Santander amplia presença em PJ e refuta crise no mercado de crédito brasileiro

CEO Mario Leão diz em entrevista coletiva sobre o resultado do terceiro trimestre que o banco vai continuar a reduzir a sua presença junto a clientes de menor renda que não estejam adequados ao modelo de negócios

Bloomberg
29 de Outubro, 2025 | 05:42 PM

Bloomberg Línea — O Santander Brasil (SANB11) apresentou nesta quarta-feira (29) um lucro acima do esperado no terceiro trimestre: o banco somou R$ 4 bilhões na “última linha” do balanço, acima da expectativa consensual de mercado de R$ 3,7 bilhões, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.

Um dos destaques do trimestre foi o avanço da carteira de crédito total, que cresceu 7% em relação ao mesmo período de 2024. O movimento foi puxado principalmente pelo segmento de pequenas e médias empresas (PMEs), cuja carteira aumentou 13% na comparação anual.

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A linha de pessoa física, por outro lado, recuou 0,7%, em linha com a decisão do banco de reduzir sua exposição em segmentos mais vulneráveis ao ciclo de juros altos e ao endividamento das famílias.

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O CEO do Santander no país, Mario Leão, destacou que o objetivo do banco é continuar a crescer, mas de forma seletiva, sem precisar, necessariamente, expandir todos as linhas de negócios ao mesmo tempo”.

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“Ganhamos participação na pessoa jurídica como um todo e perdemos na pessoa física”, afirmou Leão em entrevista coletiva nesta quarta-feira (27) para comentar os resultados do banco.

“Estamos reduzindo nossos números na baixa renda e usando esse capital para crescer na alta renda, nas pequenas e médias empresas e também no atacado.”

Desde o fim da pandemia, o Santander vem ajustando sua carteira para diluir a dependência dos produtos de varejo voltados à população de menor renda. A decisão está relacionada à crise do setor a partir de 2021, quando o aumento da inadimplência pressionou o resultado do banco.

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O Santander tem sido mais conservador desde então, cenário que não deve mudar nos próximos meses, segundo o CEO.

“É possível que cresçamos menos do que o mercado como um todo — e tudo bem, desde que esse crescimento esteja ancorado nos clientes e nos segmentos em que queremos avançar, e que estejam gerando mais rentabilidade.”

Leão destacou que a mudança de mix da carteira de crédito não significa retração, mas realocação de capital para áreas de maior eficiência. Cerca de 47% da carteira de crédito do Santander ainda é voltada para pessoa física.

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O banco não abre a fatia da baixa renda dentro do volume total de crédito. Em base 100, os empréstimos para clientes de varejo massificado caíram seis pontos percentuais em um ano.

O CEO afirmou que o banco segue disciplinado na estratégia de atuar de forma seletiva junto ao público de menor renda.

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Segundo ele, o objetivo é manter apenas as faixas que façam sentido para o modelo de negócios do Santander Brasil, resultando em uma redução do peso da baixa renda na base de clientes e no portfólio de crédito e em um perfil mais qualificado.

“Continuamos disciplinados em encontrar o pedaço do segmento de baixa renda que faz sentido para o Santander Brasil”, disse.

‘Não há crise de crédito’

No segmento de pessoas jurídicas, o nível de alavancagem de algumas empresas preocupa, especialmente depois de casos emblemáticos de pedidos de recuperação judicial, como o da Ambipar há uma semana.

Leão disse que o cenário é desafiador para empresas alavancadas, considerando que o país irá entrar em seu quinto ano consecutivo de juros básicos acima de dois dígitos.

Ainda assim, em sua avaliação, os “eventos” de problemas de crédito não são algo generalizado.

“Vemos uma deterioração marginal em nomes específicos de grandes empresas, em alguns portfólios específicos, como o agronegócio, e também em algumas partes de pequenas empresas. Mas chamar de crise do crédito é exagero.”

A expectativa do Santander Brasil é que o cenário macroeconômico apresente um “respiro” no próximo ano, com a Selic em trajetória de queda a partir do primeiro trimestre de 2026.

Leão defendeu a visão de que o banco é capaz de perseguir novos indicadores de lucro e rentabilidade apesar dos desafios macroeconômicos.

O principal deles é a retomada do patamar de 20% do ROE, principal indicador de rentabilidade entre os bancos. O ROEA (retorno sobre o patrimônio médio) do Santander ficou em 17,5% no terceiro trimestre.

“Acreditamos que, com gestão disciplinada de cada uma das linhas [de negócio], vamos caminhar para elevar o ROE como vimos neste trimestre para chegar a 20% em algum momento. E depois disso vamos continuar crescendo”, disse.

As units do Santander (SANB11) reagiram positivamente ao balanço do terceiro trimestre e avançam 1,60% nesta quinta-feira.

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