Nobel da Paz: Jornalistas das Filipinas e Rússia ganham prêmio por fomentar liberdade de expressão

Segundo academia sueca, os dois são representantes de todos os profissionais da imprensa que defendem o ideal em um “mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”

Jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov ganham prêmio por fomentar liberdade de expressão
Por Lars Erik Taraldsen e Stephen Treloar
08 de Outubro, 2021 | 07:55 AM

Bloomberg — Maria Ressa das Filipinas e Dmitry Muratov da Rússia ganharam o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho para salvaguardar a liberdade de expressão.

Eles estão “recebendo o Prêmio da Paz por sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia”, disse o Comitê Norueguês do Nobel, com sede em Oslo, em um comunicado na sexta-feira. “Ao mesmo tempo, são representantes de todos os jornalistas que defendem esse ideal em um mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”.

Os dois dividirão o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão), o primeiro concedido ao jornalismo desde que o repórter alemão Carl von Ossietzky venceu em 1935.

Ressa foi reconhecida internacionalmente por investigações de supostos abusos da polícia nos esforços antidrogas do presidente Rodrigo Duterte. Em junho de 2020, ela foi condenada sob acusação de difamação cibernética por um empresário que alega ter sido difamado por uma reportagem sobre suas supostas ligações com o contrabando de drogas.

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Defensores do jornalismo dizem que o caso faz parte de uma campanha de intimidação oficial. O porta-voz de Duterte na época negou o papel do presidente no caso, chamando a condenação como resultado de um “mau jornalismo” e “má advocacia”. Libertada sob fiança, Ressa apelou da decisão, lutou contra um caso de evasão fiscal e também contra uma queixa de reguladores de que o apoio financeiro que seu veículo de comunicação Rappler recebia violava a proibição de propriedade estrangeira de mídia.

“O comitê do prêmio Nobel da Paz percebeu que um mundo sem fatos significa um mundo sem verdade e confiança”, disse ela no Youtube após o anúncio. “Se você não tem nenhuma dessas coisas, você certamente não pode vencer o coronavírus, você não pode vencer as mudanças climáticas.”

Ressa foi incluída no ranking dos 50 mais influentes da Bloomberg em 2020 e estava em listas semelhantes da Time Magazine.

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Já Muratov é cofundador e editor-chefe do Novaya Gazeta, um jornal investigativo apoiado pelo ex-líder soviético Mikhail Gorbachev que há muito tempo é fonte de reportagens contundentes sobre a Rússia no governo de Putin. Ele pagou um preço alto, com pelo menos quatro de seus jornalistas assassinados, incluindo Anna Politkovskaya, que foi morta a tiros em 7 de outubro de 2006, aniversário de Putin.

Ele negou qualquer papel do Estado no assassinato de Politkovskaya, uma crítica declarada de Putin e repórter investigativa que fez a crônica dos abusos dos direitos humanos na região russa da Chechênia. As autoridades nunca identificaram a pessoa que ordenou o assassinato e a regra de 15 anos da Rússia para processar o responsável pelo caso expirou na quinta-feira.

Novaya Gazeta “é o jornal mais independente da Rússia hoje, com uma atitude fundamentalmente crítica em relação ao poder”, disse o comitê.

O porta-voz do presidente russo Vladimir Putin disse que o Kremlin parabeniza Muratov por ganhar o Prêmio Nobel da Paz. “Ele está comprometido com seus ideais, ele é talentoso, ele é corajoso”, disse Dmitry Peskov a repórteres em uma teleconferência. “Claro, esta é uma avaliação importante, nós o parabenizamos.”

O vencedor do ano passado do Nobel da Paz foi o Programa Mundial de Alimentos, sendo que os premiados anteriores nessa categoria incluem personalidades como a Madre Teresa, Nelson Mandela, Barack Obama, Martin Luther King e a União Europeia.

Os prêmios anuais para realizações em física, química, medicina, paz e literatura foram estabelecidos no testamento de Alfred Nobel, o inventor sueco da dinamite, que morreu em 1896. O prêmio em ciências econômicas foi adicionado pelo banco central da Suécia em 1968.

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--Com a assistência de Matthew Campbell, Tony Halpin, Siegfrid Alegado, Henry Meyer e Niluksi Koswanage.

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