Bloomberg Línea — Conhecida pelo horizonte de arranha-céus, a cidade catarinense de Balneário Camboriú quer se tornar uma referência internacional no mercado dos chamados edifícios supertalls, com torres acima de 300 metros de altura.
O Senna Tower, projeto da FG Empreendimentos em parceria com a marca Senna e investimento da Havan, de Luciano Hang, terá pouco mais de 550 metros de altura e, quando finalizado, em 2033, será o edifício residencial mais alto do mundo.
“Um empreendimento com esse conjunto todo, com o conceito do Senna por trás, é algo que leva a marca FG e a cidade a outro patamar”, afirmou Jean Graciola, co-fundador e CEO da construtora, em entrevista à Bloomberg Línea em seu escritório em Balneário Camboriú.
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Os números superlativos incluem um VGV (Valor Geral de Vendas) de R$ 8,5 bilhões para o projeto. Entre recursos da FG e do bilionário Luciano Hang, terão sido investidos aproximadamente R$ 3,5 bilhões no empreendimento.
A expectativa é que o projeto resulte em relevância internacional para a FG com a entrada no segmento dos supertalls e posicione a cidade de BC, como é conhecida, no roteiro internacional de turismo incentivado pelos megaprojetos, na esteira do que ocorre hoje em Dubai.

Não por acaso, a cidade hoje já ostenta a fama de ser a “Dubai brasileira”.
“Quando alguém vai a Paris, conhece a cidade visitando marcos como a Torre Eiffel, o Museu do Louvre. As pessoas vão vir para o Brasil visitar um ponto turístico que será o Senna Tower, um marco para levar o Brasil para o mundo”, disse o executivo.
O empreendimento tem atraído turistas da própria cidade com um balão de capacete da marca Senna colocado em frente ao terreno do empreendimento, além de show de luzes para inauguração da maquete de 14 metros de altura – equivalente a um prédio de quatro andares.
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Verticalização na FG
Alturas recordes não são exatamente uma novidade no portfólio da FG, que está por trás de cinco dos dez prédios mais altos já construídos no país, todos em Balneário Camboriú.
O mais alto do portfólio da empresa atualmente é o One Tower, com 290 metros de altura – superado por pouco pelo complexo Yachthouse, que estava na segunda colocação até 2024, quando instalou pináculos decorativos que levaram as torres gêmeas uma para altura recorde de 294 metros.

Com o novo projeto acima de 500 metros de altura, a FG abre larga distância de altura entre os concorrentes nacionais e também frente a seus projetos anteriores. O CEO da construtora nega que o projeto represente uma espécie de competição por altura na cidade.
“[O recorde] acabou acontecendo em consequência de terreno e de valores que precisavam ser agregados a ele, por ser estreito e comprido”, disse. A opção por altura garante vista para o mar em todas as unidades.
Em Balneário Camboriú, a busca pela altura é resultado de incentivo público com planos diretores favoráveis, além de intensa disputa por terrenos à beira-mar. A barra sul da praia é a mais disputada, onde estão localizados os espigões mais altos.
“Queremos sempre construir o máximo possível porque são os terrenos mais caros do Brasil. Vale a pena ir ao limite do que a prefeitura permite”, explicou Stephane Domeneghini, engenheira civil responsável pela obra.
“A vista para o mar em Balneário Camboriú costuma dar uma diferença de 40% no preço. Portanto, mesmo que custe mais construir um prédio alto, vale a pena pela valorização da vista.”
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O Senna Tower deve ficar muito acima de outros pares que adotam essa estratégia: a cidade tem apenas quatro edifícios construídos acima de 200 metros de altura.
Em 2025, a FG espera lançar cinco novos projetos e entregar outros quatro – todos acima de 140 metros de altura.
Para efeito de comparação, a média de altura de um prédio residencial em São Paulo (SP), maior cidade do país, varia de 60 a 80 metros, com poucos exemplares que ultrapassam a marca de arranha-céu, de 150 metros.
Outro ponto que favorece os edifícios altos em BC, na visão de Guardiola, é a rentabilidade frente ao preço do metro quadrado na cidade – hoje em uma média de R$ 14.500 segundo o FipeZAP, o maior patamar do país.
O preço do metro quadrado é ainda maior para as construções de altíssimo padrão que se tornaram o cartão de visitas da cidade e são negociadas na casa dos R$ 80 mil/m². O Senna Tower será negociado, em média, a um preço de R$ 100 mil/m², um dos mais valorizados do país, segundo projeções.
Somando o custo da área privativa com a área total, o valor final dos apartamentos deve variar entre R$ 28 milhões e R$ 300 milhões.

Ao todo, serão 228 unidades. Os 204 apartamentos mais “enxutos” terão até 400 m², além de 18 unidades de 420 a 563 m². Na parte mais alta estarão quatro coberturas duplex de 600 m² e duas coberturas triplex, de 903 m².
A construtora já comercializou R$ 1,3 bilhão em VGV do Senna Tower.
O CEO não abre os nomes dos compradores, mas diz que há personalidades entre eles.
A cidade é conhecida pelos veranistas famosos, como os jogadores de futebol Neymar e Cristiano Ronaldo e os cantores Luan Santana e Alexandre Pires. O jogador português e sua família são, a propósito, garotos-propaganda da FG e de seus empreendimentos.
Os principais compradores estão concentrados nas regiões Sul e Centro-Oeste do país, além de clientes internacionais.
A empresa não abre quantos dos compradores da Senna Tower são investidores, mas afirma que, em geral, 80% dos clientes costumam comprar seus apartamentos para uso próprio, principalmente como segunda residência.
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Primeiro prédio da marca Senna
O empreendimento representa a entrada da marca Senna no mercado imobiliário, a exemplo do que fazem grifes de luxo como Pininfarina e Armani, que já têm parcerias com construtoras nacionais - como a Cyrela e a Gafisa - para assinatura de projetos de edifícios de luxo.
O interesse inicial partiu da própria marca, que estudava uma parceria no segmento de real estate desde 2014 e tinha interesse em iniciar a frente pelo Brasil, país natal do piloto Ayrton Senna.

“A altura não era um fator impeditivo para uma parceria, mas ser o residencial mais alto do mundo é ótimo para a mensagem da marca, de busca pela melhor versão”, afirmou Bianca Senna, CEO da Senna Brands e sobrinha do piloto brasileiro, em entrevista à Bloomberg Línea.
Além do espaço privativo dos apartamentos, o prédio terá 13.000 metros quadrados de área aberta ao público, com memorial dedicado ao piloto e área de entretenimento com cerca de 20 simuladores e pista interna de kart.
A empresa também tem planos de levar a marca para outros projetos imobiliários, inicialmente fora do Brasil. Locais onde o piloto realizou corridas históricas, como Mônaco, estão no radar a longo prazo.
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