O que o reajuste da celulose da Suzano diz sobre a demanda chinesa

Aumento de US$ 50/tonelada reflete condições de mercado mais fortes do que o esperado na China, segundo analistas

Suzano tem conseguido aplicar sucessivos reajustes no preço da celulose no mercado asiático, sinalizando demanda aquecida da China, seu principal cliente
13 de Janeiro, 2022 | 03:26 PM

São Paulo — A produtora de papel e celulose Suzano (SUZB3) anunciou um aumento de US$ 50/tonelada nos preços da fibra curta na Ásia para pedidos de fevereiro, indicando um aquecimento da demanda chinesa por matéria-prima de embalagens, na esteira do avanço do e-commerce em um contexto de retorno das restrições em vários países do mundo devido à multiplicação da ômicron e da influenza. O reajuste superou expectativas dos analistas Thiago Lofiego (Bradesco BBI) e José Cataldo (Ágora Investimentos), que estimavam um aumento de US$ 20 a US$ 30/tonelada em fevereiro e esperavam o anúncio de preços apenas na última semana do mês.

“Ambos os fatores apontam para condições de mercado mais fortes do que o esperado na China. De fato, a dinâmica oferta & demanda de celulose no início de 2022 é saudável, pois a combinação de muitas paradas para manutenção na América Latina (reduzindo cerca de 250 mil toneladas de produção de celulose de fibra curta) e interrupções contínuas no fornecimento (greves na Finlândia, gargalos logísticos) devem ajudar a manter o fornecimento mais apertado, enquanto a demanda ainda está saudável na Europa e melhorando na China”, escreveu a dupla de analistas em nota, considerando a Suzano como principal escolha no setor de papel e celulose.

Veja mais: Suzano alavanca produção de papel cartão com salto da demanda

Este é o terceiro aumento de preço anunciado pela Suzano recentemente na região, lembram os analistas. A companhia implementou um aumento de preço de US$ 20/tonelada no início de dezembro, seguido por outro de US$ 30/tonelada em janeiro).

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Os sucessivos reajustes motivaram a ação da Suzano ser um das apostas de analistas de investimento. Em sua carteira de recomendação para janeiro, a Toro Investimentos tinha apontado o papel da companhia. “Detendo posição de destaque entre as maiores produtoras de celulose e integradas de papel do mundo, a Suzano se beneficia da elevada demanda mundial por seus produtos. Acreditamos que os preços do papel e da celulose tendem a ser impulsionados pelo crescimento da demanda por embalagens, em razão da expansão do e-commerce, e por papéis sanitários, em consequência do aumento da preocupação com questões relacionadas à higiene. Analisando os preços das ações da companhia, após sofrer um recuo abaixo dos R$ 50,00 já identificamos uma retomada do movimento comprador, o que contribui com nossa tese de compra para o mês de janeiro”, justificou Rafael Panonko, analista chefe da Toro Investimentos.

O perfil exportador da companhia favorece suas receitas diante das expectativas de aumento do dólar em relação ao real neste ano de disputa presidencial e de medição de riscos políticos com expectativas de mudança de normas regulatórias em diversos setores e de rumos de política econômica. O resultado do quarto trimestre de 2021 tem divulgação marcada para o próximo dia 9 de fevereiro, depois do fechamento da Bolsa, segundo o site de relações com investidores da Suzano.

No resultado do terceiro trimestre passado, a companhia havia enfrentado uma dinâmica mais desafiadora do seu principal mercado, o chinês, mas conseguiu manter a rentabilidade do segmento ao melhor explorar mercados periféricos e que apresentaram melhor dinâmica, como o norte-americano e o europeu, bem como o spread entre as fibras, segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. Em relatório, ele avaliou que o setor de papel estava consolidando sua retomada, e a Suzano conseguiu, novamente, reduzir sua alavancagem em dólares.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.