Partners Group adquire 15% da Omie por US$ 100 milhões e mira digitalização de PMEs

Investimento faz parte de rodada Série D de US$ 150 milhões, que avaliou a startup fundada e comendada por Marcelo Lombardo em US$ 700 milhões. O aporte deu saída parcial a investidores como SoftBank, Riverwood e Astella

Marcelo Lombardo, CEO da Omie: "Vemos um potencial gigantesco, com uma oferta financeira adjacente ao software de gestão. A maioria das novidades em produtos está vindo nessa área, principalmente focados em crédito e pagamentos"
11 de Setembro, 2025 | 05:00 PM

Bloomberg Línea — A empresa de investimentos Partners Group comprou 15% da Omie, uma das maiores plataformas de gestão para PMEs do Brasil, em uma operação que avaliou a companhia em cerca de US$ 700 milhões. A transação marca a estreia da gestora suíça em sua estratégia de growth equity no país.

O investimento faz parte de uma rodada Série D de US$ 150 milhões, na qual o Partners liderou com US$ 100 milhões - os outros investidores não foram revelados.

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O aporte do Partners Group foi majoritariamente secundário e permitiu a saída parcial de investidores como SoftBank, Riverwood e Astella, que permanecem no cap table da Omie, fundada e liderada pelo empreendedor Marcelo Lombardo.

O aporte em equity é maior do ano em uma startup brasileira, segundo informações da plataforma SlingHub. Na América Latina, é o terceiro maior, atrás das mexicanas Klar (US$ 170 milhões) e Plata Card (US$ 160 milhões).

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Para a Partners, o investimento se encaixa em uma tese global de digitalização de PMEs (pequenas e médias empresas), tendência que já se consolidou em outros mercados e ainda tem baixa penetração no Brasil.

“Nós encontramos na Omie o melhor ativo nesse segmento. No nosso entendimento, eles têm o melhor produto para PMEs, sendo o único baseado em cloud de ponta a ponta”, afirmou à Bloomberg Línea Tiago Andrade, managing director do fundo, que passará a integrar o conselho da empresa.

“E, por fim, acreditamos muito no negócio de embedded finance, que é oferecer serviços financeiros dentro do próprio software, tanto cash management como processamento de pagamento e crédito.”

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O histórico do Partners Hroup no Brasil inclui o controle das redes de alimentos naturais Hortifruti e Natural da Terra, integradas sob a marca Hortifruti Natural da Terra. O negócio foi vendido para a Americanas em 2021.

O grupo mantém hoje posições diretas e indiretas, via fundos de terceiros, em cerca de cinco companhias no Brasil, mantidas sob sigilo. A tese de investir em growth equity no país começou neste ano e a Omie é a primeira escolha.

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Outro elemento que atraiu a atenção da Partners na estratégia da Omie é o canal de distribuição, estruturado no relacionamento com contadores.

A startup tem uma base que soma mais de 28.000 escritórios de contabilidade, cruciais para se aproximar de pequenos e médios negócios.

A Omie tem hoje receita recorrente anual (ARR) próxima de R$ 600 milhões e mira alcançar um milhão de clientes e faturamento de US$ 1 bilhão até 2030.

“Nós atuamos em um mercado de mais ou menos 20 milhões de pequenas empresas, das quais uns 6 milhões estão no nosso alvo principal”, afirmou Marcelo Lombardo, cuja empresa está no mercado desde 2013, na mesma entrevista.

“Ainda hoje é incrível ver como todo mês, mais de 80% das empresas que chegam à Omie estão migrando do papel e caneta e do Excel. É um mercado gigantesco e subpenetrado”, disse o empreendedor.

Esse cenário de baixa digitalização, segundo Lombardo, coloca a Omie em uma perspectiva muito positiva para os próximos anos.

“Usando os canais de venda e os parceiros que nós temos hoje - e sem necessariamente criar novos produtos -, podemos transformar essa empresa facilmente em algo 10 vezes maior”, disse Lombardo.

Além disso, a Omie pretende se tornar um “porto seguro” para PMEs no momento de entrada em vigor da reforma tributária, algo previsto para 2026 - o processo deve elevar o grau de complexidade no curso de sua implementação.

A startup colocou em operação recentemente um sistema para operar o software via WhatsApp, com comandos de voz e texto que permitem, por exemplo, duplicar pedidos, emitir notas e realizar pagamentos integrados ao ERP.

“Nos próximos anos, muitas pequenas empresas vão seguir em direção à digitalização e, de forma muito complementar a isso, temos investido pesado em AI para tirar a fricção da adoção do software”, contou Lombardo.

Assim como outras startups no país, a Omie procura transformar o conhecimento sobre a operação dos seus clientes em produtos financeiros. De acordo com números internos, os clientes da Omie emitem juntos mais de R$ 35 bilhões em notas fiscais eletrônicas todo mês.

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A área, estruturada a partir de aquisições, como a do banco digital Linker, em 2021, e a da plataforma de crédito Ergoncredit, no ano seguinte, representa cerca de 7% da receita - a expectativa é que em 2030 esteja entre 25% e 30%.

A Omie entrou nessa vertical com a oferta de conta digital e a ampliou com soluções de antecipação de recebíveis, incluindo boleto e transação B2B, além de cartão de crédito. As novidades agora estão na área de pagamentos, com produtos como cartões e adquirência.

Segundo Andrade, o papel do Partners Group será acelerar a trajetória já comprovada da companhia.

“Nossa ambição não é mudar o motor, é colocar mais gasolina. Queremos ampliar o número de clientes mas também aumentar a receita por cliente e trazer a conexão global do Partners para a Omie, que poderá aprender com empresas em que já investimos em outros países.”

A gestora vinha monitorando a Omie havia dois anos. As primeiras conversas com investidores presentes no cap table aconteceram em março de 2024, e o “namoro com Lombardo teve início em novembro passado. Depois da exclusividade firmada em julho, o acordo foi fechado em pouco mais de dois meses.

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