Bloomberg — A Apple colocou na mesa um novo motivo para se preocupar com a situação do consumidor.
A empresa está informando aos fornecedores sobre a queda na demanda por seu iPhone 13. O alerta sugere que os consumidores saciaram seu apetite por produtos novos ou estão desconfortáveis em fazer compras extravagantes, em um mundo de preços em alta e uma pandemia que se recusa a ir embora. Some-se a tudo isso a nova variante ômicron, e temos uma conjunção de fatores que estão deixando os compradores ligeiramente desorientados.
Seja qual for o motivo, em um momento em que as economias enfrentam a nova ameaça do vírus, a cautela do consumidor enfraquece o apoio dos gastos com bens - uma reversão do início da pandemia.
“Vimos níveis absolutamente extraordinários de demanda do consumidor por bens”, escreveu o economista-chefe do UBS Group, Paul Donovan, em uma nota aos clientes. “O que estamos começando a ver é que os níveis extraordinários de demanda estão caindo.”
Nos Estados Unidos, uma medida importante de preços para os consumidores disparou para 6,2%, o maior desde 1990. Em todo o grupo das principais economias da OCDE, os preços estão subindo no ritmo mais rápido de quase um quarto de século. Para os consumidores do Reino Unido, há uma pressão adicional devido ao aumento de impostos.
Isso está afetando o humor das famílias e sua disposição de pagar por produtos, incluindo o novo iPhone, que pode custar até US$ 999. Embora os preços altos não tenham afetado as vendas nas lojas dos EUA em outubro, percebe-se agora um certo desânimo no sentimento do consumidor.
Do outro lado do Atlântico, na zona do euro há sinais de que esse sentimento também esmoreceu depois de ter atingido picos nos últimos meses, enquanto os britânicos estão mais preocupados com suas finanças pessoais.
Na China, as vendas do varejo voltaram a ficar abaixo das taxas de crescimento pré-pandemia, à medida que a desaceleração do setor imobiliário e a cautela relacionada ao vírus pesam sobre o sentimento. Os preços ao consumidor também estão começando a subir, enfraquecendo o poder de compra.
Dados recentes mostram que os americanos gastaram menos antes da Black Friday. Na semana entre o Dia de Ação de Graças e a Cyber Monday, as vendas online caíram 1,4% em relação ao ano anterior, afirma o Adobe Analytics.
Ainda assim, um apoio fundamental para as famílias permanece positivo. O mercado de trabalho dos EUA parece forte e o crescimento do emprego está projetado para ultrapassar meio milhão pelo segundo mês consecutivo em novembro. As taxas de desemprego na região do euro e no Reino Unido estão voltando para os níveis pré-pandêmicos.
Qualquer queda na demanda significa dor de cabeça para as empresas, que já estão atormentadas por gargalos logísticos e lutando para manter as prateleiras estocadas para os compradores de final de ano.
Esses problemas de abastecimento também podem estar impulsionando parcialmente as tendências de gastos, à medida que os consumidores respondem às manchetes e decidem evitar o estresse crescente de tentar garantir o mais novo produto indispensável.
O outro fator é se o novo aparelho vale a pena, visto que a escala do upgrade é considerada modesta.
“Há ventos contrários”, disse Gregory Daco, economista-chefe da Oxford Economics. “As pessoas não estão gastando livremente. Elas estão mais receosas sobre a forma que estão consumindo e com o que gastam. E isso reflete as restrições de oferta e as pressões inflacionárias. "
Qualquer esfriamento do entusiasmo do consumidor poderia ajudar a aliviar as pressões sobre os preços e diminuir um pouco a folga dos bancos centrais.
“Pode ser que uma desaceleração na demanda de consumo dê à economia global algum espaço para respirar”, disse Esther Baroudy, diretora-gerente de crescimento e ações principais, da State Street Global Advisors.
Os padrões de gastos mais recentes podem ser mais um passo na transição de consumo de bens para serviços, como hotéis e restaurantes, que foram reabertos desde o fim dos lockdowns. A empresa de serviços de informação da zona do euro, a IHS Markit, publicou dados na sexta-feira (3) mostrando um aumento em novembro, embora tenha sido marcadamente mais fraco do que as taxas de crescimento observadas no segundo e terceiro trimestres.
“Haverá uma desaceleração temporária e um certo freio no crescimento, mas a ideia é que avancemos em direção a uma normalização das atividades”, disse Michel Martinez, economista do Société Générale. “Pode haver uma ligeira queda nos produtos de tecnologia, mas haverá uma recuperação nas vendas de automóveis e no consumo de serviços.”
Com a colaboração de Reade Pickert, Nate Lanxon e Malcolm Scott.
Preços dos alimentos atingem maior patamar em uma década
EUA: Mercado de trabalho desacelera em novembro e tem menor expansão no ano
© 2021 Bloomberg L.P.