Com IA, empresas precisam redesenhar processos para sobreviver, diz fundador da Siri

Tom Gruber comandou a startup que desenvolveu a assistente pessoal adquirida pela Apple. E falou à Bloomberg Línea de sua visão do futuro e por que criou a Humanist.AI, que ajuda empresas a usar a tecnologia para aprimorar o trabalho humano

A slogan which reads "AI is here. Here to play", at the Google booth at the Hannover Messe 2024 trade fair in Germany, on April 22.
08 de Setembro, 2025 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — Cofundador e ex-CEO da Siri, Tom Gruber não tem dúvidas que a inteligência artificial vai transformar profundamente as empresas. Mas ele alerta que não da forma caricata, segundo sua avaliação, que domina parte do debate público.

A noção de que um único empreendedor, apoiado apenas por agentes de IA, possa erguer sozinho uma companhia avaliada em US$ 1 bilhão, por exemplo, soa para ele como mais uma anedota do Vale do Silício do que uma tendência real.

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“Alguém vai acabar fazendo isso, vai virar uma boa história, mas é uma fantasia”, disse em entrevista à Bloomberg Línea no Startup Summit, em Florianópolis, evento do qual foi um dos principais palestrantes.

Gruber criou com Dag Kittlaus e Adam Cheyer em 2017 a Siri Inc., startup que desenvolveu a conhecida assistente pessoal Siri. Três anos depois, a empresa foi adquirida pela Apple, em uma transação de US$ 150 milhões.

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Ferrenho defensor de uma visão humanista na aplicação de IA, o empreendedor criou também a Humanist.AI, uma startup que busca ajudar na adoção da tecnologia para aprimorar o trabalho humano, e não para substituí-lo.

Esse processo de fortalecimento e de ampliação de capacidades profissionais tem que, no entanto, ser acompanhado por uma série de mudanças nas empresas que desejam sobreviver a este novo momento, segundo ele.

“Nós precisamos repensar por que criamos corporações. Quero dizer, as empresas estão cheias de pessoas que não fazem muita coisa, certo? Elas conversam entre si, têm reuniões o dia todo, muito tempo é desperdiçado” disse Gruber.

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“Ou seja, as empresas precisam descobrir como parar de fazer isso e como competir em um novo mundo.”

Tom Gruber, co-fundador da Siri:  Os executivos não devem olhar para uma planilha, e sim para o negócio e para o que estão tentando alcançar com IA

Segundo ele, a perspectiva é a de que, à medida que os agentes de IA entrem nas operações, os humanos ganhem mais autonomia para criar e desenvolver outras atividades - e aprendam a lidar com essa nova dinâmica.

O executivo citou o caso da DXM, empresa de marketing com a qual colabora. Antes dedicada a produzir imagens no Photoshop, a companhia abandonou o software em favor da IA generativa.

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“Nós fazemos mil vezes mais imagens do que antes. O tempo que antes era consumido pela execução agora é dedicado à estratégia e à identidade. Passamos 90% do tempo pensando em criatividade, em vez de 40% ou 50%”, disse.

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Redesenho de processos

Redesenhar os processos passa a ser crítico para a sobrevivência dos negócios, segundo Gruber, o que inclui a eliminação de tarefas e do que classifica como excessos, como reuniões que tomam as agendas diariamente.

“De certa forma, acho que isso vai forçar todos a se empenharem um pouco mais e serem mais inteligentes na forma como conduzem seus negócios”, projetou o empreendedor.

Nem todos os setores econômicos e atividades poderão usufruir das oportunidades trazidas pela IA. Mercados como call centers e transporte, no caso de motoristas de caminhão, estão entre os mais vulneráveis, em sua avaliação. Para Gruber, é questão de tempo o desaparecimento dessas posições.

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Hora de experimentação

Segundo o veterano do Vale do Silício, além de observarem a IA sob a perspectiva humanista, as empresas precisam deixar de lado a linha do custo neste momento de definição de estratégia.

“Os executivos não devem olhar para uma planilha, e, sim, para o negócio e para o que estão tentando alcançar e como podem tornar as pessoas mais eficazes com a IA. Essa é a primeira coisa”, afirmou.

O momento atual também é um terreno fértil para inovação. Com grandes modelos de base acessíveis por APIs, ficou relativamente barato construir novas aplicações. A recomendação do ex-CEO da Siri é que as empresas realizem muitos testes.

“As empresas podem aproveitar para fazerem muitos experimentos. Alguns deles darão certo, e isso não custará quase nada - descarte os que não funcionarem e construa mais. É isso que eu sugiro agora, em vez de criar um grande projeto para toda a sua empresa que poderia ficar parado”, recomendou.

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