Gestora de co-fundador do eBay está otimista com o Brasil e prevê novos aportes

Com US$ 850 milhões sob gestão, a Flourish Ventures, de Pierre Omidyar, amplia a tese para investir em startups dos setores imobiliários, saúde e clima, contou Diana Narvaez, líder de investimentos na América Latina, à Bloomberg Línea

Startups que atuam com soluções para o mercado imobiliário estão no radar da Flourish Ventures (Foto: Paulo Fridman/Bloomberg)
17 de Junho, 2025 | 06:02 AM

Bloomberg Línea Brasil — O mercado de venture capital na América Latina ainda não recuperou o ímpeto de seus melhores dias, mas segue no radar de gestoras globais, com atração de novos investimentos.

A Flourish Ventures, fundo criado por Pierre Omidyar, co-fundador do eBay, planeja quatro novos aportes em startups brasileiras ainda em 2025 e outros nos países vizinhos.

PUBLICIDADE

A estratégia da gestora tem seguido a regra clássica: enquanto o mercado como um todo recua, novas oportunidades surgem.

“Para nós, foi uma oportunidade de ir contra o ciclo, pois não temos que seguir o ‘hype’”, afirmou Diana Narvaez, líder de investimentos da Flourish Ventures na América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea.

Leia mais: Mundo olha para o Brasil como laboratório do blockchain em escala, diz Passoni

PUBLICIDADE

Com US$ 850 milhões em ativos sob gestão, o fundo de venture capital busca fomentar a inclusão financeira a partir das suas investidas.

No Brasil, o banco digital Neon é a startup mais madura do portfólio, uma aposta que começou antes mesmo de o fundo contar com um escritório no país, o que ocorreu apenas em 2022 com a chegada da executiva colombiana.

Outras investidas são a Kamino, de gestão financeira para PMEs, a Swap, de infraestrutura financeira e tecnológica para empresas de gestão de benefícios e despesas corporativas, e a Dolado, com um modelo de marketplace que conecta pequenos negócios com a indústria.

PUBLICIDADE

Depois de anos de investimento em fintechs e em infraestrutura para o setor, a Flourish decidiu ampliar o leque. Proptechs, climate techs e healthtechs entraram no radar, sob a mesma ótica da criação de produtos financeiros.

As conversas estão mais avançadas com as startups do mercado imobiliário, que devem concentrar os aportes.

Leia mais: Itaú incorpora gestão da Kinea Ventures e amplia fundo para startups para R$ 500 mi

PUBLICIDADE

“Estamos olhando para várias startups com ferramentas para toda a cadeia, desde o agente imobiliário até a incorporadora, o locatário e o banco de financiamento”, afirmou Narvaez.

“Existe uma oportunidade muito relevante porque o déficit habitacional continua a crescer. Por outro lado, o que seria equivalente à hipoteca representa entre 7% e 9% do PIB. Em países mais desenvolvidos, está entre 60% a 70%.”

Diana Narvaez, líder de investimentos da Flourish Ventures na América Latina: Estamos olhando para várias startups com ferramentas para toda a cadeia imobiliária, desde o agente até a incorporadora, o locatário e o banco de financiamento

O fundo entra em startups em estágios iniciais com aportes novos em rodadas seed até Série A, com cheques que podem chegar até US$ 4 milhões. Na média, fica entre US$ 1 milhão e US$ 3 milhões, embora tenha também flexibilidade para valores menores.

”Em geral, o nosso investimento é um pouco menor que o do líder da rodada. Gostamos de entrar com valores maiores porque preferimos trabalhar bem perto do fundador”, disse.

Além da América Latina, a Flourish busca oportunidades em três outros macro-mercados: Estados Unidos, que consome cerca de 50% do capital, África e Ásia.

Em LatAm, o portfólio soma nove investidas atualmente, quase metade baseadas no Brasil. A gestora buscou diversificar a presença na região no último ano, com novos investimentos no México e na Colômbia.

Leia mais: Do Tesouro Direto à Loft: parceria busca alavancar aluguel com títulos como garantia

O entusiasmo de Narvaez com o mercado brasileiro agora é explicado pelo que ela chama de mudança de fundamentos, após um período de abundância de capital entre 2020 e 2021 e um longo período de baixos volumes que ainda se arrasta até os dias de hoje.

“Dentro do nosso portfólio mesmo, alguns fundadores começaram a fazer cortes, até de forma preventiva. E começaram a entender como essas mudanças não só ajudavam só no bottom line da startup mas também na comunicação e como times pequenos viraram muito mais produtivos, eficientes e conseguiam vender mais”, disse.

De acordo com Narvaez, os resultados dessa mudança de percepção dos founders tem se refletido na entrada e na retenção de clientes, no lançamento de produtos e no aumento da receita.

“Essa mentalidade empreendedora e a forma como reagem às condições macroeconômicas faz com que as oportunidades sejam muito boas”, explicou. “Estamos muito bullish com o Brasil”, resumiu.

Leia também

BC precisa ser muito mais duro para ancorar as expectativas, diz Kanczuk, do ASA

Esqueça as tarifas. Foco deve estar nos negócios, diz investidor de Facebook e Nubank

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark