Bloomberg Línea — A construtora Vitacon, conhecida por seus apartamentos-estúdio, decidiu investir em seu primeiro empreendimento para pessoas acima de 60 anos, de olho em um novo perfil de cliente em ascensão diante das mudanças demográficas no país.
O projeto, chamado de Vitacon Senior powered by Housi, está previsto para lançado no primeiro trimestre de 2026 no bairro de Higienópolis, em São Paulo, segundo Alexandre Frankel, presidente do conselho de administração da Vitacon e CEO da Housi - outra marca do grupo.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o executivo aponta que o Brasil chegou a um momento crítico diante do envelhecimento da população, que na sua visão ainda não é bem atendida pelo mercado imobiliário.
“Estamos engatinhando ainda. Países mais desenvolvidos estão realmente muito mais avançados em termos de soluções, de cultura, dessa moradia”, disse Frankel. “A população da terceira idade está atingindo uma proporção muito alta.”
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Na sua avaliação, o envelhecimento populacional, combinado com o fato de as famílias estarem menores e a crise no sistema previdenciário, criou uma demanda urgente por soluções habitacionais específicas.
“Chegou o momento que é necessário criar uma solução e as pessoas precisam dessa solução. É inevitável”, diz Frankel. “A maior parte dos países desenvolvidos já passou por esse momento e agora é a nossa vez.”

O executivo vê que o mercado brasileiro de moradias para pessoas acima de 60 anos permanece quase inexplorado e pode triplicar de tamanho nos próximos anos. “Nunca foi produzido nada. É um mercado praticamente virgem”, afirma o CEO da Housi.
Ele ressalta que as poucas soluções existentes focam em pessoas sem autonomia, enquanto falta oferta para a terceira idade independente.
GMV de R$ 400 milhões em Higienópolis
O empreendimento em Higienópolis, localizado na esquina da Alameda Barros com a rua Rosa e Silva, terá cerca de 350 unidades com preços entre R$ 600.000 e R$ 1,2 milhão, totalizando um VGV (valor geral de vendas) de aproximadamente R$ 400 milhões.
O terreno de 2.500 metros quadrados abrigará uma torre de cerca de 15 andares, com entrega prevista em 30 a 36 meses após o lançamento.
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A escolha de Higienópolis seguiu critérios técnicos. “Nós detectamos que existe uma população de terceira idade muito grande no bairro, uma demanda e uma condição econômica adequada para esse tipo de produto”, diz Frankel.
A localização também atende uma particularidade cultural brasileira: “A população brasileira quer morar perto de onde ela sempre morou. Na nossa cultura latina, as pessoas querem continuar morando no lugar habitual, perto da família”, diz Frankel.
Parceria com Einstein
O projeto conta com consultoria do Hospital Israelita Albert Einstein, que atuou no dimensionamento de serviços, tecnologia, arquitetura e acessibilidade, segundo a Vitacon.
“O Einstein trabalhou em todo o projeto, em todas as questões de como dimensionar serviço, tecnologia embarcada, arquitetura, tudo que se relaciona à acessibilidade”, afirma o executivo.
Segundo a Vitacon, a instituição de saúde também preparou a operação do empreendimento, incluindo fluxos e dimensionamento de equipes. O plano é focar em longevidade, não apenas em cuidados assistenciais.
“A nossa proposta está muito ligada à terceira idade independente e muito mais longevidade do que cuidados propriamente. Nós queremos trabalhar muito a longevidade”, afirma Frankel.
O empreendimento terá corredor de serviços no térreo com espaço para consultórios médicos, fisioterapia, ambulatório e salão de beleza. As áreas comuns previstas incluem salas de pilates, hidroginástica, academias adaptadas, cinema, refeitório e espaços para dança, artesanato e pintura.
O projeto incorpora tecnologia de Internet das Coisas para monitoramento por meio de pulseiras, colares e sensores. “Nós trouxemos tecnologia de IoT para monitoramento dos moradores. A própria telemedicina aumenta em muita efetividade com uma equipe muito enxuta. Você consegue ter um custo condominal muito barato”, diz o executivo.
As adaptações de acessibilidade incluem portas e corredores mais largos, elevadores que comportam macas, pisos táteis e barras de apoio.
Custo 15% acima do projeto tradicional
O custo de construção fica cerca de 15% acima de um empreendimento tradicional, segundo a Vitacon. Os principais geradores de custo são hidroginástica, sensores tecnológicos, equipamentos de academia e o maior consumo de área destinada à acessibilidade.
A decisão de entrar no segmento teve motivações convergentes. Frankel revela que 30% dos moradores atuais da Housi já têm 60 anos ou mais. “A gente está acompanhando o nosso público, ele também está envelhecendo. A gente tem que seguir na jornada”, diz.
A empresa havia planejado lançamentos no segmento antes da pandemia, mas aguardou maior maturação do mercado.
O CEO ressalta a importância de adaptar o modelo à realidade brasileira. “Não adianta copiar. A realidade do brasileiro é diferente. Eles têm disponibilidade econômica diferente. O prédio tem que ser enxuto do ponto de vista de custos”, afirma.
A Vitacon já planejou lançamentos similares em Perdizes, Jardins e Moema para 2026. O segmento representa atualmente 10% do portfólio de lançamentos da construtora. A Housi levará o modelo para outras cidades por meio de parcerias com incorporadores locais.
“É uma demanda de toda a sociedade brasileira. É um envelhecimento da população, ele não é localizado, ele é generalizado”, conclui Frankel.
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