Prio: como aquisição bilionária do campo de Peregrino pode impulsionar a empresa

Analistas do sellside apontam que a capacidade da petroleira de extrair sinergias será fundamental para que a transação possa gerar valor; ações dispararam 8% nesta sexta (2)

Plataforma Peregrino C
02 de Maio, 2025 | 05:38 PM

Bloomberg Línea — Em antecipação às expectativas de mercado, a PRIO (PRIO3) acertou a aquisição da fatia restante do campo de Peregrino, em uma transação de até US$ 3,5 bilhões com a norueguesa Equinor.

A operadora independente de petróleo já possuía 40% do campo, após comprar fatia da chinesa Sinochem em setembro do ano passado.

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A PRIO espera que a transação seja concluída “entre o final de 2025 e meados de 2026”, paga com recursos em conta corrente, somados à geração de caixa até o fechamento da operação e um aumento “temporário do nível de alavancagem” de duas vezes a dívida líquida sobre o Ebitda.

É um patamar que, segundo a companhia, “permanecerá dentro de faixas saudáveis e conservadoras”.

As ações da empresa dispararam 8,07% nesta sexta-feira (2) na B3, reduzindo as perdas neste ano para cerca de 10%. Em cinco anos, o ganho ficou perto de 800%.

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O campo de Peregrino teve seu primeiro óleo extraído em 2011. Possui 27 poços produtores e seis poços injetores operando, com a produção viabilizada pela plataforma FPSO Peregrino.

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Atualmente, o campo produz em média 100 mil barris por dia (bpd).

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Com a aquisição da fatia da Sinochem no ano passado, a PRIO adicionou cerca de 40.000 barris à sua produção diária. Agora irá agregar mais 60.000 bpd.

Agora, a expectativa é que a nova aquisição agregue 202 milhões de barris de reservas provadas e recursos à operadora independente (conforme estimativas referenciadas em janeiro de 2024).

Para analistas do Citi (C), o movimento foi considerado “surpreendente”.

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“A compra neste momento é uma surpresa para nós, pois esperávamos que a PRIO só pudesse adquirir a participação em 2026, após o início das operações do FPSO Bacalhau”, disseram analistas em relatório.

Analistas do BTG Pactual apontaram em relatório que, em sua avaliação, embora a transação não surpreenda investidores, alguns podem questionar a avaliação e o timing da operação, em meio à atual volatilidade geopolítica.

“Vemos o negócio como um passo estratégico, que permite à PRIO continuar expandindo por meio de ganhos de eficiência em ativos maduros, sem comprometer sua capacidade de geração de fluxo de caixa”, afirmaram.

O banco acrescentou que a junior oil pode potencialmente acelerar sua “transformação em uma forte pagadora de dividendos em até 18 meses”.

Analistas do BTG Pactual ponderaram que, à primeira vista, o preço da aquisição implicaria uma avaliação de 100% do campo de Peregrino em US$ 5,8 bilhões, ou seja, 22% acima do valor pago na transação com a Sinochem.

“No entanto acreditamos que essa comparação é enganosa. Ajustando pelo desempenho financeiro do ativo desde janeiro de 2024, estimamos que o desembolso efetivo de caixa da PRIO será mais próximo de US$ 2,5 bilhões.”

Analistas do banco Safra afirmaram em relatório que o preço negociado pela fatia da Equinor implica um prêmio de 17% em relação ao valor de aquisição da participação inicial de 40%, “o que parece apropriado para a operação”.

Considerando as premissas da transação, o Safra estima que a taxa interna de retorno (“TIR”) da operação esteja abaixo da taxa mínima de retorno declarada pela PRIO.

“No entanto, a redução nas despesas operacionais, tanto em Peregrino quanto em campos vizinhos, e possíveis ganhos na comercialização do petróleo de Peregrino podem elevá-lo a um patamar mais atrativo”, apontaram os analistas.

Analistas de bancos formam um consenso ao apontar a dependência de sinergias para que haja criação de valor no negócio.

“Acreditamos que uma parte relevante da potencial criação de valor da transação dependeria da extração de sinergias”, afirmaram analistas do Goldman Sachs (GS) em relatório.

Segundo analistas do BTG, a maior parte do potencial de valorização do negócio dependerá da capacidade da PRIO de “extrair sinergias como operadora única do ativo”.

“Acreditamos que esse ganho pode ser relevante”, disseram os analistas, acrescentando que a participação da Equinor valeria US$ 2,6 bilhões ao final de 2025, ligeiramente acima do desembolso líquido estimado para a PRIO.

Contudo o modelo atual do BTG não incorpora potenciais sinergias operacionais.

Em uma estimativa conservadora, US$ 80 milhões de economia anual de custos poderiam gerar US$ 550 milhões em valor presente líquido adicional, o equivalente a R$ 3,80 por ação, ou um potencial de valorização de 10% em relação ao último preço de fechamento.

Leia mais: Prio acerta compra de 60% do campo de Peregrino, da Equinor, por até US$ 3,5 bi

Analistas do Citi veem a transação como um “acréscimo à tese de investimento”, embora não considerem o valor uma “pechincha”.

Eles estimaram que a participação adicional implicaria um aumento de produção de aproximadamente 58 mil bpd para a PRIO, adicionando Valor Patrimonial Líquido à companhia - desde que haja redução de despesas operacionais (OPEX).

A aquisição da fatia restante, segundo a PRIO, será realizada em duas etapas, sendo US$ 2,23 bilhões por 40% de participação, além de um valor de até US$ 166 milhões em earn-outs (pagamentos adicionais, que dependem do desempenho futuro do ativo), condicionados à conclusão da aquisição dos 20% restantes (por US$ 951 milhões).

Como o acordo é retroativo a janeiro de 2024, a PRIO também pagará até US$ 150 milhões em juros, elevando o valor total da transação para US$ 3,5 bilhões.

Avanço exponencial

A PRIO, liderada pelo CEO Roberto Monteiro, vem liderando o setor de junior oils no Brasil.

Em projeção sem considerar a fatia da Equinor, a produção da companhia para 2025 deveria girar em torno de até 115 mil barris, segundo levantamento da Rystad Energy feito a pedido da Bloomberg Línea.

Caso confirmado, o desempenho colocará a operadora como a quarta maior produtora do país, desbancando grandes petroleiras globais.

A companhia espera avançar ainda no campo de Wahoo, na bacia de Campos, cuja licença de perfuração foi emitida recentemente pelo Ibama. O ativo deve adicionar cerca de 40.000 bpd à produção da companhia.

Para fontes ouvidas pela Bloomberg Línea, a PRIO tem “ampla capacidade” de operar ativos após fusões e aquisições, mas o cenário de incertezas na indústria global de óleo e gás pode configurar um risco.

Isso porque os preços do barril dependem de variáveis que vão da política adotada pelo presidente americano Donald Trump aos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.