Mulher processa empresa suíça de private equity por demissão após denúncia de racismo

Executiva diz ter sido demitida injustamente em julho de 2018 após reclamações sobre supostas declarações racistas de um colega mesmo tendo bom desempenho

Segundo ex-funcionária do Partners Group, ela foi demitida após denunciar comportamento preconceituoso de colega que trabalha na sede da Suíça
Por Todd Gillespie
25 de Agosto, 2021 | 07:44 PM

Bloomberg — Uma ex-funcionária negra da Partners Group Holding AG está processando a empresa suíça de private equity em US$ 10 milhões, reivindicando que ela foi demitida da empresa após reclamar sobre as supostas declarações racistas de um colega em cargo sênior.

Harmonie Mulumba, que trabalhou por dois anos como analista no Goldman Sachs Group Inc., diz ter sido demitida injustamente em julho de 2018 após suas reclamações, mesmo tendo bom desempenho enquanto esteve no programa de colaboradores no Partners Group.

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Em uma carta ajuizada no tribunal do trabalho do Reino Unido, Mulumba alega que Juri Jenkner, chefe de infraestrutura privada, fez uma piada comparando negros a macacos em uma viagem, zombou do sotaque de uma colega indiana enquanto estava sem microfone em uma reunião por videoconferência e exigia mais de Mulumba que de seus colegas homens e brancos.

Jenkner, que trabalha na sede da empresa em Zug, na Suíça, não respondeu a e-mails e ligações para comentar o caso.

O Partners Group “tem orgulho de ser um empregador que proporciona igualdade de oportunidades”, disse a empresa por e-mail. “Lamentamos – e tratamos com máxima seriedade – qualquer alegação em contrário”, disse a empresa, recusando-se a comentar detalhes do caso.

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O setor financeiro da Suíça tem lutado para acabar com a reputação de falta de diversidade e, às vezes, de sensibilidade racial. Tidjane Thiam, o ex-CEO negro do Credit Suisse Group AG contratado com muito alarde em 2015, foi alvo de uma encenação envolvendo um homem negro vestido como zelador na festa de aniversário de 60 anos do presidente do banco, o que o levou a sair. O Credit Suisse pediu desculpas por “qualquer ofensa” causada pelo incidente.

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O Partners Group argumentou em uma audiência na semana passada que o caso não pertence a um tribunal do Reino Unido porque Mulumba, cidadã congolesa e residente no Reino Unido, foi contratada pela filial dos EUA. A empresa recorreu de uma decisão inicial que lhe concedeu o direito de processar no Reino Unido. O Partners Group anteriormente se opôs a uma ação apresentada por Mulumba nos EUA, argumentando que sua falta de cidadania impedia a jurisdição no país também.

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Se não tivesse sucesso em ambos os países, ela deveria prosseguir com o caso na Suíça. Os tribunais do trabalho na Suíça são confidenciais, limitando a conscientização do público sobre as reclamações trabalhistas.

Mulumba alternou entre equipes nos EUA, no Reino Unido e na Suíça e ficou entre os 5% melhores da empresa em um ranking de desempenho interno, segundo documentos judiciais. Porém, quando ela reclamou dos comentários de seu colega, a empresa ameaçou deixar seu visto expirar, disse ela em um documento judicial.

“Presumiu o preconceito”

Um advogado externo contratado pelo Partners Group para investigar o caso rejeitou as queixas em fevereiro de 2018, concluindo que Mulumba “presumiu o preconceito com base em sua raça, gênero e origem nacional” e interpretou mal os comentários ou os tirou do contexto.

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Mulumba, que ingressou na empresa em 2015, fez uma pausa de dois meses em seu trabalho na Suíça para tratar um tumor benigno no final de 2016 e nunca foi diagnosticada com câncer. Mulumba alega que a discriminação contra ela aumentou após seu retorno da licença médica, que foi usada para montar um caso para sua demissão.

“Não vamos deixar registros caso precisemos apresentar a ela uma proposta de saída ‘sem preconceito’”, escreveu um executivo de RH em um e-mail de janeiro de 2017 divulgado em documentos judiciais. Esse executivo não respondeu a um e-mail solicitando comentários.

Em agosto de 2017, o chefe de RH da empresa aprovou uma nota para o comitê executivo global da empresa, dizendo, incorretamente e sem seu conhecimento, que Mulumba tinha câncer e que sua demissão foi planejada, conforme mostram documentos judiciais. A nota citava seu desempenho antes e depois da licença médica como “insuficiente”, em um aparente contraste com suas antigas avaliações de desempenho.

Isso indicou que o Partners Group “já me tachava de demissionária”, escreveu Mulumba em documentos judiciais.

Mulumba diz que levou pela primeira vez suas preocupações sobre os comentários racistas em sigilo a um colega, pouco antes do e-mail de agosto. Esse colega nega ter compartilhado seus comentários com o RH, segundo a investigação do Partners Group. Mulumba formalizou suas queixas em uma carta à unidade do Partners Group dos EUA em 2018 antes de apresentar seu caso ao Reino Unido.

“Embora se defina como socialmente responsável, a empresa vem lutando por anos contra a jurisdição dos tribunais dos EUA e do Reino Unido”, disse Mulumba em comunicado à Bloomberg. “A responsabilidade social genuína tem a ver com prestação de contas”.

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