iFood anuncia R$ 17 bi em investimentos e mira 200 milhões de pedidos mensais

Diante de guerra do delivery no Brasil, com planos bilionários das chinesas Meituan e 99Food (DiDi) e da colombiana Rappi, líder de mercado conta como pretende acelerar a expansão dos seus negócios, segundo o CEO Diego Barreto

Diego Barreto, CEO do iFood: nós temos uma visão muito clara que a beleza desse negócio está em conseguir integrar o mundo online e offline
05 de Agosto, 2025 | 07:00 AM

Bloomberg Línea — O iFood planeja investir R$ 17 bilhões ao longo de seu ano fiscal, que se estende até março de 2026, no maior plano de aportes da companhia até hoje.

Pela primeira vez, a plataforma controlada pela Prosus tornou público o valor total previsto para um ciclo completo, em momento de intensificação da disputa no mercado de delivery no Brasil, em que é líder absoluto.

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O mercado brasileiro entrou de vez no radar de grandes players com atuação internacional, com outros anúncios bilionários nos últimos meses.

O maior foi da chinesa Meituan, que anunciou que planeja investir R$ 5,7 bilhões para posicionar a sua bandeira Keeta no país.

A 99Food, que pertence à chinesa DiDi, prometeu investir R$ 1 bilhão e já concretizou o seu retorno ao mercado brasileiro nas últimas semanas, enquanto a colombiana Rappi planeja colocar R$ 1,4 bilhão em sua operação no país.

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O valor tornado público pelo iFood revela uma escalada dos investimentos em relação aos dois últimos anos fiscais. Em 2024, a plataforma aportou R$ 10,3 bilhões; e, em 2025, R$ 13,6 bilhões, segundo dados agora divulgados.

Leia mais: iFood adquire 20% da CRMBonus; acordo pode chegar a R$ 10 bi em 3 anos, dizem fontes

O montante de R$ 17 bilhões, oriundo do caixa do próprio iFood, será dividido entre iniciativas para aumentar tráfego e recorrência de uso no app, ampliar a relação com restaurantes parceiros e fortalecer - e ampliar - as verticais de negócios.

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O iFood ainda pretende investir outros R$ 500 milhões em startups, valor que não incluso na conta dos R$ 17 bilhões.

Eventuais aquisições também não estão consideradas nesse montante - faz uma semana, a startup anunciou a compra de 20% da CRMBonus, em acordo que pode chegar a R$ 10 bilhões em três anos, segundo fontes disseram à Bloomberg Línea.

“Nós esperamos sair de cerca de 120 milhões de pedidos por mês para 200 milhões em três anos; e de 55 milhões de usuários ativos para 80 milhões”, afirmou Diego Barreto, CEO do iFood, sobre a visão de médio prazo.

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“A grande alavanca está muito ‘calcada’ na classe C, em restaurante e no Clube iFood [programa de fidelidade da plataforma]. São esses três elementos que explicam esse crescimento esperado.”

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Investimento em detalhes

Do valor total anunciado, R$ 6 bilhões serão investidos em tecnologia e novos mecanismos para ampliar as conexões com restaurantes - por exemplo, abrir caminhos para melhorar a rentabilidade dos negócios, seja online ou fisicamente.

São esforços conectados com anúncios recentes do iFood, que adquiriu empresas de software de gestão e de totens em restaurantes, para ampliar a sua presença no salão dos estabelecimentos, e também plataforma de ativação de clientes, caso da CRMBonus.

Segundo Barreto, o foco do uso dos recursos está em produtos alinhados com a perenidade dos negócios. Eles não serão usados, portanto, para entrar na disputa por distribuição de vouchers de descontos, movimento comum de queima de caixa na busca por captação de usuários a qualquer custo.

“A nossa cabeça está em construir elementos que, ao longo do tempo, vão construir um iFood mais barato e que vende cada vez mais. Focar em se defender de dinheiro colocado em voucher é, na prática, queimar dinheiro”, afirmou.

Na lista de prioridades de investimentos, além da divisão de restaurantes, está o iFood Pago, braço de serviços financeiros que inclui o iFood Benefícios e a Zoop, startup que opera no modelo de Fintech as service.

Leia mais: iFood Pago cresce acima do esperado e chega a R$ 1,6 bi em receita: ‘é só o começo’

Criada em junho de 2024, a operação do iFood Pago encerrou o primeiro ano com uma carteira ativa de R$ 1 bilhão de crédito fornecido a restaurantes e uma receita de R$ 1,6 bilhão.

A projeção é que a carteira possa chegar a R$ 2,8 bilhões. “Só no mês de julho, nós desembolsamos R$ 160 milhões para os restaurantes”, disse o CEO do iFood.

Crédito para o consumidor

O avanço da operação tem levado o iFood a ampliar a oferta de crédito, com um novo produto para os usuários finais da plataforma. Previsto para os próximos meses, esse crédito tem um caráter mais emergencial, com valores que vão do custo de uma refeição até uma compra de fim de mês.

De acordo com projeções do iFood, os investimentos devem gerar como um dos efeitos o aumento dos repasses aos entregadores. A projeção é ampliar em 27% na base anual esse volume, para R$ 5,2 bilhões.

“Esse é um valor relevante e que reflete nossa aposta no crescimento via tecnologia e em rotas mais eficientes”, afirmou Barreto.

Os investimentos ainda contemplam a ampliação da equipe com mais 1.100 funcionários, que chegam, em grande medida, para reforçar a divisão de tecnologia. Segundo a companhia, mais de 500 pessoas já passaram pelo onboarding e outros 600 serão contratados ao longo dos próximos meses.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark