Por que o Brasil entrou no radar de grandes produtores de vinhos do mundo

Vendas da bebida no país cresceram 7% no primeiro trimestre após avanço de 10% em 2024; e devem superar R$ 22 bi em receitas no ano. ‘Há um interesse internacional maior pelo Brasil’, disse Juliana La Pastina, da World Wine, à Bloomberg Línea

'Desde a pandemia, o mercado internacional voltou os olhos para o país, vendo um mercado estável e com perspectiva de crescimento", disse a empresária Juliana La Pastina, da importadora World Wine
Por Daniel Buarque
23 de Maio, 2025 | 04:39 PM

Bloomberg Línea — O bilionário francês Bernard Arnault, fundador e CEO da LVMH, que produz algumas das bebidas mais famosas do mundo, como as da Moët & Chandon, soou um alarme recentemente: o mercado global do vinho está em crise.

Produtores da bebida na Europa enfrentam uma situação crítica. A produção global caiu 27% desde 1979, e o clima no mercado é de preocupação.

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Há uma transformação do setor, em razão de fatores como preocupação com os riscos do álcool, mudanças de hábitos de consumo de bebidas entre as gerações mais jovens, redução de importação na China e ameaça de tarifas em meio à guerra comercial iniciada por Donald Trump.

Enquanto isso, o Brasil vai no sentido contrário. Cada vez mais produtores estrangeiros olham para o país e veem uma oportunidade de crescimento e uma alternativa para compensar ou ao menos amenizar perdas em outros mercados.

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Os primeiros meses de 2025 foram de crescimento do mercado local de vinhos, e uma série de eventos trouxe ao país grandes produtores da América Latina, da Europa e até da África do Sul, todos de olho em aumentar sua presença na taça do brasileiro.

Os produtores estrangeiros estão vendo o Brasil como a salvação, disse à Bloomberg Línea um executivo de uma empresa do setor.

Uma importadora brasileira com sede em São Paulo, a World Wine, já recebeu 26 produtores estrangeiros nos primeiros meses do ano para participar de eventos destinados a aumentar a presença dos seus vinhos no mercado brasileiro, segundo contou Juliana La Pastina, presidente do grupo que leva o sobrenome da família, do qual a importadora faz parte.

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“Existe um interesse internacional maior pelo Brasil”, disse Juliana em entrevista à Bloomberg Línea. “Desde a pandemia, o mercado internacional voltou os olhos para o país, vendo nele um mercado estável e com perspectiva de crescimento.”

Os dados oficiais corroboram essa percepção.

No ano passado, o setor avançou 9,4% em termos de volume da bebida importada, e 10,5% em valor.

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Neste primeiro trimestre, o crescimento já foi de 7% entre vinhos nacionais e importados. As importações de vinhos cresceram 14% em volume e 15% em valor no período, com compras especialmente do Chile, da Argentina e de Portugal.

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Segundo levantamento da Ideal BI Consulting, o avanço no início do ano foi impulsionado especialmente pelos vinhos brancos, que impulsionaram a expansão com alta de 28% no total (entre rótulos nacionais e importados), e espumantes, que tiveram crescimento de 10% nas vendas.

No total, foram vendidas aproximadamente 110 milhões de garrafas no país no primeiro trimestre, com um valor de movimentação estimado em R$ 3,9 bilhões. Segundo a consultoria, especializada no setor, a projeção é que o mercado ultrapasse os R$ 22 bilhões em faturamento até o fim de 2025.

Além da mudança no cenário global, a consultoria indica que a desvalorização do real na reta final do ano passado pode ter ajudado a atrair os produtores estrangeiros.

E o setor ainda espera um crescimento ainda maior das importações após a esperada ratificação do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia.

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“Esse avanço das importações, aliado à queda do consumo global por causa da China e da diminuição do consumo entre os jovens, torna natural que o mercado dê uma atenção maior para o mercado brasileiro”, disse La Pastina.

“O nosso mercado ainda está em crescimento, é pouco maduro e tem potencial de avançar ainda mais. Isso acaba gerando uma visibilidade para os líderes de mercado”, afirmou.

A própria World Wine é um exemplo desse momento favorável para o vinho no Brasil. A importadora fechou 2024 com um crescimento de 10% em faturamento e espera aumentar entre 15% e 20% neste ano.

A empresa não revela os valores das receitas, mas Juliana La Pastina diz que foram negociadas 3 milhões de garrafas de vinho em 2024.

A empresa também prevê duplicar o número de visitas de vinícolas internacionais ao Brasil neste ano, disse.

“Os produtores estrangeiros estão felizes e querem investir para crescer no Brasil. Isso inclui a visitação ao mercado local para conhecer e formar um relacionamento com importadores e clientes. Os eventos fazem parte disso”, disse.

“Essa presença é fundamental para a construção de marca. Percebemos que os produtores que têm mais presença alcançam melhores resultados.”

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Daniel Buarque

Daniel Buarque

É doutor em relações internacionais pelo King’s College London. Tem mais de 20 anos de experiência em veículos como Folha de S.Paulo e G1 e é autor de oito livros, incluindo 'Brazil’s international status and recognition as an emerging power', 'Brazil, um país do presente', 'O Brazil é um país sério?' e 'O Brasil voltou?'