou em conter a insurgência islâmica
Por Katarina Hoije e Simon Gongo
24 de Janeiro, 2022 | 09:05 AM

Bloomberg — Soldados amotinados em Burkina Faso detiveram o presidente do país e pediram que ele assinasse uma carta de renúncia, segundo pessoas familiarizadas com o assunto no dia seguinte a um motim do exército.

O presidente Roch Marc Christian Kabore está detido em um acampamento militar, disseram as fontes, que pediram para não serem identificadas porque não estão autorizadas a falar com a mídia. A Bloomberg tentou entrar em contato com o porta-voz do governo Alkassoum Maiga, mas sem sucesso.

A detenção de Kabore ocorreu após um dia de tumultos em Burkina Faso neste domingo (23), quando soldados de diversas bases do exército abriram fogo, inclusive no aeroporto militar da capital Uagadugu. O governo impôs toque de recolher das 20h às 5h30 e ordenou que a escolas ficassem fechadas nesta segunda-feira (24). Os serviços de internet móvel foram suspensos, segundo a Netblocks, empresa privada que monitora interrupções de conectividade.

Kabore, de 64 anos, enfrenta crescente oposição devido ao fracasso de seu governo em combater a insurgência islâmica que desestabilizou outros países da região, incluindo Mali, Níger e Costa do Marfim desde seu início há seis anos. Burkina Faso é o quarto maior produtor de ouro da África e abriga minas de empresas como a Endeavor Mining e Iamgold.

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Em novembro, manifestantes saíram às ruas pedindo a renúncia de Kabore depois que 49 policiais militares foram mortos em um ataque a uma base da polícia militar no norte do país. As manifestações se intensificaram depois que um documento interno do exército constatou que os oficiais ficaram sem comida.

Uso de gás lacrimogêneo

Os tiroteios deste domingo ocorreram no dia seguinte ao uso de gás lacrimogêneo por parte das forças de segurança em uma manifestação que exigia a renúncia de Kabore. Os manifestantes também saquearam a sede do partido no poder – o Movimento Popular para o Progresso.

O enviado especial das Nações Unidas para a África Ocidental, Mahamat Saleh Annadif, alertou em 10 de janeiro que ataques “incessantes” de grupos terroristas poderiam levar a uma maior desestabilização em Burkina Faso.

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Havia sinais iniciais de uma revolta militar no início do mês, quando uma dúzia de soldados foram presos por suspeita de tramar um golpe, segundo a promotoria militar. Os soldados envolvidos nas últimas manifestações buscam melhores recursos para combater os insurgentes, incluindo mais tropas e a substituição do principal comandante militar do país, segundo gravação de áudio obtida pela emissora de rádio Voice of America.

“Estamos fartos de Kabore”, disse Alidou Nikiema, um dos jovens que foram às ruas. “Queremos que ele renuncie e que o poder seja entregue aos militares”.

Kabore está no poder desde 2015, um ano após o líder de longa data Blaise Compaore ter sido deposto em uma revolta popular.

--Com a colaboração de Michael Sin, Felix Njini e Baudelaire Mieu.

--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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