Stone avança além do ‘guidance’ e em banking, diz CFO. Falta convencer o mercado

Em entrevista à Bloomberg Línea, Mateus Scherer aponta que números do trimestre em rentabilidade, depósitos e crédito sinalizam ano acima do projetado; ações caíram 8% após resultado

Stone amplia a linha de produtos para pessoas jurídicas
14 de Maio, 2024 | 02:09 PM

Bloomberg Línea — Em sua jornada para entregar um crescimento mais diversificado - que vai além do pagamento via maquininha - com rentabilidade, a Stone tem adotado uma série de medidas, que se refletiram na apresentação no seu Investor Day de guidances (projeções) para 2024 e o período que se estende até 2027.

A julgar por alguns dos números do primeiro trimestre, divulgados na noite de segunda-feira (13) depois do fechamento do mercado, a execução da estratégia tem levado a operação a ganhar tração em ritmo acima do esperado para o guidance em algumas frentes, ao menos neste primeiro momento.

“O grande highlight do trimestre foi a rentabilidade da companhia”, disse o CFO da Stone (STNE), Mateus Scherer, em entrevista à Bloomberg Línea. Ele apontou para dados que sinalizam um desempenho acima do guidance deste ano cheio, apresentado ao mercado em novembro passado.

“A rentabilidade tem evoluído até melhor do que esperávamos”, disse. “A companhia tem evoluído trimestre a trimestre, o que mostra que estamos bem encaminhados”, afirmou em referência ao lucro líquido ajustado de R$ 450 milhões de janeiro a março, com tendência de melhora do resultado nos próximos períodos, e o guidance de superar R$ 1,9 bilhão no ano cheio de 2024.

PUBLICIDADE

Um desempenho semelhante tem acontecido com depósitos, que chegaram a R$ 6 bilhões ao fim de março, com expansão de 53% em doze meses. O guidance para o ano é superar R$ 7 bilhões.

“Esse salto do terceiro trimestre de 2023 para o primeiro deste ano foi bastante superior ao que prevíamos”, disse o CFO da Stone. Em crédito (veja mais abaixo), o resultado do ano também deve ficar acima da projeção.

Leia mais: Stone, em nova fase, quer avançar além da maquininha e mira mercado de R$ 100 bi

Apesar da avaliação do CFO, a reação inicial de investidores indica que falta convencer o mercado de que, no curto prazo, métricas abaixo do esperado por analistas não alteram a consistência da estratégia de médio e longo prazo e a sua capacidade de entrega.

As ações recuaram 8,11% nesta terça-feira (14) na Nasdaq, depois que receitas e lucros no primeiro trimestre ficaram abaixo da mediana das projeções segundo a Bloomberg. Em 12 meses, ainda há valorização de quase 10%.

O crescimento com rentabilidade tem sido colocado como uma das prioridades da Stone em sua nova fase.

O objetivo é que o resultado refleta a capacidade de entrega de soluções para os clientes, com crescimento acima da média de mercado e ganho de market share no segmento de micro, pequenas e médias empresas (MSMB na sigla em inglês) - e com reflexos na monetização e no ganho de eficiência, segundo explicou Lia Matos, CSO (Chief Strategy Officer) da Stone, na mesma entrevista.

PUBLICIDADE

Na estratificação do crescimento, a principal alavanca da companhia continua a ser o volume de pagamentos processados (TPV), que teve aumento de 24% para micro, pequenas e médias empresas (MSMB), incluindo Pix P2M (pessoas para lojistas), na base anual. “É cerca de duas vezes a média do mercado.”

Outro destaque do crescimento veio na monetização do volume de pagamentos processados, por meio do avanço do take rate de 2,39% para 2,54% no primeiro trimestre de 2023 para o de 2024. “Tivemos disciplina de preços”, disse o executivo.

Segundo ele, trata-se de um ambiente mais estável de preços em pagamentos que já ocorre há dois anos. “Quando olhamos de um ano para cá, o grande aumento na monetização vem de novos produtos de banking e de crédito, que acabam contribuindo com a maior parte do avanço do take rate.”

