Nova ação judicial de Alagoas intensifica incertezas sobre bonds da Braskem

Estado de Alagoas move nova ação de R$ 4 bilhões contra petroquímica por danos geológicos, pressionando títulos da empresa que já enfrenta incertezas sobre possível aquisição por Nelson Tanure

Gigante petroquímica diz que tomou conhecimento da ação e que avaliará e tomará medidas nos prazos legais. (Foto: Paulo Fridman/Bloomberg)
Por Giovanna Belotti Azevedo - Rachel Gamarski
16 de Julho, 2025 | 01:47 PM

Bloomberg — Os títulos da Braskem denominados em dólar estão novamente sob pressão após o estado de Alagoas ingressar com uma ação judicial de R$ 4 bilhões, relacionada a danos geológicos provocados pelo colapso de uma das minas da empresa na região.

O processo marca mais um capítulo do prolongado desastre ambiental que se arrasta há anos no Nordeste e que, em 2023, levou a gigante petroquímica a perder o grau de investimento pelas agências de rating.

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A ação, ajuizada na semana passada, busca compensações por prejuízos causados a moradores que vivem na borda da área afetada em Maceió, segundo documento divulgado pelo defensoria pública de Alagoas na sexta-feira.

Em comunicado divulgado na sexta-feira, a Braskem (BRKM5) afirmou que tomou conhecimento da nova ação pela imprensa e que “avaliará e tomará as medidas pertinentes nos prazos legais aplicáveis e manterá o mercado informado sobre qualquer desdobramento relevante sobre o assunto.” A empresa não fez comentários adicionais.

“Não sabemos como isso vai se desenrolar”, disse Filipe Botelho, analista da Lucror Analytics. O novo processo provavelmente não era esperado pelos detentores de títulos e pode manter a dívida sob pressão no curto prazo, acrescentou.

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A ação judicial se soma às crescentes preocupações dos investidores em relação a uma possível aquisição da Braskem pelo empresário Nelson Tanure, diante de receios de que ele possa promover uma reestruturação da dívida.

Em média, os títulos da Braskem denominados em dólar acumularam uma perda de 3,3% no último mês, desempenho inferior ao da maioria dos títulos corporativos da América Latina, que registraram um retorno de 0,8% no mesmo período.

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Braskem Dollar Notes Slump After Tanure Makes Bid

“Com certeza é um nome que tem se movimentado com manchetes, então qualquer ruído adicional, como o de Alagoas, pode interferir”, disse Arturo Galindo, analista da BCP Securities. “Ainda vemos a precificação dos títulos pressionada principalmente pelo interesse de Tanure.”

Tanure é um investidor veterano, conhecido por realizar operações com ativos estressados, incluindo a Oi e a Light. Embora ele não tenha sinalizado interesse por uma reestruturação, os investidores demonstraram preocupação de que sua reputação como investidor distress possa levar a um “haircut” para os chamados bondholders.

Sua proposta surge após anos de esforços do conglomerado industrial Novonor — anteriormente conhecido como Odebrecht — para vender sua participação na Braskem.

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Um possível acordo com a Adnoc, de Abu Dhabi, fracassou em maio de 2024, frustrando as esperanças que haviam impulsionado uma alta nos títulos da Braskem.

Uma proposta vinculante de compra da Braskem por parte de Nelson Tanure vai depender de acordo definitivo sobre as compensações devidas pela petroquímica por Alagoas, informou o Valor Econômico, citando fontes próximas às negociações.

Tanure não retornou imediatamente a pedido de comentário.

No final de janeiro, a Braskem aumentou as provisões relacionadas ao desastre de Alagoas em R$ 1,3 bilhão, elevando o total para aproximadamente R$ 18 bilhões, mostram documentos da empresa.

Apesar do aumento considerável, o ajuste teve um impacto limitado nos resultados da empresa, já que os desembolsos devem ocorrer ao longo de mais de uma década, permitindo que os custos sejam absorvidos de forma mais gradual, afirmou a Fitch Ratings em um relatório publicado em fevereiro.

A Braskem informou no mês passado que já desembolsou R$ 4,22 bilhões em indenizações e auxílios desde a criação do seu Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF).

Não está claro quanto o novo processo acrescentará às provisões necessárias. Segundo Galindo, do BCP, a empresa já pode ter provisionado parte do valor exigido na nova ação judicial, embora talvez não o valor total.

“Um passivo contingente maior provavelmente faria qualquer comprador em potencial hesitar um pouco”, disse Omotunde Lawal, chefe de dívida corporativa de mercados emergentes do Barings.

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