Bloomberg Línea — A indústria de saúde no Brasil tem passado, já faz alguns anos, por um movimento mais acelerado de consolidação. Mas há muitas oportunidades para crescimento consistente de forma independente, com estratégia assertiva de mercado e investimento em tecnologia para ganhos de produtividade.
Esse tem sido o caso do Grupo Sabin, um dos maiores da área de saúde no Brasil, que cresce à margem dos maiores mercados de São Paulo e Rio de Janeiro.
O grupo, que tem crescido a um ritmo médio de 12% ao ano e deve chegar à marca de R$ 2 bilhões em faturamento em 2025, planeja inaugurar em setembro em Brasília sua primeira unidade 100% digital e uma das mais modernas do país, que faz uso de IA para integrar todos os sistemas de operadoras de saúde.
Na prática, isso vai significar realizar todos os procedimentos de verificação de documentos e dados e de autorização do plano de forma antecipada, da casa do paciente, que terá que se dirigir à unidade só para os exames em si.
“Temos feito muitos investimentos não só em Inteligência Artificial como em tecnologia, que trazem não só ganhos em processos e de produtividade como diferenciais que são importantes para o cliente”, disse Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin, em entrevista para a Bloomberg Línea.
Segundo a executiva, essa unidade 100% digital vai dimensionar a aceitação de uma parcela do público, em particular dos mais jovens, para o modelo mais agilizado, com totens para auto-atendimento e direcionamento antes dos exames em si, de modo que possa posteriormente ser “escalado” para outros estados.
No início do ano, o grupo concluiu um investimento de R$ 90 milhões para a modernização de seu Núcleo Operacional Central em Brasília, em projeto em co-criação com a Roche Diagnóstica que incluiu a robotização da análise de exames.
O núcleo atualizado teve aumento de 20% na capacidade de processamento do Sabin, o que sinaliza a projeção de crescimento na região. A estrutura composta de esteiras que transportam os tubos de ensaio sozinhos tem capacidade para processar 18.000 tubos por dia e leva cinco horas para entregar o resultado.
Segundo a executiva, são projetos que se traduzem em ganhos de eficiência alinhados a uma tendência mais ampla de uso de tecnologia no setor de saúde, que incluem também novos exames de prevenção de doenças.
A tecnologia, no entanto, conta “apenas” uma parte da história da estratégia de atuação e crescimento do Sabin.
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O grupo está presente no Distrito Federal e em mais 14 estados de todas as regiões com mais de 350 unidades de atendimento em cerca de 80 cidades, com mais de 7.000 colaboradores, em sua maioria mulheres.
Três em cada quatro colaboradores, tanto em cargos de liderança como no quadro geral, são mulheres, como parte de suas políticas na frente ESG.
O Sabin hoje atua em análises clínicas, medicina diagnóstica, imunização e vacinas, anatomia patológica, genômica, check-up executivo e, mais recentemente, com atenção primária, após a aquisição da startup Amparo Saúde.
A capilaridade geográfica não se deu por acaso.
Foi estrategicamente pensada ao longo da última década com foco em mercados com demanda relevante que não eram atendidos - ou tão bem atendidos - por outros players do setor, o que representou a oportunidade de levar um leque de serviços de saúde de maior qualidade e com agilidade a essa população.
Foi o que aconteceu em capitais como Manaus, onde uma unidade foi aberta em 2012 e a expansão se deu de forma orgânica - hoje são 15 ao todo - e incluiu a abertura de um núcleo operacional regional para o processamento dos exames.
“Resultados de exames clínicos, que antes levavam de 15 a 20 dias para serem entregues nesse mercado, passaram a ficar prontos em um a dois dias”, disse a executiva.
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Outro exemplo que ilustra o racional da estratégia, segundo Abdalla, é o hub regional de Campinas, em uma das macrorregiões com maior PIB per capita do país, em que o grupo está presente desde 2017.
Antes disso, o Sabin havia ingressado no estado mais rico do país por meio de uma aquisição em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, região igualmente com demanda relevante - e, depois disso, para a área de Ribeirão Preto.
“Somos frequentemente questionados por que não estamos presentes na cidade de São Paulo, o maior mercado do país”, disse a CEO do Sabin, para em seguida explicar: “mas se trata de um mercado em que o nível de competição é mais alto e que demandaria um investimento muito elevado para fazer sentido”.

É justamente do entendimento dos diferentes mercados regionais que foi montado o modelo de negócios do Sabin, segundo a executiva.
“Costumo dizer que o Brasil é muito grande e oferece muita oportunidade para levarmos serviços de saúde com assertividade e precisão de resultados aos médicos e aos pacientes em muitas localidades antes não assistidas”, afirmou.
A entrada em Mato Grosso, por sua vez, se deu em 2019 por meio da aquisição do Laboratório Carlos Chagas em Cuiabá, e a partir daí o grupo promoveu a sua expansão orgânica para outras cidades do estado.
Ao longo de 13 anos de execução da estratégia de diversificação das áreas de atuação e geográfica, o Sabin realizou mais de 30 aquisições, sem contar a agenda crescimento orgânico.
Nessa estratégia agressiva de M&A, há muito cuidado com a execução dos passos seguintes de integração, ressaltou Abdalla. “Inicialmente investimos na reforma e na padronização do atendimento, para que possa haver uma percepção de ganho de valor pelo paciente e pelo médico.”
Estudos de mercado são realizados para entender a aceitação da marca Sabin Diagnóstico e Saúde, que sempre acaba prevalecendo, mas cujo tempo de adoção pode levar mais de um ano em linha com esse planejamento cuidadoso.
O Sabin, fundado em 1984 pelas bioquímicas e empreendedoras Janete Vaz e Sandra Costa como um laboratório de análises clínicas, cresceu ao longo de quatro décadas para se tornar um dos maiores grupos de saúde do país.
A atuação se manteve como laboratório de análises clínicas até os anos iniciais da década passada, além da atuação geográfica concentrada no Distrito Federal.
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Em um momento em que o movimento de consolidação na medicina diagnóstica já estava em curso, as fundadoras do Sabin decidiram que era momento de avançar em governança corporativa, de diversificação dos negócios e expansão para outros estados e regiões de país de forma inorgânica, por meio de aquisições, e também orgânica, com a abertura de novas unidades.
Vaz e Costa passaram ao então recém-criado conselho de administração, em que seguem à frente da estratégia de longo prazo, e Abdalla, que fez sua carreira dentro do grupo e também é biomédica, assumiu como CEO em janeiro de 2014. Sua missão foi e tem sido justamente a de liderar a expansão dos negócios.
O grupo busca atuar como referência, segundo a executiva, não só na qualidade dos serviços com tecnologia e inovação como em suas iniciativas sociais, o que se reflete na liderança feminina e na composição de seus quadros que privilegia a presença de mulheres e no investimento em comunidades do entorno de suas unidades por meio do Instituto Sabin, que completa duas décadas.
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