Bloomberg Línea — A Arvo, healthtech brasileira especializada em inteligência artificial aplicada ao processamento de transações de saúde, acertou a captação de R$ 106 milhões em rodada liderada pelos fundos Kaszek e Base10 Partners. A rodada atual acontece menos de um ano após um round de R$ 25 milhões liderado pelo Canary.
O novo capital será utilizado principalmente para triplicar o time de tecnologia e dados, ampliar os produtos e acelerar a expansão da base de clientes.
O produto principal da startup é oferecer uma camada de validação com uso de IA proprietária para analisar contas hospitalares, autorizações e sinistros - e evitar fraudes no sistema de saúde complementar.
O objetivo é reduzir pagamentos indevidos e ampliar a eficiência operacional de operadoras de planos de saúde, que hoje dedicam equipes médicas e administrativas a tarefas essencialmente burocráticas.
O chamado “pós-evento”, quando os gastos dos procedimentos médicos são lançados, está no foco da operação.
“Uma internação médica, por exemplo, se torna uma conta médica com dezenas ou centenas de páginas, com cada item que foi consumido, diárias, taxas de uso de equipamentos, materiais e drogas administradas”, disse Fabrício Valadão, CEO e cofundador ao lado de Rafael Tinoco, que atua como CPO (Chief Product Officer).
“Usamos inteligência artificial para garantir esse processamento de forma mais precisa e consistente.”
Segundo os números da startup, a tecnologia já processou mais de R$ 130 bilhões em sinistros e 230 milhões de contas médicas. A taxa de efetivação dos modelos chega a 90%, o que significa dizer que apontamentos indevidos ficam em 10%.
“O nosso papel é liberar o trabalho humano para os desafios mais complexos e estratégicos, deixando que a inteligência artificial cuide da consistência e da precisão das transações”, disse Valadão à Bloomberg Línea.
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A Arvo nasceu de uma dor que ele conheceu ainda em 2011, no início da carreira em consultoria: as ineficiências no processo de faturamento e auditoria de contas médicas.
“Dez anos depois, o setor tinha evoluído pouco. Continuava dependente de processos manuais, caros, inconsistentes e sujeitos a erros”, afirmou.
Antes de empreender, o executivo, formado em engenharia, passou mais de uma década em consultorias como a Bain e a Aio, período em que se especializou no setor de saúde.
Entre os clientes estão nomes como Porto, Athena (empresa que é investida do Patria Investimentos) e Saúde Petrobras, além de operadoras regionais do sistema Unimed.
Ao todo, mais de 65 operadoras já contrataram a solução, em um universo de aproximadamente 700 existentes no país. A Arvo quadruplicou sua carteira em 2024 e projeta triplicar novamente em 2025.
A métrica mais observada e adotada como apelo para a contratação da Arvo está relacionada à produtividade: operadoras que usam a tecnologia registram entre 25% e 30% de aumento na capacidade das áreas de auditoria e regulação, segundo cálculos internos.
Outra conta que a startup utiliza como referência é a economia total gerada desde a fundação em 2022, que seria capaz de financiar 15 milhões de consultas médicas e 1,5 milhão de internações hospitalares de média complexidade. Os números consideram os valores médios da Agência Nacional da Saúde (ANS).
Destino do capital
Com 70 funcionários atualmente, a startup vê no aporte de Kaszek e Base10 Partners - e com a participação da Canary e K50 Ventures - a oportunidade de ampliar sua presença em um setor com baixa digitalização e alto nível de ineficiências.
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“Sempre soubemos que o problema que escolhemos resolver demandaria muito capital. É um desafio de décadas e existe essa dificuldade de garantir a integridade das transações porque é algo super complexo, com nuances e muitos detalhes que precisam ser contemplados para fazer por meio da tecnologia”, disse Valadão.
O novo capital será destinado a duas frentes.
A primeira é triplicar o time de tecnologia e ciência de dados, caminho para reforçar os modelos e escalar uma área de trabalho com dados não estruturados. E, a segunda, ampliar a capacidade de atendimento no mercado.
Além disso, a Arvo avalia oportunidades estratégicas, incluindo eventuais aquisições.
“O caminho pode ser tanto de acquihiring, para fortalecer o time de tecnologia [com capital humano], quanto de extensões de produto e distribuição que acelerem o nosso impacto”, afirmou o CEO.
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