Bloomberg — Em 2020, Carlo Aragon criou a página “Salomonology” no Instagram como um painel de inspiração de looks para ajudá-lo a decidir se deveria investir US$ 150 em um par do tênis Salomon XT-6.
Ele comprou, gostando da aparência “não ortodoxa” do tênis. Outros também gostaram - a conta agora tem quase 150.000 seguidores, intrigados com a forma como os calçados de trilha podem combinar com a moda de rua.
A fama de Aragon no Instagram reflete a ascensão da Amer Sports (AS), a empresa por trás da marca Salomon.
Desde sua estreia na Bolsa de Valores de Nova York, em fevereiro de 2024, o grupo sediado em Helsinque, que também é proprietário da marca de roupas outdoor Arc’teryx e da fabricante de equipamentos esportivos Wilson, quase triplicou seu valor de mercado para US$ 21 bilhões.
Ela superou seus pares, como a On, a Deckers Outdoor, empresa controladora da Hoka, e a Anta Sports Products.
Leia também: Decathlon aposta em novo modelo de lojas para acompanhar febre do esporte no Brasil
O crescimento da Amer Sports superou a desaceleração do consumo ao aproveitar a onda das atividades ao ar livre. A empresa está entre as marcas de luxo de nível médio que oferecem aos compradores produtos de alta qualidade que não custam muito caro.
A maior parte dessa recuperação ocorreu recentemente, após os resultados do primeiro trimestre que desafiaram uma economia global instável. As vendas superaram as expectativas, e a empresa elevou seu guidance (projeção), enquanto outras reduziram os seus.
O crescimento de suas divisões de equipamentos e performance outdoor - que abrigam, respectivamente, a Arc’teryx e a Salomon - impulsionou os resultados, disse o CEO James Zheng na mais recente teleconferência de resultados, destacando o potencial das marcas.
Embora os tênis Salomon tenham ultrapassado US$ 1 bilhão em vendas em 2024, o valor é uma fração do mercado global de tênis de US$ 180 bilhões, e a Arc’teryx é “muito pouco difundida globalmente”, disse ele na teleconferência.
A Amer Sports recusou um pedido de entrevista da reportagem da Bloomberg News com um executivo.
Mudança de rumo
A Amer Sports nem sempre foi tão bem-sucedida.
As ações permaneceram em baixa após io IPO devido ao alto endividamento, ao baixo volume de negociação e à exposição significativa a uma economia chinesa enfraquecida, disse Laurent Vasilescu, analista do BNP Paribas Exane, que classifica as ações como de desempenho superior.
Leia também: Na febre da corrida no Brasil, Hoka dobra aposta em lojas físicas e experiências
Então, em dezembro, a Amer Sports emitiu ações para pagar a maior parte de sua dívida. Essa medida reduziu a alavancagem e aumentou o volume de negociações, aliviando duas das três principais preocupações dos investidores, disse Vasilescu em uma entrevista.
A China, que responde por cerca de 30% da receita da empresa, continua sendo uma preocupação, embora as vendas no mercado tenham superado as expectativas em todos os trimestres desde o IPO.
Roupas esportivas premium e equipamentos para atividades ao ar livre são um dos segmentos de consumo que mais crescem na China, atraindo consumidores mais jovens e do sexo feminino, bem como compradores de luxo, disse o diretor financeiro Andrew Page na teleconferência de resultados.
O glamping - abreviação de acampamento glamouroso - e o gorpcore - uso de roupas para atividades ao ar livre como roupas de uso diário - são tendências atuais na China, disse Vasilescu.
A Amer Sports também tem atraído clientes de renda média e alta que gostam da estética de “luxo discreto” e da experiência de compras de luxo em lojas de suas marcas, acrescentou.
Isso também acontece nos EUA, onde celebridades como Timothée Chalamet e Bella Hadid foram vistas usando tênis Salomon.
As vendas em sua divisão das Américas cresceram todos os anos desde 2020 - os primeiros resultados disponíveis publicamente - embora em um ritmo mais lento do que o da Grande China, que, segundo estimativas, ultrapassará a Europa, o Oriente Médio e a África como o segundo maior mercado da Amer Sports em receita este ano.
Uma fã é Gabriella Gonzalez, uma estilista de 29 anos que visitou uma loja Salomon no distrito comercial SoHo, em Nova York, em uma tarde de sexta-feira. Ela elogiou a respirabilidade, a impermeabilidade e o estilo de seus tênis XT-6 rosa e preto. “Eles fazem minhas roupas se destacarem”, disse ela.
A cerca de 800 metros dali fica a maior loja da Arc’teryx nos EUA. O cliente Chris Rojes disse que não se importa em pagar mais pelo equipamento da Arc’teryx do que por outras marcas. Você se sente mais especial com eles”, disse.
A Arc’teryx se distingue de outras marcas de vestuário para atividades ao ar livre, como a Patagonia e a North Face, da VF Corp, por meio de um “nível muito mais alto de premiumização”, disse o analista da TD Cowen, John Kernan, que tem uma classificação de compra para a Amer Sports.
Apesar dos preços mais altos, os consumidores estão dispostos a pagar pela “inovação líder” da Arc’teryx.
Leia também: De João Fonseca a corredores: como a On entrou na disputa das marcas no Brasil
O declínio da fidelidade à marca do consumidor e o desejo crescente de variedade também criam uma oportunidade para a Salomon e a Arc’teryx ganharem participação de mercado de líderes do setor como a Nike e a Adidas, disse Vasilescu.
Para continuar voando alto, a Amer Sports precisa se tornar global, disseram os analistas, alertando que essa é uma batalha difícil.
“Acreditamos que o lançamento da marca global não será fácil”, devido aos altos preços da Arc’teryx e à intensa concorrência nos mercados ocidentais, disse o analista do HSBC, Akshay Gupta, que tem uma classificação de espera para a empresa.
O analista Ivan Su, da Morningstar, que tem uma classificação de venda, acredita que a Amer Sports precisaria de uma taxa de crescimento anual composta de 20% nos próximos cinco anos para sustentar seu alto valuation atual, o que exigiria uma “execução quase perfeita” em nível global.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Asics mira crescer em LatAm para além da corrida e vê potencial no tênis, diz CEO
Com melhor jogador da temporada, Converse supera Nike nas finais da NBA
3G, de Lemann, compra Skechers por US$ 9,4 bi e entra na febre da corrida
©2025 Bloomberg L.P.
