Ronaldo compra o Cruzeiro, clube que o revelou, por R$ 400 milhões

XP, que assessorou clube mineiro, afirma que negócio é “marco histórico do futebol”. Nova lei permite que clubes tornem-se sociedades anônimas

Thiago Maffra, CEO da XP Inc. diz que a compra do Cruzeiro por Ronaldo Fenômeno marca o início de um novo ciclo virtuoso para o futebol brasileiro
18 de Dezembro, 2021 | 04:08 PM

São Paulo — O ex-jogador da Seleção Brasileira de Futebol, Ronaldo Luís Nazário de Lima, de 45 anos, conhecido como “Ronaldo Fenômeno”, fechou um acordo, neste sábado (18), para a compra do centenário time Cruzeiro Esporte Clube, sediado em Belo Horizonte (MG) e um dos principais do Brasil, onde o ex-ataque iniciou sua carreira profissional, em 1993.

O negócio de R$ 400 milhões, referente à aquisição de 90% das ações da Raposa Azul, pode marcar o início de um novo capítulo na história do esporte mais popular do país. Os clubes estão autorizados a se transformar em SAF (Sociedade Anônima de Futebol), após a promulgação da Lei nº 14.193, de 6 de agosto de 2021.

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Feliz demais de ter concluído essa operação. Dizer que tenho muito a retribuir ao Cruzeiro, levar o Cruzeiro onde ele merece estar. Temos muito trabalho pela frente. Peço ao torcedor que se conecte outra vez ao clube, ir ao estádio, porque vamos precisar de muita força e união”, comentou Ronaldo, durante o anúncio do negócio em transmissão ao vivo em suas redes sociais.

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O camisa 9 da seleção pentacampeã de 2002 já é acionista majoritário do Real Valladolid, clube da segunda divisão do futebol espanhol.

O grupo XP atuou como assessor financeiro exclusivo do Cruzeiro na primeira captação de recursos de uma SAF. Em comunicado, a instituição informou que o Cruzeiro firmou o acordo com Ronaldo, por meio da Tara Sports, para investimentos de R$ 400 milhões, ao longo dos próximos anos.

“A transação vislumbra o reequilíbrio financeiro e operacional do departamento de futebol do clube, com um plano de crescimento sustentável de médio e longo prazo. A conclusão da transação está sujeita à finalização de uma série de condições precedentes”, disse a XP.

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Segundo a nova legislação, os clubes brasileiros podem virar empresas dedicadas à pratica do futebol, e assim alavancar a capacidade de captação de recursos, como nos maiores mercados de futebol no mundo.

“Esse é o primeiro negócio de uma nova frente relevante para o mercado de investment banking no Brasil, o país do futebol. Não tenho dúvida de que é transformacional na história do esporte brasileiro. Teremos clubes ainda mais fortes, com capacidade de investimento em nível global. O futebol brasileiro nunca mais será o mesmo. É um ciclo virtuoso que se inicia e estamos prontos para ajudar todos os nossos clientes nessa jornada”, comentou José Berenguer, CEO do Banco XP, em nota.

Ontem, conselheiros e associados do time mineiro votaram e aprovaram mudança no estatuto, permitindo a venda de até 90% das ações da SAF. O mercado de criptoativos é um dos focos do clube. A partir da próxima segunda-feira (20), os torcedores vão poder investir no time com o lançamento do fan token CRZ, um nicho que começou a ser explorado pela Seleção Brasileira de Futebol em agosto.

O presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, também comentou o acordo. “Ronaldo será nosso acionista majoritário da Cruzeiro SAF. Obrigado! Estamos certos de que é um projeto que será pioneiro para o futebol brasileiro”,disse.

Novo nicho

Para a XP, a compra do Cruzeiro por Ronaldo deve incentivar novos negócios do tipo. “A XP, na vanguarda do mercado financeiro, busca ajudar a indústria do futebol brasileiro em sua profissionalização, capitalização e abertura de novas oportunidades de crescimento para os clubes de futebol no país. Dessa forma, a empresa acredita que o futebol brasileiro atrairá ainda mais o interesse de grandes investidores nacionais e internacionais”, disse, em nota.

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Pedro Mesquita, sócio e head da área de investment banking da XP, participou do anúncio do acordo e destacou que ter uma equipe especializada em esportes foi fator fundamental para o sucesso do negócio em tempo recorde. “Somos hoje o único investment banking do Brasil com uma área totalmente dedicada ao esporte, com profissionais altamente qualificados e especializados. A nossa meta é assessorar os maiores clubes brasileiros na construção do melhor campeonato de futebol do mundo nos próximos anos. Afinal, somos os únicos pentacampeões e temos os melhores jogadores do planeta”, afirmou.

A aposta da XP nesse novo segmento ocorre em um momento em que o grupo busca reforçar sua presença em outras frentes de crescimento, em meio à volatilidade elevada do mercado de renda variável, que está na origem de sua história como corretora de valores. Na última quarta-feira (15), durante o primeiro Investor Day da XP, Guilherme Benchimol (fundador e presidente executivo do conselho de admistração da XP Inc.), Thiago Maffra (CEO da XP Inc.), José Berenguer (CEO do Banco XP), Bruno Constantino (CFO da XP Inc.) e Guilherme Sant’Anna (diretor da XP Inc.) discutiram as prioridades estratégicas do grupo para os próximos anos. Eles citaram que oferecer produtos de inovação e estreitar relacionamento com empresas, prospectando negócios fora do eixo Rio-São Paulo, estão em seus planos.

Já o fundador e analista da casa de research Suno, Tiago Reis, considerou o negócio como um marco para uma nova fase do futebol brasileiro. “Os clubes que se profissionalizarem vão ter resultados melhores no futuro. Fico feliz do mercado de capitais ser uma ponte para as soluções dos desafios do nosso futebol. Os clubes brasileiros só serão competitivos em escala global novamente, quando tivermos o mesmo nível de gestão e governança que os clubes lá fora”, comentou o analista, em sua conta no Instagram.

A Série A da edição 2021 do Brasileirão, principal campeonato de futebol profissional do Brasil, foi disputada por 20 clubes em dois turnos. O país tem a seleção mais bem-sucedida da história do futebol mundial, sendo a recordista em conquistas em Copas do Mundo, com cinco títulos invictos (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002) e quatro títulos da Copa das Confederações FIFA (1997, 2005, 2009 e 2013).

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.