Célula T desencadeada por resfriado comum protege contra covid

Pesquisadores viram níveis mais altos de células protetoras contra resfriados em pessoas que não tiveram covid

Avanço científico na compreensão do vírus
Por Tim Loh - John Lauerman
10 de Janeiro, 2022 | 11:31 AM

Bloomberg — Estudo demonstra que altos níveis de células protetoras do sistema imunológico que combatem alguns resfriados comuns também tornaram as pessoas menos propensas a contrair a covid-19.

Os pesquisadores encontraram níveis mais altos de células T contra certos resfriados em pessoas que não desenvolveram covid enquanto conviviam com alguém que tinha a doença, segundo um estudo divulgado nesta segunda-feira (10) pelo Imperial College London, do Reino Unido. As doenças anteriores foram causadas por outros coronavírus relacionados ao SARS-CoV-2.

As descobertas, publicadas na revista Nature Communications, fornecem mais evidências dos efeitos protetores das células T, um braço do sistema imunológico que está ganhando atenção conforme a pandemia chega ao seu terceiro ano e novas variantes como a ômicron conseguem driblar a proteção da vacina.

“Ser exposto ao vírus SARS-CoV-2 nem sempre resulta em infecção, e estamos ansiosos para entender o porquê”, disse Rhia Kundu, principal autora do estudo e pesquisadora do Instituto Nacional do Coração e Pulmão do Imperial College. “Descobrimos que altos níveis de células T pré-existentes, criadas pelo corpo quando infectadas com outros coronavírus humanos, como o resfriado comum, podem ter efeito de proteção contra covid”.

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Os cientistas do Reino Unido analisaram amostras de sangue de 52 pessoas que esteavam em contato próximo com alguém que testou positivo para covid, das quais metade não foi infectada. Suas conclusões demonstram pela primeira vez o papel protetor das células T induzidas por outros coronavírus, segundo eles.

Em comparação com os anticorpos, as células T tendem a sobreviver por mais tempo no corpo e podem matar as células infectadas, prevenindo doenças graves. Elas também tendem a atacar uma gama mais ampla de patógenos relacionados do que anticorpos, o que permite um maior grau de proteção cruzada entre diferentes vírus ou cepas, disse Peter English, ex-presidente do comitê de saúde pública da Associação Médica Britânica, em comentários publicados pela o Science Media Center do Reino Unido.

Vacina Universal

Os anticorpos produzidos pelas vacinas contra covid bloqueiam a proteína spike, que o vírus usa para entrar nas células. Essas vacinas tendem a perder eficácia quando a proteína sofre mutações significativas, como aconteceu na variante ômicron.

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Mas as células T, que são produzidas pelo organismo em resposta a outros coronavírus, têm como alvo as proteínas internas do SARS-CoV-2, segundo os cientistas. Uma abordagem semelhante poderia ajudar no desenvolvimento de uma vacina universal que poderia prevenir a infecção de variantes atuais e futuras, disseram os autores.

“As proteínas internas direcionadas pelas células T protetoras que identificamos sofrem muito menos mutação”, afirmou Kundu do Imperial College. “Novas vacinas que incluem essas proteínas internas conservadas, portanto, induziriam respostas de células T amplamente protetoras que deveriam proteger contra variantes atuais e futuras”.

Existem ressalvas aos resultados. O estudo foi pequeno e 88% dos participantes eram de etnia branca europeia, de acordo com o comunicado. A melhor maneira das pessoas se protegerem contra a covid ainda é serem totalmente vacinadas, incluindo uma dose de reforço, disse Kundu.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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