Por Matheus Mans para Mercado Bitcoin
São Paulo - As criptomoedas, mercado com valor global acima de cerca de US$ 2 trilhões, não se limitam mais aos investimentos ou a pagamentos diversos no dia a dia. Esses ativos digitais que têm ganhado cada vez mais espaço dentro do mercado financeiro tradicional e vêm sendo adotados com força por vários países, em especial os emergentes, agora fazem parte de projetos voltados ao desenvolvimento social de comunidades ao redor do mundo.
África e Venezuela detêm os programas mais avançados quando o assunto são as ‘criptomoedas sociais’, assim denominadas por terem o propósito de, como moeda local e circulação restrita a determinada população, melhorar a vida de grupos de pessoas vulneráveis ajudando a combater a desigualdade, a pobreza e a exclusão, em especial a bancária.
No continente africano, estudos apontam para um crescimento histórico. Relatório da empresa americana de pesquisa de blockchain Chainalysis indica que o mercado cripto na região apresentou expansão superior a 1.200% em termos de valor captado, entre julho de 2020 e junho de 2021.
Oportunidade
Já a Venezuela é o sétimo país no mundo com a maior adoção de criptomoedas, segundo o Índice de Adoção de Criptografia Global 2021, elaborado também pela Chainalysis, colocando o país à frente de nações como os Estados Unidos (8º), a China (13º) e o próprio Brasil, que aparece em 14º lugar no ranking.
“Com as crises humanitárias, a dificuldade de acesso a bancos e um estado muito centralizador, as criptomoedas surgiram como uma oportunidade real para aquelas pessoas conseguirem fazer transações”, diz Leandro Belloc Nunes, pesquisador na área.
Nesse sentido, o acesso à internet se torna um dos principais desafios para a implementação das criptomoedas sociais globalmente. Ampliar a capilaridade de conexão é fundamental para levar mais pessoas até esse universo.
Transformação
Uma empresa que está na dianteira desse movimento é a plataforma impactMarket, startup de empreendedorismo social que já liderou a implementação de criptomoedas em comunidades em Uganda, nas Filipinas, no Peru, no Quênia, na Índia e em Burkina Faso. Em todos esses países a tecnologia é a mesma: a Celo Dollars, ou cUSD, stablecoin lastreada no dólar americano. Mais estabilidade, menos variações.
O impactMarket é uma iniciativa com foco na distribuição da Renda Básica de Cidadania (UBI, na sigla em inglês), via contratos inteligentes, atendendo, atualmente, 117 comunidades no mundo. Só no Brasil são quase 70 que usam as moedas digitais no dia a dia, vencendo a desbancarização.
“Na maioria das localidades em que estamos não é possível enviar dinheiro sem o uso das criptomoedas”, diz o CEO da startup, Marco Barbosa. Segundo ele, “é uma libertação. A falta de acesso aos serviços financeiros é um dos principais entraves para muitos saírem da pobreza”.
O executivo conta que as transformações conseguidas com as moedas digitais são evidentes. “As crianças vão à escola, as pessoas conseguem ter dinheiro para começar um negócio, mulheres, muitas que passaram por situação de abusos, conseguem ter a própria renda”, diz.
O futuro, de acordo com os especialistas, é um só: as criptomoedas vão estar no centro do empoderamento econômico dos que vivem à margem da sociedade. “Estamos vendo histórias bacanas na África e na Venezuela, mas acredito que seja uma tecnologia para ir além”, diz Belloc. “Sou otimista em relação à ideia de que esses ativos digitais podem mudar paradigmas sociais”.