Bloomberg Línea — Uma das tendências que mais ganham força no mercado brasileiro e global de alimentos é o da busca pelo consumo mais saudável. Dentro da indústria, uma das novas categorias crescentes é a que traz teores mais elevados de proteína, como parte da preocupação com ganho de massa muscular.
A mais nova gigante de alimentos a apostar na categoria com novos produtos é a Seara, marca da JBS com vendas anuais de US$ 8,8 bilhões (últimos 12 meses até junho passado).
A empresa acaba de lançar no mercado uma linha de pratos congelados proteicos com 30 gramas de proteína, como parte de sua frente de inovação no desenvolvimento de produtos (veja mais abaixo).
“Estamos atentos às tendências nas demandas dos consumidores e enxergamos isso como oportunidades para atendê-las, inaugurando categorias se necessário, como é o caso de refeições proteicas”, disse Rafael Palmer, diretor de Marketing de Alimentos Preparados da Seara, em entrevista à Bloomberg Línea.
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Essa estratégia se traduz no fim do dia, segundo ele, em aumentar as vendas, dado que, em muitos casos, os novos produtos atraem um público que não necessariamente consumia alimentos da marca. Ou seja, o resultado acaba sendo ampliar o mercado.
Palmer citou que a penetração de pratos prontos no consumo do brasileiro é inferior à de outros mercados, na faixa de 30% a 40% - sendo que a lasanha congelada responde por cerca de 80% desse consumo, o que dá a dimensão do potencial de diversificação e expansão.
“É um mercado que cresce de forma acelerada, cerca de 15% ao ano. E acreditamos que esse consumidor vai naturalmente migrar para novas opções, entre elas pratos com maior teor de proteínas”, disse o executivo.
“Vemos muita oportunidade de atrair novos clientes dentro do hábito de consumo crescente de alimentos próprios, seja dentro de casa ou levando a sua refeição para o trabalho, seja porque é mais saudável ou mais econômico.”

Os pratos chegaram ao mercado em agosto em lojas no estado de São Paulo em três versões: frango com legumes e arroz com brócolis, ragu de mignon suíno com purê de batata doce e picadinho com legumes e arroz com brócolis, todos com 30 gramas de proteína e cerca de 300 calorias, considerado um número baixo. E os resultados iniciais de venda têm sido positivos, segundo o executivo.
Outra novidade da Seara Protein - nome da linha - é a adição de colágeno, voltado para a saúde de ossos e músculos e para a vitalidade de pele e cabelos.
A proteína em forma de peptídeos e gelatina é fornecida pela Genu-in, empresa que faz parte da JBS Novos Negócios e que atua no mercado B2B, com vendas para as indústrias de alimentos, farmacêutica e nutracêutica.
Novas refeições estão no pipeline para os próximos meses, como parte de uma aposta mais estruturada da marca na categoria, que ganhou força nos últimos anos com a preocupação crescente de pessoas com hábitos mais saudáveis.
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Um “empurrão” relevante tem sido dado com o chamado " fenômeno Ozempic", referente à popularização do medicamento que usam agonistas GLP-1 para tratamento de diabetes tipo 2, com redução do apetite.
Um dos efeitos principais - e mais procurados pelo público - é a perda de peso, não só de gordura como também de massa muscular. Para minimizar esse segundo efeito, médicos e nutricionistas recomendam o consumo de proteínas em todas as refeições e em lanches, o que deu origem à categoria de proteicos.
Uma das primeiras empresas a explorar a tendência foi a Danone, que inaugurou há alguns a categoria de bebidas prontas proteicas com marcas como YoPro. O segmento de alimentos com maior teor de proteína cresce a um ritmo de dois dígitos e tem sido um dos motores de crescimento da gigante francesa no mundo.
Inovação e valor agregado
As refeições congeladas proteicas são o mais recente caso de uma estratégia de médio e longo prazo de inovação de produtos da Seara, segundo contou o CEO João Campos em entrevista recente para a Bloomberg Línea.
Serão neste ano mais de 150 produtos e apostas em categorias que buscam atender novos hábitos dos brasileiros em suas casas, de linhas de pizza e de lasanha desenvolvidas para air fryer, além de novos snacks, como bolovo.
Segundo ele, as inovações permeiam “tendências muito fortes que sobressaem quando pesquisamos os hábitos do consumidor”: entre elas, a já citada saudabilidade e também a praticidade.
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Além do maior teor de proteínas, a Seara busca reduzir ingredientes como o sódio e desenvolver mais alimentos in natura.
As proteínas são fornecidas pela própria JBS, listada na NYSE, dada a atuação na produção de diferentes tipos de carnes e ovos.
As inovações são acompanhadas de valor agregado, o que se traduz em preços mais altos que são absorvidos pelo consumidor - e em margens maiores para a empresa. “Quando você, como marca, acerta a solução e o benefício e entrega o que o consumidor quer, ele aceitar pagar mais”, disse o CEO na ocasião.
A estratégia de explorar novas ocasiões de consumo com base em pesquisas e dados de hábitos tem sido colocada em prática há mais tempo. A Seara recebeu investimentos de R$ 8 bilhões nos últimos cinco anos.
O desenvolvimento e os testes de consumo são realizados em um hub de inovação - chamado internamente de Academia Seara - na sede da JBS em São Paulo. No fim do ano passado, cerca de oitenta profissionais trabalhavam dedicados, entre cientistas e engenheiros de alimentos e chefs de cozinha.
São de 500 a 700 estudos por mês, que envolvem novos sabores, tamanhos das porções vendidas, ingredientes e modos de preparo, entre outros pontos.
Novos alimentos desenvolvidos, por sua vez, são testados em fábricas piloto da Seara, para testes de viabilidade e de adequação ao padrão de produção.
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