Petrobras enfrenta obstáculos em venda de campos em águas rasas, segundo fontes

Empresa buscou alienar o controle de campos offshore para se proteger dos altos custos de plataformas antigas, mas plano fracassou depois que a ANP rejeitou pedidos para testes de retomada de produção, disseram fontes à Bloomberg News

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Bloomberg — A Petrobras buscou se desfazer do controle de alguns campos de petróleo offshore em uma iniciativa que protegeria a petroleira de custos elevados para desmantelar plataformas antigas.

As movimentações envolveram a aproximação, nos últimos meses, com empresas menores sobre a possibilidade de assumirem participações de controle em um grupo de campos em águas rasas, muitos dos quais foram desativados quando os mercados globais de energia colapsaram nos primeiros dias da pandemia de Covid-19, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg News. Elas pediram anonimato por discutirem informações que não são públicas.

O esforço de desinvestimento, que não havia sido reportado anteriormente, “naufragou” em agosto, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) rejeitou o pedido da Petrobras para realizar testes necessários à retomada da produção de petróleo em 13 campos de águas rasas, disseram as fontes.

Os testes seriam uma etapa fundamental para eventualmente transferir o controle desses campos a outros operadores.

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Em resposta a questionamentos, a ANP afirmou que a Petrobras deve descomissionar as instalações em 13 campos, ainda que os reguladores possam decidir oferecer esses ativos em uma rodada de licitações posteriormente.

Na indústria petrolífera, o descomissionamento normalmente envolve tamponar poços com cimento e o desmantelamento ou afundamento de plataformas e outros equipamentos quando um campo atinge o fim de sua vida produtiva.

O trabalho pode custar dezenas de milhões de dólares ou mais, dependendo da idade do equipamento, da profundidade e da distância da costa.

A Petrobras não comentou o processo venda desses campos.

No entanto, um porta-voz Petrobras afirmou que os custos de encerramento dessas operações foram incluídos em seu plano de negócios mais recente de cinco anos e que a companhia cumpre suas obrigações legais de descomissionar ativos sob concessão.

Produtores de petróleo em todo o mundo frequentemente mantêm campos antigos em operação para adiar os custos de descomissionamento.

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Também é comum que grandes empresas de exploração vendam campos antigos para operadoras menores, em parte para repassar pelo menos uma parcela dessas despesas.

De acordo com a consultoria Wood Mackenzie, os gastos globais com o descomissionamento na indústria petrolífera offshore poderão ultrapassar os US$ 15 bilhões de dólares por ano até 2033.

“Eles farão tudo o que puderem para adiar esses custos”, disse Luiz Hayum, analista principal de pesquisa upstream da Wood Mackenzie para a América Latina. “É um investimento de capital que não gera retorno.”

Alguns dos campos que a Petrobras tem tentado vender ficam a poucos quilômetros da costa do estado de Sergipe, disseram as fontes. Nessa região, a Petrobras estima que custará US$ 1,7 bilhão para desativar 26 plataformas.

A questão dos custos de abandono está vindo à tona em um momento em que Petrobras já enfrenta uma perspectiva de preços do petróleo mais fracos.

A presidente Magda Chambriard disse em entrevista à Bloomberg News em agosto que os gastos com exploração diminuirão no próximo plano quinquenal de investimentos.

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