Starbucks retoma expansão e prevê 30 novas lojas no Brasil em 2026, diz líder no país

Em entrevista à Bloomberg Línea, Mariane Wiederkehr detalha os planos da rede global de cafeterias no país, que incluem novo formato de loja, foco em conveniência e ocasiões de consumo, novo cardápio com refeições e investimento em baristas

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Bloomberg Línea — A Starbucks Brasil planeja abrir cerca de 30 novas unidades em 2026, o que representará um crescimento de 27% em relação à rede de 112 lojas, segundo contou a presidente para o país da rede global de cafeterias, Mariane Wiederkehr, em entrevista à Bloomberg Línea - a primeira em que abriu os planos de expansão depois de um ano de “reconstrução” da operação.

A executiva foi nomeada para o comando da Starbucks Brasil em outubro de 2024, após a conclusão da transação que transferiu a operação para a Zamp, empresa responsável também por Burger King, Popeyes e Subway no país.

Publicitária de formação, Wiederkehr construiu a sua carreira nas indústrias de shoppings centers e de private equity: anteriormente, trabalhou na Multiplan, na brMalls (hoje Allos) e no Patria Investimentos, entre outras empresas.

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A operadora anterior da Starbucks no país, a SouthRock Capital, que havia trazido a rede para o país, entrou em recuperação judicial em dezembro de 2023 com dívidas de R$ 1,8 bilhão. No processo de crise, cerca de 50 lojas fecharam.

A Zamp, controlada pelo Mubadala Capital, gestora do fundo soberano de Abu Dhabi, arrematou a operação da Starbucks no Brasil por R$ 120 milhões, valor ajustado depois para R$ 101,8 milhões.

Na entrevista na loja da Starbucks localizada no complexo São Paulo Corporate Towers, na Vila Olímpia, a presidente da operação no país ressaltou as sinergias com a Zamp em frentes como supply chain, logística e tecnologia, que ajudam a mitigar a pressão de custos sobre o seu principal insumo.

“Fomos capazes de não repassar todo o aumento de custos do café para o consumidor”, afirmou a executiva.

Atualmente o “cafezinho brasileiro” custa R$ 10,90, enquanto o caramelo macchiato no tamanho maior chega a R$ 20, preços próximos aos cobrados em redes de outras marcas, em cafés independentes e em padarias.

Ao mesmo tempo, disse que uma das prioridades deste ano foi manter níveis elevados de atendimento, que apontou como diferencial versus a concorrência em um país conhecido pela tradição do hábito de tomar café.

A Starbucks atingiu 90% de NPS (índice de satisfação do cliente) em novembro, índice considerado excepcional para o varejo, segundo a executiva. O resultado veio após investimento em treinamento de baristas: o programa Coffee Master formou quase 200 especialistas em 2025.

O plano de expansão já começou a ser executado no fim de 2025: neste mês, duas lojas tiveram inaugurações marcadas: uma no aeroporto de Curitiba (em 5 de dezembro) e outra na esquina da rua Pedroso de Moraes com a dos Pinheiros, em São Paulo (30 de dezembro). Com isso, serão 112 lojas.

A loja em Pinheiros, um dos bairros considerados mais dinâmicos de São Paulo e do Brasil em termos de comportamento e demanda em bares, restaurantes e cafés, vai inaugurar um novo formato da Starbucks no país: a Community Coffee House.

“O desafio é aumentar a conveniência. Precisamos ser mais presentes no dia a dia do brasileiro”, afirmou sobre os objetivos.

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Em 2026, 80% da expansão será concentrada em São Paulo; a rede vai fortalecer também presença em Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.

Há um ano, fontes disseram à Bloomberg News que a meta de longo prazo da Zamp é abrir 1.000 lojas da Starbucks no Brasil - o México tem mais de 900.

“É o nosso sonho. Mas vamos equilibrar velocidade e consistência operacional”, ressaltou Wiederkehr sobre a estratégia e o timing de expansão.

O crescimento passa também por mudanças no cardápio, em frente que inclui a renovação do menu em janeiro e fevereiro.

A plataforma de cafés brasileiros — Cafezinho Puro, Média e Pingado — será complementada por sanduíches, bowls, saladas e iogurtes.

“Deixamos de ser só lanche. É sobre aumentar as ocasiões de consumo”, explicou Wiederkehr .

Trata-se de uma oportunidade para reforçar as vendas. Hoje a alimentação representa 30% do faturamento, mas há potencial para atingir 50%.

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Presente na entrevista, Filipe Reis, head de marketing, reforçou o esforço para conciliar identidade global e paladar local: “O novo espresso tem torra clara, diferente do padrão global, porque é o que o brasileiro prefere.”

Os planos de expansão passam também pelo delivery, presente em 75 das 112 lojas. O canal digital representa 6% das vendas e pode chegar a 15%, segundo ela.

