Fundos aproveitam ‘sell-off’ no Brasil; veja como investem Verde, Adam, SPX e Bahia

Ibovespa negocia a 8,3 vezes os lucros estimados para os próximos 12 meses, 30% abaixo da média histórica de 10 anos, de 11,8 vezes, de acordo com dados da Bloomberg

Luis Stuhlberger, gestor da Verde Asset
Por Vinícius Andrade e Caroline Aragaki
18 de Outubro, 2021 | 07:03 PM

Bloomberg — Alguns dos maiores gestores de fundos multimercados independentes do país estão aproveitando o pior sell-off em mais de um ano para aumentar sua exposição às ações brasileiras.

Os valuations estão chegando a níveis mais compatíveis com um cenário negativo de Brasil, escreveu a Bahia Asset Management, com sede no Rio de Janeiro, em carta mensal a clientes. A Verde Asset Management disse que está aumentando “seletivamente e com disciplina” sua aposta em bolsa, uma vez que o mercado parece precificar um cenário “bastante inóspito” e uma porção de companhias negocia a valores vistos como interessantes.

O Ibovespa negocia a 8,3 vezes os lucros estimados para os próximos 12 meses, cerca de 30% abaixo da média histórica de 10 anos, de 11,8 vezes, de acordo com dados da Bloomberg.

O índice acumula queda de 3,7% desde o início do ano, um desempenho inferior ao do Mexbol, do México, e do Colcap, da Colômbia, em meio a preocupações com o quadro fiscal, expectativa de crescimento menor e juros mais altos.

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Recentemente, estrategistas do JPMorgan disseram que o Brasil era a única recomendação ‘overweight’ (com exposição acima da média) do banco na América Latina, em razão dos múltiplos “muito baratos” e um cenário global pró-risco. Um dos fundos da XP Asset reduziu posições vendidas em ações locais, enquanto a Grimper Capital também aumentou a exposição ao país, favorecendo ações cíclicas, como a siderúrgica Gerdau e a produtora de petróleo PetroRio.

A visão de que a maior parte das más notícias pode já estar no preço ajudou o Ibovespa a interromper uma sequência de duas quedas semanais seguidas na semana passada, enquanto o fluxo estrangeiro também melhorou. Investidores estrangeiros ingressaram com R$ 9,6 bilhões em ações na B3 no acumulado do mês até o último dia 13, excluindo entradas via ofertas de ações.

Ainda assim, nem todos os gestores de ativos estão ficando mais otimistas. A Ibiuna Investimentos reconheceu que existem “prêmios de risco relevantes” nos ativos locais, mas disse que o potencial retorno ajustado à volatilidade não parece uma boa decisão de investimento neste momento.

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Veja um resumo do que alguns dos principais fundos multimercados escreveram em suas cartas de setembro:

Adam Capital

Fundos seguem alocados em Petrobras e Vale, mas possuem posição direcional neutra na bolsa brasileira, com a visão de que a taxa de juros contracionista pesará no crescimento da atividade e no desempenho da bolsa. Antecipação por parte do BC da oferta de dólares para suprir a demanda de fim de ano das instituições financeiras e política monetária mais apertada “trazem a real possibilidade de termos uma apreciação da nossa moeda”.

Bahia Asset Management

Fundos multimercados administrados pela Bahia Asset continuaram a reduzir a exposição às ações brasileiras no mês passado. Fundo acompanha trajetória da inflação, debate sobre precatórios, crise hídrica, discussões sobre preços de combustíveis e cenário eleitoral.

Ibiuna Investimentos

Ventos externos menos favoráveis só adicionam a preocupações com o cenário local, justificando postura cautelosa em relação ao Brasil. Apesar dos prêmios de risco “relevantes”, o retorno potencial ajustado à volatilidade dos ativos brasileiros não parece uma boa aposta estratégica, disse o fundo.

Kapitalo Investimentos

Brasil provavelmente sofrerá impactos da piora do crescimento chinês e de uma relacionada piora dos termos de troca. Indefinição sobre precatórios e novo programa social do governo, além de quadro eleitoral, exarcebam os riscos fiscais. Fundo reduziu posições compradas e de valor relativo em ações brasileiras e ações globais.

Legacy Capital

Inflação elevada e com viés de alta, em meio a problemas da cadeia de abastecimento global, tornam atrativa a compra de NTN-Bs curtas e o fundo tem procurado aumentar a exposição a essa estratégia. Banco Central deve subir a Selic até patamar de 9% em janeiro dado que a inflação segue surpreendendo desfavoravelmente. O fundo mantém posição duplamente vendida em bolsa e dólar.

SPX Capital

Bancos centrais globais estão prestes a reverterem suas políticas extraordinárias, adotando políticas de enxugamento de liquidez. Inflação pode se mostrar mais persistente e os riscos aumentam por todos os mercados. Fundo segue comprado em inflação implícita e posicionados em desinclinação de curva na parte curta no Brasil, dada a postura mais incisiva do BC.

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Verde Asset Management

O mercado acionário brasileiro parece precificar um cenário “bastante inóspito”, com uma série de boas empresas negociando a valores bastante interessantes. Fundo Verde tem aumentado posição em ações Brasil “seletivamente e com disciplina”. As curvas de juros e o Banco Central estão muito focados na inflação corrente, ignorando uma provável desaceleração econômica em curso.

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