Ex-CEO do Google faz doação para pesquisas do maior acelerador de partículas do mundo

Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, ou CERN, usará a doação de US$ 48 milhões para desenvolver algoritmos de IA para analisar dados brutos do Grande Colisor de Hádrons

Eric Schmidt
Por Hugo Miller
04 de Junho, 2024 | 01:41 PM

Bloomberg — Uma doação do ex-CEO do Google (GOOGL), Eric Schmidt, para o principal laboratório de física de partículas da Europa anunciou uma nova maneira de financiar pesquisas de fronteira, no momento em que a corrida tecnológica do Ocidente com a China se acelera.

A Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, ou CERN, na sigla em inglês, usará a doação de US$ 48 milhões do Fundo Eric & Wendy Schmidt para inovação estratégica, que não havia sido divulgada anteriormente, para desenvolver algoritmos de IA para analisar dados brutos do Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider), que faz parte do laboratório e é o acelerador de partículas de energia mais potente do mundo.

Em 2012, o CERN descobriu o Bóson de Higgs, uma partícula fundamental para entender como o universo é construído.

Agora, o CERN precisa reinvestir para permanecer na vanguarda da pesquisa de física de partículas. No final da década de 2030, o LHC deve chegar ao fim de sua vida útil e o CERN precisa de US$ 17 bilhões das nações europeias para financiar a construção de um acelerador muito maior, conhecido como Colisor Circular do Futuro. Mas esse financiamento ainda não foi garantido e, enquanto isso, a China propôs seu próprio colisor.

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Tradicionalmente, o CERN conta com contribuições de seus 23 estados-membros e parceiros observadores, como os Estados Unidos, para financiar a pesquisa pura, enquanto os investidores privados se concentram na pesquisa aplicada, de acordo com Charlotte Warakaulle, diretora de relações internacionais do CERN. Isso faz com que a doação dos Schmidts para a pesquisa seja a primeira do setor privado e pode anunciar uma abordagem diferente para o financiamento do próximo colisor, diz ela.

“Estamos analisando todos os tipos de parceiros em potencial”, disse Warakaulle em uma entrevista à Bloomberg na semana passada. “Como poderíamos fazer parcerias com a UE e, potencialmente, com investimentos privados.”

Em um momento em que alguns estão questionando a relevância de empreender um novo colisor maciço que custará dezenas de bilhões, a concessão de Schmidt também é um lembrete do que está em jogo na corrida tecnológica geopolítica.

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"Se a China iniciar seu projeto antes do CERN, há o risco de a Europa e os EUA também perderem a liderança na física de partículas de alta energia e também no desenvolvimento tecnológico que a acompanha", disse Warakaulle.

Além de desvendar os mistérios do universo, o CERN também foi responsável por uma série de avanços tecnológicos. Tim Berners-Lee, um cientista britânico do CERN, inventou a World Wide Web, concebida inicialmente como uma forma de os colegas compartilharem informações além das fronteiras.

À medida que crescem as tensões entre os EUA e a UE, de um lado, e a China, de outro, na corrida para desenvolver tudo, de microchips a veículos elétricos, a colaboração internacional continua sendo fundamental. Os EUA são um parceiro importante para o CERN, com mais de 2.000 dos 13.000 pesquisadores que realizam experimentos no laboratório afiliados a universidades americanas e outras instituições, de acordo com Warakaulle.

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Depois que o Congresso rejeitou, em 1993, um plano para financiar seu próprio colisor no Texas, os EUA precisam apoiar o FCC proposto pelo CERN ou um projeto de colisor linear rival no Japão. Em dezembro, um painel consultivo científico dos EUA endossou a ideia de apoiar um dos projetos, mas não ambos. Isso fez com que uma declaração conjunta de intenções assinada no mês passado pelo governo dos EUA e pelo CERN fosse potencialmente significativa.

Trata-se de um compromisso de "manter a liderança em física de alta energia na Europa com o apoio dos EUA", disse Warakaulle.

O estudo de viabilidade do novo acelerador terminará em 2025, e a decisão sobre sua aprovação está prevista para 2027 ou 2028. O novo colisor se estenderia por cerca de 90 quilômetros (56 milhas) sob os campos da França e da Suíça, incluindo a extremidade ocidental do Lago Genebra, superando o anel subterrâneo de 27 quilômetros existente.

Ambos trabalhariam usando o mesmo princípio, esmagando prótons quase à velocidade da luz para criar condições semelhantes às que existiam logo após o Big Bang. Mas o FCC produziria colisões com energia muito mais alta em comparação com seu antecessor, prometendo progresso na busca por energia escura e matéria escura, que, segundo a hipótese dos cientistas, mantêm as galáxias intactas.

Como o CERN está de olho no desafio chinês à sua preeminência, ele está encerrando um acordo de cooperação com a Rússia. Essa decisão, que foi tomada em meados de 2022 após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, entrará em vigor em 30 de novembro, quando o acordo atual expirar.

Essa cooperação, que remonta à era soviética na década de 1960, já foi reduzida em torno de tecnologias com possíveis aplicações militares para garantir que o CERN cumpra as sanções da UE contra a Rússia. Ainda assim, o CERN planeja continuar trabalhando com cientistas russos não afiliados a instituições russas para que os indivíduos não sejam penalizados.

"Tradicionalmente, o CERN tem sido um construtor de pontes", disse Warakaulle.

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