Para CFO do Magazine Luiza, vendas de bens duráveis tendem a sustentar rentabilidade

Em entrevista à Bloomberg Línea, Roberto Bellissimo Rodrigues diz que as vendas em abril fecharam em ‘dígito alto’ em todos os canais e afirma que companhia entrou em uma nova fase após alta das margens

CFO do Magazine Luiza diz que as vendas nas lojas físicas devem continuar crescendo no cenário de redução dos juros, refletindo-se numa melhora do crediário e na redução da inadimplência na Luizacred
10 de Maio, 2024 | 11:07 AM

Bloomberg Línea — O Magazine Luiza (MGLU3) fechou abril com um crescimento das vendas entre 5% e 10%, em todos os canais, segundo o CFO da varejista, Roberto Bellissimo Rodrigues. A companha trabalha com a perspectiva de continuidade do aumento da demanda por bens duráveis, como eletrodomésticos e eletrônicos, que têm rentabilidade maior.

“Estamos entrando em uma nova fase. Os juros caem, as vendas de bens duráveis sobem. Estamos animados com o crescimento das vendas com margens saudáveis e sustentáveis”, afirmou Rodrigues em entrevista à Bloomberg Línea.

A empresa apresentou um lucro líquido ajustado de R$ 30 milhões no primeiro trimestre, em resultado divulgado na quinta-feira (9). A geração de caixa medida pelo Ebitda ajustado cresceu 54%, atingindo 7,4% de margem, alta de 2,5 pontos percentuais em 12 meses. Houve uma diluição de 39% nas despesas financeiras.

Apesar da recuperação nas vendas, alguns investidores ainda alimentam ceticismo sobre o desempenho da terceira maior varejista do país. As ações são negociadas com desvalorização acima de 3% nesta manhã.

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“Começamos o ano acima das expectativas do mercado e temos como continuar evoluindo, pois nossa margem, Ebitda e despesa financeira estão melhores. Temos potencial de mudar de patamar de margem bruta e Ebitda nos próximos anos. Tudo está na dependência da tendência de redução do CDI (taxa de juros)”, observou.

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As vendas totais foram de R$ 16 bilhões no primeiro trimestre, com crescimento médio de 20% nos últimos quatro anos. O valor representa um aumento de 3% em 12 meses. A margem bruta de 29,9% significa um crescimento de 2,6 pontos no comparativo anual.

“Já aumentamos as margens. Não precisamos mais fazer isso. O crescimento adicional não vai vir do reajuste de preço, mas do aumento da receita de serviços, de participação de plataforma de ads, dos serviços de cloud e fulfillment”, disse Rodrigues.

O executivo disse a companhia zerou, no mês passado, uma dívida de curto prazo no valor de R$ 3 bilhões, o que contribui para a redução do endividamento de R$ 7 bilhões para R$ 4 bilhões. Além disso, o Magalu fechou o primeiro trimestre com uma posição de caixa de R$ 9 bilhões.

“Foi um trimestre histórico. Enquanto a maioria do varejo queima caixa no começo do ano, conseguimos mantê-lo no mesmo nível”, afirmou o CFO.

As lojas físicas tiveram um aumento de 8% nas vendas em 12 meses, totalizando R$ 4,6 bilhões. No conceito “mesmas lojas”, que considera unidades com pelo menos um ano de atividade, o aumento chegou a 9%. Segundo o CFO, citando dado da consultoria GfK, a empresa ganhou 1,2 ponto percentual de market share nas lojas físicas.

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Nos últimos quatro anos, o e-commerce da companhia cresceu em média 29% ao ano, alcançando a marca de R$ 11,5 bilhões em vendas no primeiro trimestre.

Rodrigues disse que o Magalu repassou o Difal (diferencial de alíquotas do ICMS, imposto interestadual) de forma gradativa ao longo de 2023, o que torna a base de comparação do 1P (venda do estoque próprio) no primeiro trimestre mais desafiadora.

Ele considerou que a continuidade do aumento das vendas, dentro de um contexto macroeconômico de cortes dos juros básicos, se reflete na melhora do crediário e na redução da inadimplência na Luizacred, financeira do grupo. Houve um crescimento de 3% no TPV (volume total de pagamentos) de cartões, atingindo R$ 14,1 bilhões.

A carteira de crédito da financeira totalizou R$ 19,6 bilhões. A Luizacred lucrou R$ 13 milhões entre janeiro e março, ante um prejuízo de R$ 35 milhões em igual período do ano passado.

Analistas

A equipe de research do BTG Pactual avaliou que a rentabilidade apresentada pela varejista no primeiro trimestre foi o destaque devido às maiores receitas de serviços e a uma abordagem racional, mas a tendência de vendas fracas persiste em meio a um ambiente desafiador para o comércio eletrônico.

Os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima escreveram que o foco na rentabilidade deve persistir nos próximos trimestres e que o fluxo de caixa livre deve ser um destaque positivo. Eles mantiveram a recomendação de compra para o papel com preço-alvo de R$ 4 para os próximos 12 meses, upside de 140% ante R$ 1,67 (fechamento da quinta-feira, 9).

“Parece que o pior já ficou para trás e Magazine Luiza deverá se beneficiar das melhores condições do cenário macroeconômico, com efeitos encorajadores no primeiro trimestre, uma abordagem mais racional e seu modelo de negócios de multicanalidade para alavancar a operação do marketplace”, citaram no relatório.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.