Bloomberg Línea — Empresas de bens de consumo se deparam com um desafio nos últimos anos de inflação elevada e pressão sobre o poder de compra em diferentes mercados: vender mais em volumes ou elevar margens - e receitas quando possível - com uma estratégia de “premiuzação” do portfólio, na medida em que alcançar as duas entregas nem sempre é viável, como seria o desejo de todo investidor.
Para a Ambev, maior empresa de bebidas do Brasil e da América do Sul, esse desafio se colocou de maneira mais evidente nos resultados do segundo trimestre, apresentados ao mercado na manhã desta quinta-feira (31).
Os números em geral de volume e receita líquida ficaram abaixo do consenso de analistas, segundo a Bloomberg.
Os volumes vendidos recuaram 4,5% na base anual, versus consenso de alta de 0,4%, com queda mais expressiva de 8,9% em cervejas no Brasil, seu principal mercado.
No resultado consolidado do segmento de cervejas no Brasil, as receitas líquidas ficaram igualmente aquém do consenso e recuaram 3,5%, para R$ 8,99 bilhões de abril a junho.
O “tombo” foi atribuído às “condições climáticas adversas em mercados chave” - leia-se um dos meses de junho mais frios em muitos anos no Sudeste e no Sul, duas regiões que representam quase 60% da indústria no Brasil.
Mas o desempenho de cervejas premium - como Stella Artois, Corona e Original -, que cresceram cerca de 15% na comparação anual, e zero álcool, com avanço de semelhante magnitude, amenizaram o resultado afetado pelo clima.
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No caso do segmento premium, foi o 17º trimestre consecutivo de expansão. E houve ganho de market share, segundo estimativas da própria Ambev.
Os volumes de Stella Pure Gold, versão puro malte sem glúten, cresceram acima de 100% e passaram a representar cerca de 30% do volume de Stella Artois, enquanto Michelob Ultra cresceu na casa dos 60% na base anual - em ambos os casos, na esteira de hábitos mais saudáveis também de quem bebe cerveja.
“A saúde de marca continuou evoluindo nos nossos principais mercados e sustentou escolhas estratégicas de gestão de receita que tomamos como líderes da categoria”, apontou a Ambev em seu documento de resultados.
“A resiliência das nossas marcas ajudou a compensar o impacto dessas escolhas na nossa participação de mercado ao longo da nossa operação”, completou.
Esse aparente tradeoff se refletiu nas métricas. A receita operacional líquida por hectolitro (ROL/hl), exceto marketplace, cresceu 6,2%, “sob impulso da estratégia de gestão de receita e do mix positivo de marcas”.
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O Ebitda ajustado (métrica de geração de caixa operacional) cresceu 2,7% no resultado orgânico, para R$ 2,87 bilhões, com expansão de 190 pontos base na margem, além de avanço de 50 pontos base na margem bruta.
Para o semestre que já avança para o segundo mês, em agosto, depois de um julho que ficou igualmente muito abaixo da média histórica recente em temperaturas, a Ambev, sob liderança do CEO Carlos Lisboa desde o começo deste ano, reforçou a convicção na estratégia de “premiuzação”.
“Seguimos com nossas decisões estratégicas de gestão de receita ao longo do trimestre, que nos colocam em uma boa posição para enfrentar os ventos contrários de custo no segundo semestre “, apontou a empresa no resultado.
Como reflexo da “confiança na estratégia de crescimento”, a Ambev aprovou o pagamento de R$ 2 bilhões em dividendos a serem pagos até outubro.
No acumulado do ano até quarta-feira (30), as ações da Ambev (ABEV3) subiam cerca de 24% na B3, muito acima do avanço de 11% do Ibovespa.
Nesta quinta, como reflexo da reação de investidores aos resultados, as ações caíram 5,22%.
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