PIB decepciona e economistas revisam estimativas para baixo

Crise hídrica, incertezas fiscais e ruído político adicionam riscos negativos ao crescimento no próximo ano, segundo especialista

PIB reflete o quanto da recuperação mais forte do início do ano foi condicionada ao auxílio emergencial
Por Maria Eloisa Capurro
01 de Setembro, 2021 | 01:27 PM

Bloomberg — A economia brasileira contraiu inesperadamente no segundo trimestre, levando os economistas a revisarem para baixo suas estimativas de crescimento para 2021 à medida que ameaças fiscais e uma crise hídrica se aproximam.

O produto interno bruto (PIB) diminuiu 0,1% em relação ao trimestre anterior, em comparação com uma estimativa de crescimento de 0,2% em uma pesquisa da Bloomberg. Apenas três dos 39 economistas pesquisados esperavam um número negativo. Em relação ao ano anterior, a economia cresceu 12,4%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (1).

A economia está desacelerando após uma recuperação mais forte no início de 2021dfd

À medida que a campanha de vacinação avança com mais de 60% da população parcialmente imunizada, a maioria das empresas retomou as atividades e os preços dos serviços estão aumentando. No entanto, o mercado de trabalho informal continua lento e a confiança do consumidor não se recuperará tão rápido quanto o esperado.

Os investimentos caíram 3,6% no trimestre, enquanto a agropecuária recuou 2,8% e a indústria, 0,2%. Por outro lado, os serviços cresceram 0,7% e o consumo das famílias ficou estável.

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O que diz a Bloomberg Economics

A economia brasileira perdeu fôlego no segundo trimestre, apesar de alguns estímulos de política residuais e de um avanço significativo nas vacinações. A pequena queda ilustra os desafios que virão à medida que a política monetária se tornar mais restritiva. Uma crise hídrica, incertezas fiscais e ruído político adicionam riscos negativos ao crescimento no próximo ano. Projetamos crescimento de 5,1% para 2021 e 2% para 2022.

Adriana Dupita, economista brasileira

Os números do PIB refletem quanto da recuperação mais forte observada no início do ano foi condicionada ao auxílio emergencial do governo durante a pandemia, de acordo com Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs Group.

“Esta é uma impressão decepcionante, que mostra que o crescimento subjacente no Brasil ainda é muito fraco”, disse ele.

Ramos reduziu sua previsão de crescimento para este ano de 5,4% para 4,9%, assumindo que não haverá grandes limitações no fornecimento de energia e uma pandemia amplamente controlada no futuro. O Haitong Investment Bank também disse que está revisando para baixo suas estimativas de PIB para 2021 e 2022.

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Taxas mais altas, crise hídrica

A agressiva campanha de aperto monetário do Brasil está começando a ter um impacto sobre a atividade econômica. O banco central já elevou a taxa básica de juros de 2% para 5,25%, e deve elevá-la para 7,5% até o final do ano.

Enquanto isso, a inflação não dá sinais de recuo. Está operando a um ritmo anual de 9,3%, bem acima da meta de 3,75%, e os economistas continuam revisando suas previsões à medida que uma seca severa esgota os reservatórios hidrelétricos e aumenta os preços da energia elétrica.

O presidente do banco central, Roberto Campos Neto, disse que o desempenho da economia no segundo trimestre estava “mais ou menos em linha” com as expectativas do banco e defendeu a necessidade de continuar aumentando as taxas de juros, dizendo que a inflação galopante seria ainda pior para as perspectivas de crescimento.

Veja mais: Campos Neto diz que tem observado muitos ruídos fiscais e em torno do Bolsa Família

Os juros com vencimento em janeiro de 2022, que indicam as expectativas dos investidores para a taxa de referência, caíram brevemente após a divulgação dos dados. Posteriormente, eles subiram junto com o resto da curva, refletindo temores maiores de inflação.

Os planos para expandir os programas sociais antes das eleições do próximo ano também causaram preocupação entre os investidores, alimentando as expectativas de uma política monetária mais rígida.

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