Passagem de avião no iFood? Prosus avança em testes para integrar plataformas

Em evento para o mercado, o head de investimentos da holding para a região e CEO do iFood, Diego Barreto, explicou o avanço da tese de criar um ecossistema de negócios, a partir de integrações e troca de dados sobre o comportamento dos usuários

Ambiente da sede do iFood na cidade de Osasco, na Grande São Paulo (Foto: Divulgação)
25 de Junho, 2025 | 09:57 AM

Bloomberg Línea — O iFood lançou uma campanha nos últimos dias para afirmar que não é só uma plataforma de delivery de comida mas de outros vários produtos. E, a depender da Prosus, a holding de investimentos que é a dona da empresa, a lista de itens e produtos ofertados só tende a aumentar.

A estratégia faz parte de um movimento que busca transformar o portfólio da companhia holandesa em um ecossistema, em que as investidas interagem cada vez mais e integram seus modelos de negócios.

PUBLICIDADE

Além do iFood, a Prosus é proprietária de outras plataformas digitais na região, como Sympla, OLX e, mais recentemente, Decolar, conhecida como Despegar nos demais países da América Latina.

Após anos em que os negócios operaram na prática isoladamente, o momento atual é de integração.

“O nível de colaboração era baixo e, no final, não conseguíamos extrair todo o valor que podemos. No último ano, nós começamos a fazer esse movimento”, afirmou Diego Barreto, CEO do iFood e nomeado recentemente como Head de Investimentos em LatAm da Prosus, em evento para o mercado de capitais nesta quarta-feira (25).

PUBLICIDADE

Leia mais: Uber acerta parceria com Loggi e desafia Correios com entregas para todo o país

A mudança com o olhar integrado para a região ocorre na esteira da chegada do brasileiro Fabricio Bloisi, ex-CEO do iFood, ao comando da Prosus, com a missão de transformar a holding em um negócio de US$ 200 bilhões em market cap.

“O próximo passo significa basicamente fazer com que esses ativos, que agora colaboram muito bem, também tenham um certo nível de integração que me permita, no final, extrair cada vez mais valor”, disse Barreto no evento da Prosus com investidores.

PUBLICIDADE

A estratégia, segundo o executivo, não é buscar sinergias tradicionais como as buscadas em eventos de M&A, com integrações entre as áreas de backoffice das companhias.

O processo é focado na geração de valor com base na combinação e na extração de informação no banco de dados de usuários das companhias investidas.

O exemplo para o desenho do ecossistema vem de inspirações como o Mercado Livre, a companhia mais valiosa da América Latina, e do próprio iFood, comandado por Barreto.

PUBLICIDADE

São empresas que nasceram com um negócio específico e que passaram a integrar a oferta de produtos que alimentam outras verticais de negócios.

Leia mais: Exclusivo: iFood compra três empresas de gestão e avança pelo salão dos restaurantes

O iFood iniciou começou com o delivery de refeições e lanches — uma categoria com alta frequência de uso — e, aos poucos, passou a oferecer também supermercado, farmácia, bebidas, serviços de conveniência e pet.

O Mercado Livre, por sua vez, começou com e-commerce e expandiu para serviços financeiros (via Mercado Pago), entregas e retail media, entre outros.

Segundo a estratégia, quanto mais vezes um cliente usa a plataforma, maior a eficiência operacional e maior a probabilidade de criação e aprofundamento de vínculos com ele.

“Hoje, conseguimos ter mais contatos, ganhar mais dinheiro e oferecer mais serviços aos restaurantes do que qualquer outro player tradicional”, disse Barreto, usando o iFood como exemplo e também sua oferta de soluções a parceiros.

No portfólio da Prosus para a América Latina, a palavra de ordem é “testes”: isso se traduz na condução de vários processos para entender como integrar os bancos de dados e enxergar oportunidades de negócios.

“A Decolar não oferece a compra de passagens de ônibus. Por que não, se o banco de dados mostra que há 10 milhões de pessoas que compram no iFood e estão no programa de fidelidade e que podem considerar essa compra? Esse é um exemplo da lógica que estamos levando para o Decolar”, disse o CEO.

A aquisição da Decolar pela Prosus foi anunciada em dezembro passado, em uma transação de US$ 1,7 bilhão.

No momento, o iFood e a empresa testam diferentes formas de apresentar as ofertas de viagens para os usuários.

Cerca de 10.000 usuários já contam com uma espécie de aba da Decolar no app do iFood, em um teste para entender a receptividade e o comportamento de acordo com a disposição de uso da nova funcionalidade.

As duas companhias também têm avaliado atuar com modelos como oferecer cashback para as compras de passagens realizadas dentro do app.

Leia mais: iFood e Uber fecham parceria para integrar serviços e ampliar oferta dos aplicativos

“Não é um gasto adicional, e, sim, mais eficiente. Seria um valor que iria para anúncios de captação de usuários no Google”, afirmou Barreto.

Em outra frente, o iFood passou a utilizar a Koin, fintech de Buy Now, Pay Later (modalidade de pagamentos parcelados) da Decolar, para uma oferta de refeições para usuários de menor renda.

O produto permite que consumidores com esse perfil peçam delivery e paguem em um intervalo aproximado de 15 dias, como uma espécie de adiantamento para casos em que o orçamento do mês tenha já acabado.

Segundo Barreto, o iFood tem verificado o aumento da frequência de uso do app por parte desses clientes e o que descreve como “desbloqueio” de um novo padrão de comportamento: “os primeiros resultados são maravilhosos”.

Leia também

O próximo alvo de Fabricio Bloisi: dobrar a receita da Prosus em três anos

Mercado Livre: digitalização das pessoas se sobrepõe ao cenário macro, diz CFO

Prosus investe em startup brasileira que mira ser um hub de agentes de IA para saúde

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark