Bloomberg Línea — O governo de Donald Trump manteve as tarifas de 50% sobre alguns dos mais importantes produtos da siderurgia brasileira.
Diante desse quadro, a tendência é que empresas do setor busquem diversificação por meio de fusões e aquisições (M&A), segundo estudo da A&M (Alvarez & Marsal), obtido com exclusividade pela Bloomberg Línea.
Se o “tarifaço” persistir por mais tempo, é provável que o setor experiencie efeitos semelhantes aos ocorridos em 2018, quando a primeira administração de Donald Trump na maior economia do mundo aplicou uma tarifa de 25% sobre o aço brasileiro.
Na ocasião, houve retração das exportações, foco no mercado doméstico, diversificação nos M&As locais e busca por eficiência operacional.
Em paralelo à época, Brasil e EUA negociaram uma cota de 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e de 687 mil toneladas de produtos laminados que poderiam ser exportados para o mercado norte-americano sem a tarifa de 25%.
Desta vez, as negociações ainda não chegaram a esse estágio.
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Trump anunciou alíquotas globais para aço e alumínio em duas fases neste ano: de 25% em junho e julho e de 50%, que entra em vigor nesta sexta, 1º de agosto.
Produtos como aços especiais e inoxidáveis, laminados de aço e tubos e conexões de aço seguem na lista de produtos que sofrerão a sobretaxa de 50%.
“Quando olhamos para o ‘tarifaço’, certamente haverá um movimento de diversificação na siderurgia brasileira na busca por proteção”, disse a diretora sênior de M&A na A&M Performance (unidade de negócios da A&M), Carla Zaiden, à Bloomberg Línea.
“O Brasil já mudou o perfil de exportação de aço nos últimos anos. Agora um movimento de compra de empresas que não estão diretamente ligadas à atividade vai formar um setor muito mais resiliente”, disse a executiva.
Entre 2018 e 2024, foram realizadas 28 transações no setor, com um montante total de US$ 4,8 bilhões.
As principais alavancas para fusões e aquisições, no período, foram ganho de participação de mercado (50%), diversificação (35%) e verticalização (15%).
Na avaliação de Zaiden, a busca por market share deve continuar a impulsionar majoritariamente os M&As, porém a entrada em novos negócios também deverá ser uma alavanca importante para o movimento.
Os exemplos de diversificação incluem aquisições de empresas da construção civil e de energias renováveis, para garantir autossuficiência.
No passado recente, a diversificação foi marcada pela entrada estratégica de siderúrgicas no ramo das cimenteiras. Isso porque as empresas de aço podem usar subprodutos da atividade, como a “escória”, para a produção de cimento.
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Segundo a A&M, a compra da LafargeHolcim pela CSN (CSNA3), concluída em 2022, é um exemplo de como a diversificação e a integração sustentaram as margens Ebitda da siderurgia na faixa de 13% a 17%.
De acordo com Guilherme Resende, analista sênior da A&M Performance, a indústria cimenteira possui margens Ebitda próximas de 20% e isso ajuda a melhorar a rentabilidade da siderurgia e também no processo de descarbonização da atividade, por meio justamente do uso de seus subprodutos.
Na avaliação da diretora sênior de M&A na A&M Performance, o setor siderúrgico no Brasil pode aplicar a lógica de integração e diversificação como resposta inteligente ao novo choque tarifário.
Mas não se trata de movimento sem riscos, apesar dos ganhos citados. “A empresa não está investindo na sua cadeia de valor principal, mas em outro setor”, disse Zaiden.
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Opções limitadas
Há outros fatores que devem ser levados em conta.
Resende ponderou que hoje as opções são limitadas na indústria cimenteira, dado que, por exemplo, o ganho de escala com a escória demanda que a planta siderúrgica esteja próximo da fábrica de cimento para capturar sinergias.
Segundo o estudo, a pergunta que fica com o “tarifaço” não é se haverá novos M&As mas o quão rápido e coordenado será o movimento diante do novo cenário.
Para a A&M, se em 2018 houve uma primeira onda de M&As estratégicos na siderurgia, em 2025 pode haver uma “faísca” para uma segunda rodada, desta vez mais “madura”, com empresas que busquem não só eficiência mas também inovação e integração de cadeias.
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