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Com inflação e crise hídrica, investimento em energia solar se paga entre 3 e 6 anos

Escassez histórica de chuvas, que levou à bandeira tarifária vermelha patamar 2 em setembro, potencializa retorno financeiro com equipamentos fotovoltaicos

Alta de preços da energia elétrica impulsiona procura por painéis solares no Brasil
01 de Setembro, 2021 | 01:24 PM

São Paulo — A crise hídrica histórica que atinge o Brasil encareceu as tarifas de energia elétrica e está levando brasileiros a procurarem alternativas para aliviar a conta de luz, apontam especialistas do setor, e o anúncio da nova bandeira pelo Ministério de Minas e Energia deve potencializar a mudança.

  • Em agosto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o segmento Habitação, que engloba a conta de luz, liderou a alta da prévia da inflação brasileira no mês, com avanço de 5% para a energia elétrica.
  • Empresas do segmento de painéis solares apontam que, neste cenário, uma residência em São Paulo poderia economizar até R$ 3.460 por ano com energia elétrica e pagar o investimento total em três a seis anos.

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: A matriz energética brasileira é formada na maioria por usinas hidrelétricas, com uma fatia de 58% em maio de 2021, segundo o Ministério de Minas e Energia. As termelétricas vêm em segundo, com 25%. Energias renováveis, como eólica e solar, têm 10% e 1,8%, respectivamente.

Esse cenário tem mudado, impulsionado por equipamentos mais baratos para as matrizes solar e eólica, vindos principalmente da China, e alterações recentes na regulação para o Mercado Livre de Energia, como a emenda na Medida Provisória da privatização da Eletrobras que propõe a portabilidade da conta de luz para todos os brasileiros até 2026.

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“A saída de curto prazo para a crise hídrica é ligar termelétrica, só que custa muito mais caro e o consumidor sente isso no bolso, em casa, no pequeno negócio e também no poder público. Uma forma efetiva de diminuir essa dependência é a diversificação das fontes de energia”, diz Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Ele defende que o segmento solar é um avanço em relação à distribuição atual, que também pode ser visto como um tipo de investimento financeiro alternativo, considerando a economia com a conta de luz que pode trazer.

CONTEXTO: O Ministério de Minas e Energia anunciou nesta terça-feira (31) uma nova bandeira para as tarifas de energia, chamada escassez hídrica, que irá vigorar até 30 de abril de 2022. A bandeira foi elevada para R$ 14,20 a cada 100 kwh e o aumento na conta de luz será de 6,79%.

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  • Paralelamente, segundo levantamento do Portal Solar, holding brasileira de energia solar, a procura por equipamentos e serviços de instalação de painéis e inversores cresceu 117% de janeiro a maio deste ano.
  • O site conecta consumidores com cerca de 20 mil empresas de energia fotovoltaica, entre distribuidores, revendedores, instaladores e projetistas. Os dados foram analisados com base nos mais de 2,5 milhões de acessos à plataforma no período.

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QUANTO CUSTA DIVERSIFICAR: O tipo e capacidade de um sistema de placas fotovoltaicas para uma residência, empresa ou fazenda depende de alguns fatores, como a incidência solar da região, o tamanho do consumo e se o local está ou não conectado à rede de energia (Sistema On-Grid).

Uma residência conectada ao sistema, que gaste cerca de R$ 250 com energia elétrica por mês e esteja localizada na região central da cidade de São Paulo, por exemplo, pode precisar de um investimento de R$ 8.778 a R$ 22.895 para a instalação, segundo simuladores disponibilizados por quatro empresas do setor - Portal Sol, Intelbras, Solar Volt Energia e Blue Sol.

Isso considerando, segundo essas empresas, sistemas de 2,31 kWp a 3,6 kWp de potência.

Assim, com a tarifa da energia elétrica de agosto cobrada pela distribuidora local, seria possível pagar pelos equipamentos e serviços em três a 6,5 anos, com uma economia anual de R$ 2.544 e R$ 3.460.

José Renato Colaferro, cofundador e diretor de operações da Blue Sol, explica que, apesar da média de potência dos inversores da companhia ser de 6,6 kWp, a demanda de clientes fez com que a empresa passasse a oferecer com mais frequência equipamentos menores, como os citados no exemplo.

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“O negócio está se popularizando. Muita gente que antigamente não tinha acesso ao sistema passou a ter, até porque é possível quebrar esse investimento em uma série de pagamentos de alguns anos”, diz.

Ele cita que, além dos equipamentos mais baratos, a chegada de novos clientes foi impulsionada pelo acesso a linhas de crédito especializadas.

É o caso do Santander Brasil, que anunciou em 2020 a prorrogação por 12 meses do pagamento de uma linha especial de financiamento de equipamentos fotovoltaicos. A instituição oferece crédito a partir de R$ 2 mil, com taxas a partir de 0,74% ao mês. Já o banco BV tem linhas de no máximo R$ 500 mil para Pessoa Física e de R$ 3 milhões para empresas, com taxas que variam de 0,75% a 0,98% ao mês.

Já o BNDES tem uma linha de no mínimo R$ 40 milhões para empresas, estados ou municípios investirem na geração de energia solar através de sistemas geradores fotovoltaicos.

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*Todas as simulações de instalação de painéis elétricos foram feitas em 01/09/2021, considerando o bairro Cerqueira César, em São Paulo

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Ana Siedschlag

Ana Carolina Siedschlag

Editora na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero e especializada em finanças e investimentos. Passou pelas redações da Forbes Brasil, Bloomberg Brasil e Investing.com.