Tesla tem ‘choque de realidade’ com perda de impulso do mercado de carros elétricos

Depois de dobrarem de valor em 2023, as ações da montadora tiveram o pior começo de ano de sua história diante de uma série de notícias negativas

Estaciones de recarga de Tesla
Por Esha Dey
13 de Janeiro, 2024 | 12:15 PM

Bloomberg — A Tesla (TSLA) teve um ano próspero em 2023 e suas ações mais do que dobraram de valor em 12 meses. Mas 2024 começou de forma diferente. A fabricante de veículos elétricos de Elon Musk teve o pior início de ano de sua história no mercado de ações.

A empresa perdeu mais de US$ 94 bilhões em valor de mercado nas duas primeiras semanas de 2024. Não é difícil entender o motivo, já que a fabricante de veículos elétricos com sede em Austin, no Texas, tem sido atingida por uma enxurrada de notícias negativas: uma reversão nos planos de compras de veículos elétricos da gigante de aluguel de carros Hertz (HTZ), mais uma redução de preços em seus carros produzidos na China e sinais de aumento dos custos trabalhistas.

Tudo isso ocorre em meio a uma desaceleração no crescimento da demanda por veículos elétricos, especialmente nos Estados Unidos.

“A principal preocupação dos investidores em relação à Tesla é o crescimento estagnado”, disse o analista da Cowen, Jeffrey Osborne, em uma entrevista.

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Os cortes de preços na China apenas aumentam essas preocupações, pois parece cada vez mais que há “uma corrida ao fundo do poço para a indústria de veículos elétricos, dada a intensa competição nesse mercado”, segundo ele.

O efeito no valor de mercado da Tesla no início do ano é o maior que a empresa já viu em um período semelhante desde que a empresa abriu capital em 2010.

Em percentuais, a queda de 12% da Tesla desde o início de janeiro é a pior desde 2016 para um começo de ano, quando as ações caíram 14% nos primeiros nove dias de negociação.

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Para piorar, as chances de uma retomada iminente para a fabricante de veículos elétricos não parecem boas.

A Tesla tem reduzido os preços de seus carros de forma agressiva desde o início de 2023, na tentativa de impulsionar a demanda.

Mas o resultado tem sido uma erosão de sua outrora sólida margem de lucro. A margem bruta automotiva da Tesla, excluindo créditos regulatórios, no terceiro trimestre caiu para 16,3% em relação a 27,9% no ano anterior. E a pressão tem aumentado, agora que os trabalhadores das fábricas da Tesla nos Estados Unidos recebem aumentos salariais.

“Estamos passando por uma desaceleração cíclica para veículos elétricos, mas as dinâmicas competitivas estão exacerbando as pressões cíclicas”, disse Ivana Delevska, diretora de investimentos da Spear Invest, em entrevista. “Cortes de preços e margens em queda são todos resultados dessas dinâmicas competitivas desfavoráveis.”

Além das preocupações, a Tesla teve que redirecionar os pedidos destinados à sua fábrica em Berlim devido a ações militares do Ocidente e preocupações com a segurança no Mar Vermelho, e irá suspender a maior parte da produção em sua fábrica alemã de 29 de janeiro a 11 de fevereiro, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto ouvida pela Bloomberg News.

Não é suficiente

A Tesla fez o primeiro alerta sobre a desaceleração da demanda por veículos elétricos durante a divulgação do seu relatório financeiro do terceiro trimestre, em outubro. Quase imediatamente depois, montadoras e fornecedores em todo o mundo deram suas previsões pessimistas. Muitas montadoras reduziram seus planos de expansão.

Em seguida, no início deste mês, a Tesla divulgou seus números de entrega do quarto trimestre. Embora tenham sido melhores do que o esperado pelos analistas, eles deixaram a empresa atrás da BYD, da China, em vendas globais de carros elétricos.

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O resultado tem sido um duro despertar para os investidores da Tesla. No ano passado, as ações da empresa tiveram o oitavo melhor desempenho do S&P 500. Até agora neste ano, estão entre as oito piores.

Naturalmente, Musk sente um grande impacto pessoal. A pessoa mais rica do mundo, que ampliou a fortuna em 2023 mais do que qualquer outro bilionário, viu seu patrimônio diminuir em US$ 23 bilhões até agora neste ano, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

Musk reconquistou o primeiro lugar no índice de riqueza da Bloomberg no ano passado, ultrapassando Bernard Arnault, mas agora Jeff Bezos se aproxima rapidamente dele, com US$ 179 bilhões em comparação com os US$ 206 bilhões de Musk no fechamento de sexta-feira (12).

A maior parte da fortuna de Musk vem de sua participação de 13% na Tesla e cerca de 304 milhões de opções de ações. Ele também possui cerca de 42% da SpaceX, que é avaliada em cerca de US$ 53 bilhões, de acordo com o índice de riqueza da Bloomberg.

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Ainda o líder

Mesmo com tudo isso, a Tesla continua sendo uma empresa-chave na transição global de veículos movidos a gasolina para veículos elétricos.

O motivo: está muito à frente de seus potenciais concorrentes. A BYD da China pode ter ultrapassado a Tesla em número de unidades vendidas, mas ainda fica atrás em receita e lucros. E a BYD não vende carros nos Estados Unidos, onde a Tesla se mantém como líder de mercado.

De muitas maneiras, o maior problema da Tesla pode ser seu passado de sucesso e a esperança que gerou. À medida que os investidores compravam ações, a capitalização de mercado da Tesla disparou, tornando-a muito maior do que qualquer outra empresa automobilística do mundo.

No entanto, com a valorização das ações, os papéis também se tornaram altamente vulneráveis a grandes reações a qualquer notícia negativa.

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É por isso que tantos defensores da Tesla argumentam que ela não deve ser comparada às montadoras de carros comuns.

Para eles, o verdadeiro valor da empresa está no futuro e na esperança de desenvolver os primeiros veículos totalmente autônomos.

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O único problema é que a Tesla promete isso há anos e a maioria dos especialistas diz que a tecnologia ainda está a anos, talvez até décadas, de distância.

“A Tesla não conseguiu cumprir suas promessas de direção totalmente autônoma e IA, que já estão embutidas na avaliação das ações”, disse Delevska da Spear. “Ser apenas mais um fabricante de automóveis não será suficiente para uma avaliação de US$ 750 bilhões.”

-- Com a colaboração de Matt Turner, Kristine Owram e Ed Ludlow.

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