A CrewAI quer liderar a era dos agentes de IA. E já vende até para o Pentágono

Em entrevista à Bloomberg Línea, o fundador e CEO João Moura conta que a startup vai crescer mais de dez vezes em 2025 e que entrou no radar de big techs como IBM, Microsoft e Nvidia e do governo americano para parceria e adoção de sua plataforma

João Moura, da CrewAI, mira um mercado estimado em US$ 47 bilhões em 2030
09 de Outubro, 2025 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — Em uma indústria em que falar em “IA generativa” se tornou lugar comum e em que “agentes de IA” começam a tomar o mesmo caminho, a CrewAI tenta fazer o que muitas empresas prometem mas ainda não conseguem fazer: entregar agentes em escala global.

A startup fundada e liderada pelo brasileiro João Moura, baseada no Vale do Silício, começou o ano de 2025 com clientes que vão de gigantes como PepsiCo e PwC ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos e ao Royal Bank of Canada.

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“Quando falamos de agentes de IA, o mercado ainda está descobrindo o que isso significa na prática”, disse Moura em entrevista à Bloomberg Línea.

“Há um ano ninguém falava sobre isso. Agora todo mundo fala — e quase ninguém entrega.”

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A CrewAI desenvolveu uma plataforma que permite que empresas criem e orquestrem agentes de IA: inteligências artificiais autônomas que executam tarefas complexas com mínima intervenção humana.

O produto é utilizado para automatizar processos como o atendimento a clientes e o desenvolvimento de software; e em áreas como a financeira, o jurídico e o marketing.

“Hoje rodamos mais de 400 milhões de agentes por mês. Alguns clientes começaram com 2.000 execuções e agora estão com meio milhão”, contou o fundador.

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O ganho de eficiência, segundo ele, é o que tem impulsionado a adoção dos agentes. Empresas que antes gastavam cem horas semanais em determinados processos agora reduzem o tempo para três horas — com eficácia média de 94%.

“Hoje, muitas companhias estão vendo os seus concorrentes, em especial empresas de capital aberto, divulgando resultados com economia de milhões de dólares. Isso tem gerado um movimento top-down e se transforma em vantagem competitiva. E levado mais empresas a adotarem os agentes”, disse Moura.

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O modelo de negócios tem atraído grandes corporações que buscam ganhos de produtividade sem depender de times técnicos.

Um dos diferenciais da startup, que chegou ao mercado há quase dois anos, é permitir que qualquer funcionário das empresas que são clientes consiga usar a plataforma, sem a necessidade de ser especialista ou desenvolvedor.

O mundo dos agentes

Com mais de 20 anos no mercado de tecnologia, boa parte trabalhando remotamente para empresas americanas, Moura compara o momento atual com o início do SaaS (Software-as-a-service), em que se dizia que a inovação iria mudar o mundo: a diferença agora é que o ritmo é muito mais rápido.

“Alguns acreditam que o SaaS vai morrer e tudo vai virar agentes. Eu não acho. O que deve acontecer é uma transição: algumas camadas de software serão absorvidas, outras permanecerão e outras terão dificuldades”, disse.

A CrewAI nasceu, nas palavras do fundador, “no momento certo, na hora certa”. Se a primeira onda da IA foi dominada pelos grandes modelos de linguagem (LLMs), a próxima tende a ser guiada pelos agentes.

O momento permitiu à startup atrair grandes nomes entre clientes e investidores. No fim do ano passado, a CrewAI anunciou a captação de US$ 12,5 milhões em rodada Série A liderada pelo Insight Partners.

O aporte foi acompanhado pelo Alt Capital, fundo de venture capital criado pela família de Sam Altman, cofundador e CEO da OpenAI, e comandado pelo seu irmão, Jack Altman.

E ainda por fundos como Blitzscaling Ventures, Craft Ventures e Earl Grey Capital, além de investidores anjos como Andrew Ng, co-fundador do Coursera, e Dharmesh Shah, cofundador e CTO do HubSpot.

De acordo com Moura, 80% dos recursos estão preservados. O plano foi primeiro “provar” os fundamentos e depois acelerar o ganho de escala. Agora, com a base validada, a empresa prepara um novo salto.

Contrato com o Pentágono

No horizonte, estão mercados como América Latina — onde Brasil, Chile, México e Colômbia lideram a demanda — e Ásia, especialmente Coreia do Sul, onde a companhia estuda abrir um escritório nos próximos meses para apoiar a expansão regional.

Os Estados Unidos lideram como a principal origem dos negócios da CrewAI. Brasil e Austrália disputam a segunda colocação.

O faturamento atual, em “múltiplos milhões de dólares”, cresce trimestre após trimestre. “Este ano será mais de dez vezes o resultado de 2024”, afirmou Moura.

Nesses dois anos, um motor importante para abrir caminhos foi a construção de parcerias com grandes nomes de mercado, como IBM e PwC, além de AWS, Microsoft e Nvidia.

Com a IBM, o parceiro mais longevo e também o mais profícuo em fechamento de contratos, a CrewAI venceu a Palantir e muma licitação recente de um projeto do Departamento de Defesa americano.

“Por causa disso, nós começamos a explorar mais o segmento público e temos conversas hoje com o Exército, a Marinha e diferentes órgãos de governo.”

Para apoiar o crescimento, a startup prevê uma nova captação nos primeiros seis meses de 2026. Uma nova rodada poderia ser feita ainda neste ano, mas o caminho escolhido foi chegar ao próximo aporte com dados mais robustos para negociar as condições em melhores termos.

“Queremos levantar uma rodada ainda mais significativa para acelerar um processo de expansão mais global”, disse o fundador.

Essa é uma corrida que está só começando, segundo Moura.

“Até por isso, não acho que haverá uma empresa que vai ganhar o mercado inteiro, mas claramente alguém vai vencer sendo grande. E nós estaremos nesse top 3, com a chance de ser essa startup que vencerá grande.”

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