Bloomberg Línea — O Brasil tem apresentado um desempenho positivo nos últimos anos e mantido uma participação de destaque nas operações globais da Red Hat, segundo Sandra Vaz, que lidera a unidade brasileira da empresa de software corporativo americana.
Em entrevista à Bloomberg Línea, a executiva apontou que a demanda tem sido puxada principalmente por bancos, governos e empresas de saúde, que têm buscado as soluções de software da empresa em seus projetos de inovação.
“Hoje praticamente todos os nossos clientes estão com projetos de inteligência artificial, que nós estamos apoiando”, disse Vaz, que assumiu a operação brasileira em novembro do ano passado, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo.
Na sua avaliação, o fato de as soluções da empresa permitirem às empresas trabalharem com qualquer fornecedor de nuvem – como Azure, da Microsoft, AWS, Oracle, Google e IBM, por exemplo – se tornou uma vantagem competitiva no momento atual.
“O cliente pode usar as nossas soluções para dispor dessa flexibilidade e trabalhar com inteligência artificial. Já começamos a transformar esses projetos em realidade.”
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Comprada pela IBM em 2019 por US$ 33 bilhões, a Red Hat é especializada em soluções de software open source corporativo, com foco em infraestrutura de nuvem híbrida, automação, virtualização e inteligência artificial.
Desde então, os negócios da subsidiária têm ganhado relevância dentro da operação global da IBM.
As receitas de Hybrid Cloud (nuvem híbrida), que se referem ao negócio da Red Hat, somaram US$ 1,8 bilhão no segundo trimestre, representando 24% do faturamento do segmento de software da IBM, o maior do conglomerado de tecnologia.
Enquanto o faturamento do segmento de software como um todo cresceu 10%, a área de nuvem híbrida teve expansão de 16% sobre o mesmo período do ano passado, segundo o resultado trimestral divulgado em 22 de julho.
Foco no ‘core business’
No Brasil, a Red Hat é fornecedora de uma das soluções por trás do Pix que permite a transmissão de dados de forma distribuída e sem a necessidade de uma grande estrutura de gerenciamento.
De acordo com a líder da Red Hat no país, a operação brasileira representa cerca de 40% das receitas na América Latina, enquanto a região como um todo tem uma participação entre 5% e 10% da operação global.
Segundo Vaz, a região tem apresentado um crescimento consistente nos últimos seis anos.

Parte do crescimento é atribuído à demanda dos clientes para expandir a digitalização e a automação de processos, com uso de agentes de IA e outras tecnologias avançadas.
São soluções que buscam melhorar o atendimento a consumidores, evitar fraudes ou apoiar diagnósticos de pacientes, por exemplo, que estão ligadas diretamente ao “core business” dos clientes.
“Quando visitávamos um cliente, antigamente nós interagíamos mais com o CIO [Chief Information Officer], buscávamos mais a parte de infraestrutura tecnológica. Hoje, não. Já falo com o presidente. Subimos para um nível executivo para a empresa entender o que é preciso resolver no seu negócio”, disse a executiva.
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Para atender a demanda, a empresa tem ampliado a equipe de especialistas em inteligência artificial. Sem detalhar os números, a executiva disse que houve um crescimento de 30% nesse time
Entre os projetos em desenvolvimento, a Red Hat tem trabalhado com empresas para automatizar processos operacionais e estratégicos usando inteligência artificial e ferramentas como o Ansible, sua plataforma de automação.
No setor financeiro, os projetos incluem recomendação automatizada de investimentos e análise de crédito com base no perfil do cliente, além da detecção de fraudes em tempo real.
A empresa também tem apoiado hospitais e operadoras de saúde na digitalização de processos de atendimento e faturamento, com uso de agentes inteligentes para diagnósticos e integração de sistemas legados.
“Os projetos têm como objetivo tirar tarefas repetitivas das pessoas e colocá-las para pensar o que pode melhorar na vida do cidadão ou do paciente”, afirmou Sandra Vaz.
Plataforma com IA para serviços públicos
No setor público, um dos principais projetos conduzidos pela Red Hat é o trabalho com a Prodesp, empresa de tecnologia do governo de São Paulo, para a automação do Diário Oficial do Estado. Segundo a executiva, o projeto reduziu de semanas para minutos o trabalho de diagramação das publicações.
A empresa também colabora com a Prodesp no desenvolvimento de uma plataforma baseada em inteligência artificial para que cidadãos relatem problemas urbanos, como buracos nas ruas ou quedas de energia, com respostas automatizadas e integradas aos órgãos responsáveis.
Segundo a executiva, esse “motor de IA” tem alimentado pelo menos dez projetos voltados à melhoria dos serviços públicos, com potencial de ser replicado em outros estados.

Outro eixo estratégico para a Red Hat é a oferta de soluções de virtualização, que permite que empresas otimizem o uso de infraestrutura e reduzam custos.
A companhia tem promovido o uso do OpenShift Virtualization como alternativa a outras plataformas do mercado, sobretudo em projetos que exigem flexibilidade e portabilidade entre diferentes nuvens.
A estratégia atende à demanda de empresas que querem evitar o lock-in com um único fornecedor de nuvem e que precisam operar com múltiplos ambientes — incluindo data centers próprios — de forma integrada.
“Hoje, os clientes querem flexibilidade. Eles não querem ficar em lock-in. Querem poder mudar de nuvem ou até trazer tudo de volta para dentro de casa”, disse a executiva.
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