BC do Japão afasta possibilidade de retirada de estímulos

Autoridade pode considerar ajustar a política monetária porque a alta de preços e a fraqueza do iene incomodam o público e as empresas

‘Esperamos que os juros básicos de longo e curto prazo permaneçam nos níveis baixos atuais ou caiam ainda mais’, afirmou presidente do BC japonês, Haruhiko Kuroda
Por Toru Fujioka e Sumio Ito
18 de Janeiro, 2022 | 10:35 AM

Bloomberg — O comandante do banco central do Japão agiu para acabar com especulações de que a redução gradual de estímulos se aproxima, apesar da alta da inflação e da visão menos cautelosa da instituição em relação aos riscos associados aos preços.

“Esperamos que os juros básicos de longo e curto prazo permaneçam nos níveis baixos atuais ou caiam ainda mais”, afirmou Haruhiko Kuroda durante entrevista coletiva nesta terça-feira, após a decisão de manter os juros e apresentar projeções um pouco maiores para a inflação. “Subir juros é impensável.”

Kuroda fez os comentários após especulações recentes do mercado e uma reportagem informando que o banco central pode considerar ajustar a política monetária porque a alta de preços e a fraqueza do iene incomodam o público e as empresas.

No entanto, a inflação no Japão ainda está longe dos patamares que levaram os bancos centrais dos EUA e Reino Unido a se distanciar das configurações de estímulo adotadas para enfrentar a pandemia.

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Preços mais altos de energia e itens essenciais pressionam a lucratividade das empresas e os orçamentos das famílias meses antes de uma eleição na qual o primeiro-ministro Fumio Kishida precisa de uma ampla vitória para se fortalecer no cargo.

Porém, Kuroda insistiu que qualquer medida para normalização da política monetária só seria tomada após o alcance da meta de inflação de 2% e isso não acontecerá enquanto durar seu mandato, considerando a perspectiva do banco central para os preços.

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“Kuroda deixou claro que não haverá aumentos de juros”, disse Yasunari Ueno, economista-chefe de mercado da Mizuho Securities. “Não acho que a especulação desaparecerá completamente, mas por enquanto Kuroda fez o melhor que podia para acabar com isso.”

Após uma reunião de dois dias, o banco central manteve inalterados o juro negativo, a meta para o rendimento dos títulos e o programa de compra de ativos.

A instituição apresentou uma visão mais contundente dos riscos de inflação pela primeira vez desde 2014, mas o aumento ínfimo das projeções para os preços passou a impressão de que a eliminação gradual dos estímulos está distante por ora.

A moeda local se desvalorizou e a taxa de câmbio atingiu 115,06 ienes por dólar logo antes da decisão. O mercado acionário fechou em queda de 0,4%, puxada pelas ações do setor financeiro.

“O banco central japonês agora entende que os riscos para a inflação estão equilibrados, em um reconhecimento das pressões de alta de preços que elevaram as perspectivas de curto prazo. Mas isso não significa que a instituição irá ajustar sua postura de extrema acomodação tão cedo”, diz o economista Yuki Masujima da  Bloomberg Economics.

O banco central também sinalizou outro adiamento na recuperação econômica e reduziu a previsão de crescimento para o ano fiscal que termina em março. A projeção para o próximo ano foi revisada para cima. O Japão agora enfrenta o aumento de casos de Covid-19 causado pela variante ômicron, que pode conter os gastos do consumidor.

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