Salários em queda sinalizam nova fase do trabalho remoto em LatAm, apontam dados

Cargos em áreas como marketing e produto estão entre os de maior queda em 2023 nesse tipo de jornada, segundo dados da Deel, plataforma global de folha de pagamento e RH

No Brasil, cargos de consultoria tiveram as maiores quedas nos salários anuais em jornadas remotas (Foto: Qilai Shen/Bloomberg)
05 de Maio, 2024 | 07:59 AM

Bloomberg Línea — A contratação de trabalhadores remotos continua a ser uma tendência presente tanto na América Latina como no resto do mundo, mas novos números revelam um início de mudança nos salários médios anuais de certas profissões nesse modelo de jornada.

Dados da plataforma global de folha de pagamentos e recursos humanos Deel, publicados em primeira mão pela Bloomberg Línea, mostram que setores como marketing, produtos e operações tiveram queda de salários anuais entre 2022 e 2023, na maioria das regiões analisadas (Ásia-Pacífico, América do Norte, Europa, Médio Oriente e África).

Enquanto isso, outras profissões relacionadas ao setor de tecnologia, como engenheiros de software e de dados, mantiveram os salários anteriores ou tiveram quedas menos drásticas e, em alguns casos, tiveram aumento no salário.

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Na América Latina, que no estudo anterior separava a região do Brasil por ser um mercado com cenários específicos, as áreas de marketing e produto foram as mais impactadas. A primeira passou de um salário médio anual de US$ 40.059, em 2022, para US$ 24.292, em 2023; a segunda passou de US$ 41.863 para US$ 35.266.

No caso do Brasil, as profissões relacionadas à consultoria tiveram uma queda mais acentuada nos salários médios entre os dois anos, passando de US$ 64.816 para US$ 30.709 ao ano.

Enquanto isso, para os engenheiros de software o cenário salarial não mudou muito na região e no Brasil. Em ambos os casos, o salário foi mantido ou aumentado entre 2022 e 2023, sendo a profissão com remuneração mais constante nas demais regiões analisadas.

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Em janeiro, a Deel destacou em seu Relatório sobre contratações na América Latina que em 2023 as contratações na região haviam crescido 35%, com Argentina, Brasil e Colômbia liderando em número de trabalhadores contratados.

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Salários de cargos remotos na América Latina em 2023

Em outro segmento de salários médios anuais, quatro dos cinco grupos trabalhistas analisados apresentaram queda nos salários entre 2022 e 2023 na América Latina.

Dados da Deel mostram que a área de produto foi a única que manteve média salarial semelhante de um ano para o outro.

Entretanto, os salários nas áreas de dados, finanças, pesquisa e engenharia de software caíram. Os dois últimos, inclusive, foram os que apresentaram maior queda média entre os dois anos. Na pesquisa, os salários anuais passaram de US$ 64.666 em média, em 2022, para US$ 53.163 em 2023; e na engenharia de software passaram de US$ 60.922 para US$ 54.447 entre os dois anos.

Segundo a empresa de recursos humanos, no ano passado houve um crescimento médio de 2% nos salários da região.

Do trabalho remoto ao modelo híbrido ou flexível

O trabalho remoto, tão impulsionado pela pandemia da covid-19, parece perder força na América Latina, em decorrência da queda nos salários, além de outros fatores macroeconômicos específicos de cada país.

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Em janeiro de 2024, a região aparecia com apenas 10% de adoção do trabalho remoto, em comparação com 29% na Europa, Médio Oriente e África (EMEA), 25% na Ásia-Pacífico e 24% na América do Norte, segundo a JLL.

“Embora possa parecer que os empregadores finalizaram os planos de retorno ao trabalho presencial e codificaram as suas políticas de trabalho flexível pós-pandemia, na realidade, 41% planejam fazer mais mudanças este ano”, disse a empresa de serviços profissionais Mercer no seu recente relatório Força de Trabalho 2.0.

Ele detalha que para os 10% que estão mudando para uma forma de trabalhar mais presencial, as oportunidades de aprender comportamentos corporativos e o aumento dos riscos cibernéticos no trabalho remoto estão influenciando sua decisão.

Além disso, afirma-se que o setor de tecnologia “lidera a transição para um trabalho mais presencial”, mas a maioria daqueles que fazem mudanças prefere adotar o modelo flexível para todos os seus funcionários.

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“O seu principal impulsionador é o aumento da produtividade, o que coincide com os 64% dos trabalhadores que afirmam ser mais produtivos quando trabalham remotamente. Outros fatores importantes são o maior comprometimento dos funcionários e a melhoria da cultura organizacional”, destacou a empresa.

Atualmente, o modelo dominante é o presencial em tempo integral (38% dos trabalhadores, mais 16% adicionais que trabalham a maior parte do tempo pessoalmente), seguido por 27% em um modelo híbrido 50/50 e 10% remoto completo (com 10% adicionais no modelo remoto na maior parte do tempo).

Apenas 22% das organizações estão ampliando suas opções de trabalho flexíveis para atrair os melhores talentos, refletindo uma mudança nas preferências dos funcionários por “passar tempo juntos”.

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O estudo Tendências Globais de Talentos da Mercer toma como base dados de mais de 12.200 executivos seniores, líderes de recursos humanos, funcionários e investidores em 17 regiões geográficas e 16 setores.

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Sebastián Osorio Idárraga

Comunicador social e jornalista. Ex-editor da revista Hogar en Semana. Ex-jornalista econômico da Revista Dinero e da Radio Nacional de Colombia. Podcaster.