Raízen encerra joint venture com a Femsa e deixará de ser sócia da Oxxo no Brasil

Medida é novo passo em plano de simplificação das áreas de atuação da gigante de açúcar e etanol ante dívida elevada; grupo mexicano ficará com 611 lojas com a marca, enquanto a Raízen receberá 1.256 unidades da Shell Select e do Shell Café

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Bloomberg Línea — A Raízen vai encerrar a joint venture que mantém desde 2019 com o grupo mexicano Femsa para a operação das lojas de conveniência Oxxo no Brasil.

A informação foi divulgada por meio de fato relevante ao mercado na manhã desta quinta-feira (4).

A medida representa novo passo do plano de desinvestimento e de simplificação das áreas de atuação da Raízen (RAIZ4), gigante de produção de açúcar e etanol fruto de uma joint venture entre a Cosan (CSAN3), de Rubens Ometto, e a Shell, diante de endividamento elevado que tem afetado o resultado da companhia.

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Pelo acordo entre as duas partes, a Raízen (RAIZ4), receberá 1.256 lojas de conveniência Shell Select e Shell Café e seguirá desenvolvendo a oferta por meio do modelo prioritário de franquias, integrado à sua rede de postos Shell.

A Femsa, por sua vez, receberá 611 mercados de proximidade com a bandeira Oxxo - marca que opera no país sede, o México - em cerca de 25 cidades do país e o centro de distribuição na cidade de Cajamar, na Grande São Paulo, além das dívidas e do caixa disponível no Grupo Nós, nome da joint venture.

“Essa decisão está alinhada à estratégia de reciclagem e simplificação do portfólio de negócios da Raízen, permitindo maior foco e agilidade na execução de sua Oferta Integrada Shell”, disse a Raízen no fato relevante.

A joint venture havia sido acertada em 2019 com um racional de ganho de escala para negociação com fornecedores e para ajudar a alavancar as vendas das lojas de conveniência Shell Select e, por tabela, a comercialização de combustíveis, um dos negócios core da Raízen, segundo explicou o então CEO da companhia, Ricardo Mussa, em entrevista à Bloomberg Línea em meados de 2023.

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A receita para o êxito da operação inclui um número enxuto de funcionários e de variedade de produtos (SKUs) nas prateleiras, aluguéis mais baixos, área de estoque menor e lojas próximas umas das outras, em uma estratégia de “saturação”.

“Temos que controlar a operação para conseguir custos competitivos”, disse Mussa na ocasião.

Como parte do acordo anunciado nesta quinta, o Grupo Nós continuará a prestar serviços de suprimentos e logística relacionados ao portfólio de produtos atualmente disponibilizado pelo seu centro de distribuição, dentro de sua área de cobertura, para as lojas Shell Select e Shell Café.

Ao longo dos últimos anos, a acelerada multiplicação do número de lojas da Oxxo em capitais como São Paulo despertou a atenção de consumidores, em um momento em que o varejo físico tradicional enfrenta dificuldades de vendas.

Ao longo do último ano, a Raízen tem avançado com um plano agressivo de corte de custos, venda de ativos e simplificação de negócios, que busca reforçar a estrutura de capital.

As vendas de ativos incluíram usinas de açúcar e etanol, enquanto outras plantas industriais tiveram as atividades encerradas, caso da Santa Elisa, na região de Ribeirão Preto, no interior paulista.

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A dívida líquida da Raízen chegava a R$ 49,2 bilhões no primeiro trimestre fiscal encerrado em junho, cujo resultado foi divulgado há duas semanas. A alavancagem era de 4,5x a dívida líquida sobre o Ebitda ajustado dos últimos doze meses (LTM).

A dívida cresceu de tamanho em razão principalmente da alta acentuada das taxas de juros, o que inviabilizou projetos e investimentos realizados em momento de custo de capital mais baixo.

No último trimestre, o resultado financeiro líquido total, que inclui essencialmente o custo da dívida bruta, ficou negativo em R$ 2,181 bilhões, o que ajudou a explicar o prejuízo líquido de R$ 1,844 bilhão no período.

-- Em atualização.

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