‘Uber dos serviços residenciais’, startup criada por brasileiro nos EUA recebe aporte

Houser, do ex-engenheiro da Embraer Felipe Rossi, capta primeira rodada com fundo brasileiro e projeta crescer 10 vezes em 2026 nos Estados Unidos, chegando a US$ 40 milhões de receitas

Com operação até aqui concentrada na Flórida, a Houser usa a tecnologia para conectar donos de casa a prestadores de serviços e empreiteiros (Foto:  David Paul Morris/Bloomberg)
23 de Dezembro, 2025 | 09:00 AM

Bloomberg Línea — A Houser, startup fundada em 2023 pelo engenheiro aeroespacial Felipe Rossi, ex-Embraer, captou a sua primeira rodada de investimento. O aporte foi liderado pela Synergia Investimentos, fundo criado por empreendedores brasileiros, como Wilian Rezende, sócio da Allrede Telecom, cujo controle foi recém-adquirido pela Brasil TecPar.

O valor investido não foi revelado. Em reportagens publicadas anteriormente ao aporte, os sócios haviam informado que buscavam US$ 3 milhões em rodada seed. Questionados pela Bloomberg Línea, os co-fundadores Felipe Rossi, CEO, e Marcos Mazieri, CFO, disseram que “a expectativa foi superada em relação ao que tínhamos projetado”.

PUBLICIDADE

Com operação até aqui concentrada na Flórida, a proptech usa a tecnologia para conectar donos de casa a prestadores de serviços e empreiteiros. O diferencial da Houser está em ir além do matchmaking entre clientes e prestadores — modelo adotado por plataformas como Angi, Thumbtack e, no Brasil, GetNinjas.

A startup atua de ponta a ponta, incluindo a intermediação do pagamento aos prestadores de serviços, que só recebem após a conclusão dos trabalhos.

“É mais ou menos uma plataforma Uber. O motorista não recebe um lead para poder concorrer com outras empresas para conseguir a corrida. Ele efetivamente recebe a ordem”, diz Rossi. “Nós passamos o pedido completo. Olha, você vai fazer uma pintura na casa x, que fica neste endereço, ganhará y”.

PUBLICIDADE

A precificação automática é um dos pilares da proposta de valor que a startup se propõe a entregar. A plataforma combina medição com uso de imagens por satélite, dados de internet e inteligência artificial para calcular custos em até 10 segundos.

Novos estados

“De um lado nós conseguimos captar as medidas, do outro lado nós temos o custo de cada prestador por unidade de medida”, diz o CEO.

Leia mais: Ex-COO da ‘Shopify chinesa’ capta US$ 15 mi e mira PMEs brasileiras

PUBLICIDADE

A estratégia da Houser passa pelo modelo freemium, oferecendo uma quantidade de propostas sem custo aos prestadores de serviços em determinada região. Para prestadores que atuam em mais regiões, há planos pagos.

A Houser cobra um “take rate” — comissão sobre o valor do serviço — que varia em torno de 20%.

Com operação com cerca de 2.000 prestadores cadastrados apenas na Flórida, a Houser realizou mais de 4.000 atendimentos. Instalação de calhas, cercas e lavagem à pressão estão entre os principais serviços demandados. Pintura e instalação de telhado, cujo tíquete médio fica acima de US$ 8.000, são os próximos alvos da lista da startup.

PUBLICIDADE

A entrada no capital vai contribuir para o primeiro movimento de expansão, ofertando a plataforma nos estados da Geórgia, Carolina do Norte e Carolina do Sul a partir do segundo trimestre de 2026.

Para avançar nos novos destinos, a Houser investe em parcerias com associações de moradores (HOAs) e grandes players do setor.

Além do aporte em capital, a startup fechou recentemente acordo que prevê cerca de R$ 3 milhões em créditos para geração de leads, através da parceria com a Febacapital e a Homeyou, empresa especializada com 10 anos de mercado.

“A nossa solicitação foi a seguinte: nós queremos os leads. Nosso negócio tem dois lados: sempre há estratégia só para os prestadores e uma outra para os donos de casas”, diz Mazieri.

Outra parceria estratégica foi fechada com a multinacional IGS, que permitirá a conexão com cerca de 2.000 empreiteiros na Flórida e acesso a 27.000 no restante do país.

A soma dos movimentos, segundo Mazieri, contribuirá para um crescimento de receita em 10 vezes em 2026, projeção que alcançaria US$ 40 milhões. Entre 2024 e 2025, a startup dobrou de tamanho, chegando a US$ 4 milhões.

“Nós tivemos um crescimento inicialmente mais orgânico, que estava sustentado e no breakeven desde o começo da operação. A busca por recursos foi exatamente para acelerar o ritmo de expansão”, afirma Mazieri.

Segundo o executivo, se a estratégia for bem-sucedida, o próximo passo é introduzir uma agenda de aquisições. A startup tem olhado tantos fintechs com conta Escrow, para verticalizar a operação financeira, quanto concorrentes diretos em outros estados.

Felipe Rossi, CEO da Houser: vamos fechar o ano de 2026 com crescimento de 10 vezes

Em busca da Nasdaq

A trajetória de Rossi na Houser começou de forma pouco convencional para uma startup de tecnologia. Vindo da engenharia aeroespacial, ele decidiu conhecer o mercado de construção e reformas de dentro para fora.

“Basicamente não conhecia absolutamente nada de construção. E com base nisso, a ideia foi executar os primeiros trabalhos, conhecer a fundo, em detalhe como funcionava a operação”, conta o co-fundador, que começou com um caminhão e dois instaladores.

O modelo inicial, com ativos próprios, serviu como um laboratório. À medida que a operação crescia, Rossi identificou que poderia manter ou aumentar a lucratividade terceirizando os serviços.

“Foi aí que começamos a produzir mais a tecnologia, que era justamente a cotação online, a visita, a conversa com clientes através de videoconferência”, diz. “Com a pivotagem, os antigos concorrentes viraram prestadores”.

A startup tem como sócios ainda Claudio Olimpio, CRO, Marcello Gimenez, COO, Yuri Padula, CSO.

A ambição maior do quinteto é levar a startup à Nasdaq por volta de 2030. O plano inclui auditoria externa, práticas avançadas de governança e listagem entre o fim de 2026 e o começo de 2027.

O objetivo é alcançar estabilidade de geração de caixa em 2027-2028 para então proceder com o IPO efetivo até 2030.

“Se a janela realmente acontecer, não teria motivo para não fazermos essa abertura”, diz Mazieri. A meta é alcançar valuation entre US$ 2,2 bilhões e US$ 3,2 bilhões no momento do IPO.

Leia também

Mercado global de M&As vê espaço para novo salto após alcançar US$ 4,5 tri em 2025