Depois de determinar o fim do pagamento com cartões de crédito Visa, Amazon também passa a cobrar taxa por transações na Austrália e em Singapura
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Bloomberg Opinion — A Amazon está mostrando suas garras. A gigante do comércio eletrônico começou uma espécie de briga com a Visa a respeito dos custos de uso de seus cartões de crédito, mas não enfrentará o grupo diretamente. A empresa preferiu dar pequenas alfinetadas e não explicar o motivo. Recentemente, a Amazon disse aos usuários de cartões de crédito da Visa na Austrália e em Singapura que será cobrada uma tarifa de 0,5% em transações nos sites desses países.

A última farpa foi que a gigante de e-commerce não vai mais aceitar cartões de crédito da Visa no Reino Unido a partir do ano que vem. Cartões de débito (cujo pagamento é feito com fundos diretamente da conta bancária) da Visa e produtos da MasterCard não serão afetados.

O que os usuários no Reino Unido, Austrália e Singapura parecem ter em comum é que são relativamente insignificantes para os negócios de qualquer uma dessas empresas. A Amazon é pequena em Singapura, geralmente ficando atrás de duas outras plataformas de comércio eletrônico mais populares no país, ao passo que a Austrália é um dos mercados que crescem mais rapidamente no mundo em termos de formas alternativas de pagamento.

No Reino Unido, os cartões de crédito da Visa representam a menor parcela de todas as compras com cartão. Nenhum dos lados confirmou os números, mas dados gerais do setor sugerem que os cartões de crédito da Visa representam menos de 7% de todas as compras com cartão no Reino Unido. Na Amazon, isso significa que o valor arrecadado foi menos de US$1,8 bilhão dos US$ 26,5 bilhões em faturamento líquido da empresa no Reino Unido em 2020.

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A Amazon não forneceu detalhes sobre seus problemas com a Visa, dizendo apenas que a operadora de cartões foi mais intransigente que outros serviços de pagamento nas negociações para reduzir custos ao longo do tempo. “A Visa não está tentando cumprir o mesmo objetivo”, disse. A Amazon usa a MasterCard em seu próprio cartão de crédito no Reino Unido, mas disse que a relação não tinha nada a ver com a briga. Nos Estados Unidos, a bandeira de seu cartão é Visa.

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A Visa já passou por desavenças semelhantes, mas mais intensas. Nos EUA, tanto o Walmart quanto a Kroger – duas grandes varejistas – já tiveram conflitos com a Visa recentemente a respeito de suas cobranças, mas o litígio foi resolvido em particular.

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Isso se deve ao fato de que a tecnologia de pagamentos está mudando rapidamente. Tanto a Visa quanto a MasterCard enfrentam uma enxurrada de ameaças de formas de pagamento e fintechs mais novas que são mais rápidas e mais baratas que qualquer tipo de cartão de débito ou crédito.

A MasterCard e a Visa operam os sistemas por meio dos quais os pagamentos são confirmados e liquidados. Ambas criaram e mantiveram um caminho operacional para o dinheiro por anos; os bancos e processadoras de pagamentos são pontos de parada nesse caminho – as processadoras movimentam o dinheiro e os bancos o aceitam e liberam.

No entanto, os pagamentos estão migrando para as transações diretas, que cortam esse caminho. O maior avanço está nos aplicativos “compre agora, pague depois” como o Affirm ou o Klarna, que administram as próprias tecnologias de pagamentos diretos. Alguns ainda tentam normalizar o pagamento com criptomoedas.

A Amazon estabeleceu sua própria operação “compre agora, pague depois” em alguns países e busca aumentar as opções de pagamento disponíveis para os consumidores em geral, principalmente aquelas que sejam mais rápidas e baratas. Parece até que ela está utilizando a concorrência acirrada para retirar as concessões das antigas operadoras.

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Ao ser o caminho, as operadoras não lucram. Não é possível cobrar por algo desnecessário. Por isso, tanto a Visa quanto a MasterCard buscam desesperadamente diversificar suas ofertas, estabelecendo as próprias tecnologias “compre agora, pague depois” e adotando as criptomoedas pouco a pouco – como na recente parceria da MasterCard com a Bakkt, exchange que converte criptomoedas em moedas comuns para pagamentos corriqueiros.

As operadoras acreditam que o caminho que estabeleceram ainda será útil para enviar mensagens seguras e para confirmar as instruções de pagamento, mesmo não sendo imprescindíveis para de fato liquidar o pagamento (ou mesmo confirmar que o dinheiro chegou no destino final).

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Seja lá o que a Amazon estiver tramando, os desdobramentos são claros: as operadoras não serão mais tão usadas à medida que os pagamentos on-line e digitais crescerem. Os embates com a Visa podem ser apenas superficiais, mas os pagamentos tradicionais com cartão pode acabar sucumbindo.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Paul J. Davies é colunista da Bloomberg Opinion, cobrindo bancos e finanças. Trabalhou anteriormente para o Wall Street Journal e o Financial Times.

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