Mercado avalia ativos mais expostos à inflação das commodities

Papéis de segmentos cíclicos e ativos de países exportadores de energia são vistos como possíveis refúgios, de acordo com investidores

Investidores precisam equilibrar o risco inflacionário para títulos e moedas com os benefícios
Por Ishika Mookerjee
05 de Outubro, 2021 | 10:09 AM

Bloomberg — A alta recorde das commodities aumenta o receio de investidores de que a inflação possa corroer o que tem sido um período de ganhos para muitos mercados.

Mercados acionários globais voltaram a operar sob pressão na terça-feira, enquanto um indicador de commodities da Bloomberg subiu para uma máxima, reforçando temores de que o aumento constante dos preços possa atingir as margens corporativas, a demanda final e as políticas monetárias. Ações do setor de tecnologia e mercados emergentes asiáticos estão entre os que mais correm risco, enquanto papéis de segmentos cíclicos e ativos de países exportadores de energia são vistos como possíveis refúgios, de acordo com investidores.

Puxado pela crise de energia e acompanhado por rendimentos crescentes dos títulos, o rali das commodities também traz o espectro da estagflação para o debate, de modo a identificar a transitoriedade ou não das pressões inflacionárias. Com isso, investidores repensam sua convicção sobre as apostas de reflação e avaliam como vários ativos responderiam a um ambiente de preços mais altos e crescimento estagnado.

“Uma carteira de estagflação deve ser overweight (acima da média) em commodities, neutra em ações e underweight (abaixo da média) em títulos”, escreveram estrategistas do JPMorgan Chase, como Marko Kolanovic, em relatório a clientes na segunda-feira. “Por outro lado, o portfólio de inflação deve ser overweight em commodities e ações e mais agressivamente underweight em títulos.”

PUBLICIDADE

Veja mais: Outubro indica cenário mais favorável para ativos de risco

O índice MSCI AC World de ações globais permanece em baixa no acumulado do mês, depois do pior desempenho desde o início de 2020 em setembro. O rendimento, ou yield, de um indicador de títulos públicos globais da Bloomberg aumentou quase 20 pontos-base em dois meses, para 0,80%.

Ações sob pressão

Investidores de renda variável conseguiram minimizar a preocupação com o avanço da inflação no início do ano, em parte porque as estimativas de lucro ainda estavam subindo. Mas o receio de que preços mais altos afetem as margens parecem atingir as expectativas de ganhos.

PUBLICIDADE

Ações de tecnologia com preços elevados podem ser as primeiras na linha de fogo, já que investidores avaliam que uma inflação mais alta se traduzirá em yields mais elevados, colocando em dúvida os valores das ações do setor.

Oportunidades emergentes

Nos mercados emergentes, investidores precisam equilibrar o risco inflacionário para títulos e moedas com os benefícios que muitos países em desenvolvimento desfrutam com os preços mais altos das commodities, especialmente exportadores de energia.

“Muitos mercados emergentes, especialmente na América Latina e EMEA (Europa, Oriente Médio e África), são exportadores líquidos de petróleo, portanto, preços mais altos da energia os beneficiarão”, disse Brendan McKenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo, em Nova York. “Os mais prejudicados, na verdade, serão países emergentes da Ásia. A maioria dos emergentes da Ásia são importadores de petróleo, e a energia também constitui uma grande parte da cesta de inflação.”

Ainda assim, muitos mercados de títulos em moeda local já operavam com a visão de que a pressão inflacionária seria sustentada, de acordo com Mark Baker, chefe de renda fixa em Hong Kong na abrdn. Na América Latina, várias centenas de pontos-base de aumento dos juros foram precificadas, tornando o risco/recompensa atraente em países como Brasil, Colômbia e México, acrescentou.

Evitar o ouro

E o ouro não deve ser visto como resgate. Para Mary Nicola, gestora da PineBridge Investments, o metal precioso não funcionará como proteção contra a inflação no ambiente atual.

“O ouro se sai melhor em um ambiente onde há aumento da oferta monetária”, disse Nicola à Bloomberg Television. “Se olharmos de uma perspectiva geral, não vemos um superciclo no espaço das commodities, especialmente quando observamos um crescimento mais lento vindo da China.”

Veja mais bloomberg.com

PUBLICIDADE

Leia também

Bloomberg Línea lança lista com os 500 mais influentes da América Latina