Do Nubank ao Rappi: por que o Brasil é destaque entre unicórnios da América Latina

Apesar de fatores como a alta carga tributária e muita burocracia, Brasil desponta como um alto potencial para o empreendedorismo

A capital financeira do Brasil e também um dos ecossistemas de empreendedorismo mais dinâmicos da região
21 de Dezembro, 2021 | 01:11 PM

Bogotá — Enquanto David Vélez, fundador e CEO do Nubank encontrou terreno fértil para empreender no mundo das fintechs no Brasil, plataformas colombianas como Rappi ou Merqueo, ambas de compras online e delivery, encontraram também um mercado promissor para expandir seus negócios.

O Brasil é o país de origem de vários dos maiores unicórnios da América Latina como o próprio Nubank, C6 Bank, Nuvemshop, Wildlife Studios e Loft, e possui um dos ecossistemas de empreendedorismo mais dinâmicos do continente - sendo a cidade de São Paulo um de seus principais cenários.

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O país lidera também o ranking dos países mais ativos da região em fusões e aquisições com 2.222 operações até novembro deste ano (aumento de 51% no período), e com aumento de 145% no capital mobilizado, ou US$ 86.749 milhões.

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De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor, o percentual de pessoas de 18 a 64 anos com startups era de 13,4% no Brasil em 2020, um dos maiores entre os países da América Latina.

O ecossistema empreendedor brasileiro se beneficia por uma economia que figura como a décima segunda maior do mundo, um investimento de capital de risco em 2020 de mais de US$ 5 bilhões e que deve dobrar em 2021, além de ser a quinta economia do mundo com maior penetração de internet e dispositivos móveis.

Além disso, “tem ineficiências estruturais e índices de produtividade estagnados que dão muito espaço para inovação tecnológica”, explicou o acelerador de negócios Wayra, da espanhola Telefónica, em entrevista à Bloomberg Línea.

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O Brasil recebe 68% de todo o financiamento da América Latina, e os salários das principais startups competem fortemente com os das grandes corporações. As pessoas diminuíram o foco em carreiras voltadas para o Estado e entidades corporativas para focar na busca de oportunidades em startups. Essa convergência cultural e financeira permitiu ao Brasil ter 21 unicórnios até o final de 2021″, explica.

Nubank estreou na NYSE no início de dezembrodfd

O Global Startup Ecosystem Report, da Startup Genome and Global Entrepreneurship, destaca que São Paulo é o ecossistema mais vibrante da América Latina, com valor de cerca de US$ 49 bilhões.

Além disso, cita dados da consultoria KPMG para destacar que as startups brasileiras alcançaram o recorde de US$ 2,7 bilhões apenas no segundo trimestre de 2021.

Ainda de acordo com o relatório, “o governo de São Paulo está trabalhando para que o estado se beneficie desse fluxo de investimentos, agilizando processos e melhorando o acesso à internet. Agora é possível criar uma empresa em apenas 5 dias”.

Ainda entre os prós, o relatório destaca que as startups na capital paulista “podem acessar uma série de programas de financiamento público, como o Desenvolve SP, que oferece diversas linhas de crédito com taxas de juros competitivas”.

Já o “Banco do Povo Paulista (BPP) é um programa de microcrédito desenvolvido pelo governo de São Paulo que oferece empréstimos de até US$ 2.000 para pessoas físicas e pequenas empresas a uma taxa de juros de 0,35% ao mês, além de empréstimos de até US$ 4.900 para cooperativas”.

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A diretora executiva da rede de empreendedores da Endeavor, Camila Salamanca, explica à Bloomberg Línea que “definitivamente a principal razão pela qual estas empresas decidem se deslocar para o mercado brasileiro é a dimensão do mercado”, sendo este um país com mais de 212 milhões de habitantes .

“Mas, além disso, as características de sua população e o fato de esse mercado apresentar necessidades muito semelhantes às que os empresários já estão resolvendo na Colômbia, tornam seus negócios no Brasil escalonáveis”, diz.

De acordo com Salamanca, por enquanto nove empresas Endeavor das 55 na Colômbia estão iniciando ou já têm operações no Brasil.

Entre as colombianas que serão lançados no mercado brasileiro, destaque para a Chiper, que lança sua operação no primeiro trimestre de 2022, assim como a Platzi e a Tul, previstas também para o próximo ano. Entre as startups já estabelecidas, destaque para a Acsendo, Addi, Merqueo, Mi Águila, Rappi e Robin Food.

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Já sobre as dificuldades de consolidação de empresas no Brasil, Salamanca diz que “há definitivamente a diferença de idioma e de cultura na hora de fazer negócios”.

“Agora, devemos levar em consideração também que o Brasil deve entrar com desenvolvimentos tecnológicos consolidados, por sua atratividade, há muitos concorrentes de outros países buscando uma fatia do bolo em seus respectivos mercados. Portanto, não é fácil dar esse passo.”

À Bloomberg Línea, a Rappi disse que “o Brasil é um mercado muito interessante para se empreender. A grandeza de sua extensão de território, infraestrutura, número de habitantes e mão de obra, fazem dele um país com alto potencial para o empreendedorismo e não à toa é o maior destino de investimentos estrangeiros na América Latina.”

“Sem dúvida, os três pontos-chave desse mercado são: trabalhar com talentos locais, entender e se adequar às necessidades e particularidades desse mercado, que possui elementos únicos, e ficar de olhos abertos para encontrar oportunidade”, disse a empresa por e-mail. Mas o Brasil não é exatamente um mercado fácil, pois fatores como a alta carga tributária e a burocracia são constantes, além de que, em 2020, o país enfrentou o fechamento de negócios afetando cerca de 10 milhões de empresários, sendo as mulheres um dos grupos mais afetados.

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Enquanto isso, a Wayra, hub de inovação que investe e gera negócios entre startups na América Latina, sinaliza que “as boas perspectivas brasileiras contêm facetas que os empresários devem superar em sua trajetória de crescimento”, entre elas, “alta competição, alta inflação e baixas taxas de crescimento da economia”.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.

Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.