O lucro líquido ajustado (acima citado) teve aumento de 90,4% na base anual, ainda que queda de 20,1% na comparação com os três meses finais de 2023. Um quadro semelhante foi registrado no lucro antes de impostos (Ebit), com crescimento anual e recuo na base trimestral.

O Ebitda ajustado avançou 20,8% na base anual, para R$ 1,512 bilhão, mas teve queda de 6,6% versus o quarto trimestre, que a Stone atribuiu a fatores sazonais e a mudanças contábeis.

Mateus Scherer, CFO da Stone: dados como depósitos e carteira de crédito surpreenderam no primeiro trimestre de 2024 (Fonte: Divulgação)

Na estratégia de banking, a carteira de crédito cresceu 72% na comparação com o fim de 2023 e alcançou R$ 531,7 milhões em março, essencialmente em capital de giro para empresas com as quais já existe um relacionamento - um produto que passou a ser oferecido no mesmo mês do ano passado.

“Foi um crescimento em linha com o nosso apetite de risco e não houve incursão em mercados desconhecidos. Foi em cima da nossa base de clientes, como havíamos planejado. Destravamos alguns dos públicos com avanço na modelagem”, disse Gregor Ilg, Head de Negócios de Crédito da Stone.

“Não comprometemos a qualidade da carteira”, completou o executivo, que chegou à empresa há quase dois anos após liderar a área de risco para SMEs no Santander Brasil.

Leia mais: Nubank quer ir além do ‘pejotinha’, mas sem pressa para mirar ‘middle market’

O avanço de métricas da vertical de banking acima do ritmo apresentado pelo TPV mostra, segundo o CFO, o potencial dessa frente que foi alçada ao status de uma das prioridades para a Stone, como contado por executivos da empresa à Bloomberg Línea no mês passado.

Os recursos advindos de depósitos têm sido utilizado para compra de títulos públicos e ajudam na rentabilidade, dado que a fintech não remunera os clientes nessa destinação.

Piloto para uso de depósitos como funding

Até o primeiro trimestre, tais recursos não tinham efeito para redução de custo do funding para crédito ou antecipação de recebíveis, dado que a Stone obteve licença de financeira do Banco Central apenas no início deste ano. Mas está nos planos no futuro, atualmente em fase de piloto, disse o CFO.

Outro destaque do resultado, segundo o CFO, foi o desempenho da vertical de software do ponto de vista de rentabilidade. A margem Ebitda ficou em 17,8% (versus 11,1% um ano antes), ainda que, em receitas, o crescimento tenha sido de apenas 3% na base anual, para R$ 369 milhões.

Essa vertical desempenha um papel considerado relevante de ajudar a acelerar o cross sell de soluções financeiras para empresas que façam uso dos serviços de software da fintech. “Estamos ainda no começo dessa jornada, que não é de semanas ou meses, mas de trimestres ou anos”, disse o CFO.

“Temos um indicador que chamamos de overlap TPV, que é basicamente o quanto de TPV que temos dentro da base de clientes de software. Ele tem apresentado uma evolução em linha com a sazonalidade. E, dentro desses esforços, temos visto resultados bastante positivos principalmente em postos de gasolina, em que temos dedicado foco”, disse o CFO da Stone.

“Olhamos o crescimento de receita do business de enterprise versus essas verticais que são prioritárias para combinarmos serviços financeiros e software”, disse a CSO da Stone, em referência a segmentos como varejo, farmácias, alimentação, além de postos.

Em enterprise (grandes varejistas), o crescimento é menor, mas o market share é mais alto, o que faz esse alvo ser menos importante para growth, mas, sim, para eficiência e geração de caixa; por outro lado, os setores mencionados acima são mais relevantes em termos de crescimento, explicou Matos.

Ao comentar sobre dados do segundo trimestre, o CFO da Stone disse que, até o momento, as enchentes no Rio Grande do Sul devem exercer impacto limitado sobre o negócio da empresa, dado que o estado responde por 4% a 6% do TPV.

Nas cidades mais afetadas, as quedas chegaram a 40%, e a empresa adotou medidas excepcionais como isenção do aluguel de maquininhas, carência para o pagamento de crédito por três meses e de outras tarifas.

Leia também

Stone e PagSeguro valem 90% menos após Pix e aumento de concorrência

Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.