Shell estuda oferta pela BP diante de queda da ação da rival, dizem fontes

Shell trabalha com assessores sobre negócio potencial que seria um dos maiores M&As da história do setor; porta-voz disse à Bloomberg News que o foco está em ‘desempenho, disciplina e simplificação’, enquanto a BP não comentou

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Bloomberg — A Shell trabalha com assessores para avaliar uma possível aquisição da BP, embora esteja aguardando novas quedas nas ações da rival e no preço do petróleo antes de decidir se fará uma oferta, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram com a Bloomberg News.

Nas últimas semanas, a major do petróleo tem discutido mais seriamente a viabilidade e os méritos de uma aquisição da BP com seus assessores, disseram as pessoas, pedindo para não serem identificadas porque as informações são privadas.

Qualquer decisão final provavelmente dependerá do fato de as ações da BP continuarem a cair, disseram as pessoas. Elas já perderam quase um terço de seu valor nos últimos 12 meses, já que um plano de recuperação não agradou aos investidores e os preços do petróleo caíram.

A Shell (SHEL) também pode esperar que a BP (BP) entre em contato ou que outro pretendente dê o primeiro passo, e seu trabalho atual poderia ajudá-la a se preparar para tal cenário, disseram algumas das pessoas.

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As deliberações estão em seus estágios iniciais e a Shell pode optar por se concentrar em recompras de ações e aquisições adicionais em vez de uma megafusão, disseram eles.

Outras grandes empresas de energia também analisam se gostariam de fazer uma oferta pela BP, disseram as pessoas.

“Como já dissemos muitas vezes antes, estamos fortemente concentrados em capturar o valor da Shell por meio de foco contínuo em desempenho, disciplina e simplificação”, disse um porta-voz da Shell em um comunicado enviado por e-mail à Bloomberg News. Um representante da BP não quis comentar.

Uma combinação bem-sucedida da Shell e da BP seria um dos maiores M&As da indústria petrolífera de todos os tempos, reunindo as icônicas majors britânicas em um acordo que vem sendo discutido há décadas.

As empresas já foram rivais próximas - com tamanho, alcance e influência global semelhantes -, mas seus caminhos divergiram nos últimos anos.

As ações da Shell caíram cerca de 13% nas negociações de Londres nos últimos 12 meses, o que deu à empresa um valor de mercado de £ 149 bilhões (US$ 197 bilhões). Isso é mais do que o dobro da capitalização de mercado de £ 56 bilhões (US$ 74 bilhões) da BP - é 2,7 vezes o valor.

A BP vem lutando contra um desempenho inferior prolongado, decorrente, em grande parte, de uma estratégia de net-zero adotada por seu antigo CEO, Bernard Looney.

Seu sucessor, Murray Auchincloss, anunciou uma redefinição de estratégia em fevereiro que incluiu um retorno do foco no petróleo, cortes nas recompras trimestrais de ações e promessas de venda de ativos.

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A guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, e uma aceleração surpreendente na oferta da Opep+, desde então, empurraram o preço do petróleo Brent para bem abaixo de US$ 70 por barril - o preço de referência para as metas financeiras da BP.

No sábado (3), o grupo que coordena a maior parte do mercado concordou com mais um aumento da produção em junho, uma medida que parece destinada a aprofundar a queda dos futuros do petróleo.

Investidores, por outro lado, estão ficando impacientes. A gestora ativista Elliott Investment Management tornou pública uma participação de 5% na BP e pede à empresa que considere medidas mais transformadoras.

A Elliott considera que o plano da BP carece de ambição e urgência, e acredita que ele poderia expor a empresa a uma aquisição, segundo noticiou a Bloomberg News em abril.

Sob o comando do CEO Wael Sawan, a Shell também vem cortando custos, se desfaz de unidades de energias renováveis de baixo desempenho e volta a se concentrar nos combustíveis fósseis.

Embora as ações da Shell tenham superado as da Chevron (CVX) e as da Exxon Mobil (XOM) nos últimos anos, o valor de mercado da empresa ainda não se equiparou à de suas grandes rivais petrolíferas nos EUA.

Sawan disse a analistas na sexta-feira (2) que “é claro” que a Shell continuará em busca de oportunidades inorgânicas, mas será prudente e “a barra é alta”. Qualquer acordo precisaria aumentar o fluxo de caixa livre por ação em um período relativamente curto, disse ele.

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“Eu já disse no passado que queremos ser caçadores de valor. Hoje, a busca de valor - na minha opinião - é comprar de volta mais ações da Shell”, disse Sawan em teleconferência com investidores.

O executivo acrescentou que “temos que ter nossa própria casa em ordem” antes de buscar aquisições de grande porte, e que a empresa tem “mais trabalho a fazer” para atingir seu pleno potencial, apesar do progresso que fez nos últimos dois anos.

A Shell está fazendo negócios onde tem a capacidade de criar valor, como, por exemplo, com a compra da comercializadora de gás natural liquefeito Pavilion Energy Pte, disse Sawan.

Uma aquisição bem-sucedida da BP poderia reforçar o crescimento da produção da Shell, ao permitir que a empresa recuperasse a exposição aos EUA, depois de ter vendido seus ativos de xisto da Bacia do Permiano para a ConocoPhillips em 2021.

Qualquer transação provavelmente superaria a aquisição do BG Group pela Shell em 2016, um negócio que foi avaliado em cerca de US$ 50 bilhões.

-- Com a colaboração de Eyk Henning, Liezel Hill, Ruth David e David Carnevali.

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