Confira principais trechos da entrevista com Mariane Wiederkehr, editada para fins de clareza e compreensão:

Qual a visão da Zamp e do Mubadala Capital sobre o potencial da Starbucks no Brasil?

O Brasil é o maior produtor mundial de café, com altíssimo consumo e dimensões continentais. A Zamp já tem mais de mil unidades do Burger King, sabe escalar e operar. Você soma expertise em alimentação em grande escala com uma marca icônica. O Mubadala no Brasil é tocado por brasileiros que conhecem o negócio profundamente.

O que mais chamou a sua atenção na transição de gestão para a Zamp?

A paixão dos baristas pela marca, com pessoas muito comprometidas com o sucesso da marca, com os clientes. E consumidores ansiosos pela volta.

Qual foi o principal foco da sua gestão em 2025?

Olhar para dentro e garantir excelência operacional. Investimos em retreinamento de baristas. Formamos quase 200 Coffee Masters. Em novembro, atingimos 90% de NPS [Net Promoter Score].

Sobre o plano de expansão: quantas lojas serão abertas em 2026?

Serão 30 novas lojas, 80% em São Paulo. O restante em Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.

Como a Starbucks se adapta ao consumidor brasileiro?

Lançamos pela primeira vez uma plataforma de café brasileiro: pingado, média, cafezinho. Em janeiro e fevereiro de 2026, mudaremos 100% do menu de comida com adaptação ao paladar brasileiro.

Qual é a estratégia de precificação da marca?

As sinergias com a Zamp ajudam a ter mais espaço no preço. A plataforma de café brasileiro vem alinhada com o mercado. Temos produtos elaborados como caramelo macchiato, mas os de rotina estão alinhados com o mercado brasileiro.

Como funcionam as sinergias com a Zamp?

Temos sinergia em supply: leite, pão, queijo. Na logística, em vez de mandar um caminhão para Salvador para duas operações, sai um abastecido com produtos Popeyes, Burger King e Starbucks.

Como lidam com o aumento do custo do café?

Não repassamos todo o aumento, justamente porque trazemos eficiências na cadeia ao fazer parte do sistema da Zamp. Conseguimos segurar esse aumento. Estamos lançando produtos mais competitivos quando o café passa por desafios de preço.

Delivery é prioridade da marca no país?

Sim. É construção de hábito. Já temos em 75 lojas no país. Os mercados maduros, como os EUA, estão com as vendas via delivery próximas de 15% da receita total. A Starbucks Brasil está em 6%. Temos espaço para mais que dobrar.

Como enxergam a concorrência?

Nos diferenciamos pela obsessão pela qualidade do café. Aqui você encontra café brasileiro excelente e também do Quênia, de Sumatra, da Colômbia. O segundo diferencial é o compromisso com o barista. O terceiro é a conexão humana.

Qual é a visão de crescimento para Brasil?

O México tem mais de 900 lojas, é a maior operação na América Latina. Esse é o nosso sonho. Mas faremos equilibrando velocidade e consistência operacional. O desafio é aumentar a conveniência, sermos mais presentes no dia a dia do brasileiro.

Haverá franquias no Brasil dentro do plano de expansão?

Todas as lojas são próprias. Operamos 100%. Globalmente há licenciamento, mas não franquia tradicional. Isso dá controle operacional e qualidade. Controlar a operação e cuidar da relação com o cliente é fundamental.

Como funciona o fornecimento de café brasileiro?

Quase metade do café que vendemos no mundo é brasileiro. Compramos de produtores em Minas [Gerais], São Paulo e Bahia. Temos certificação com práticas sustentáveis chamado Café Practices. Desde 2021, o Centro de Suporte ao Agricultor em Varginha [no interior de Minas Gerais] trabalha diretamente com produtores.

Como veem a competição de cápsulas nos escritórios?

O consumo de café nos escritórios sempre existiu. Antes era garrafa térmica, agora cápsula. Mas café faz parte do dia a dia, você toma mais de três xícaras por dia. Cada uma tem ocasião diferente. Tem o café em casa para acordar. Outro no escritório para dar energia. E outro quando você quer sentar e conversar. Nos colocamos em outra ocasião de consumo.

Há alguma parceria para crescer em cápsulas?

Sim. O café em cápsula da Starbucks é da Nestlé. É um business club. Não vendemos nas lojas, mas você tem a opção nos supermercados. A marca está presente em todas as ocasiões de consumo.

Como lidam com as mudanças nos hábitos de consumo de café entre gerações?

Cerca de 95% da população adulta consome café. Entre os mais jovens, há abertura maior para café gelado. No Brasil ainda predomina o quente, especialmente no café da manhã e depois do almoço. Mas café gelado e matcha crescem exponencialmente. Na Ásia, o consumo entre jovens já é majoritariamente gelado.

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