Musk avança com sua segunda cidade no Texas para abrigar empresa de túneis

Projeto em andamento em Snailbrook inclui conjunto de 20 casas para funcionários, um centro de ciências e outras instalações, segundo documentos obtidos pela Bloomberg News

Snailbrook
Por Kiel Porter - Kara Carlson
06 de Dezembro, 2025 | 02:40 PM

Bloomberg — Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo, já mostrou que, quando as regras de uma cidade não se ajustam aos seus planos, ele cria uma nova cidade — e novas regras.

Foi assim que surgiu Starbase, a comunidade autônoma construída em torno da base de lançamentos da SpaceX no sul do Texas.

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Agora, tem sido relativamente mais simples erguer sua outra “company town”, cerca de 563 quilômetros ao norte, no condado de Bastrop, onde o governo local tem — na maior parte do tempo — acompanhado a visão do bilionário.

O complexo de mais de 25,9 quilômetros quadrados conhecido como Snailbrook abriga a Boring Company, sua empresa de túneis, a rede social X e uma fábrica da SpaceX, além de alguns serviços para os funcionários.

Agora, Snailbrook deve ganhar ainda mais características de uma cidade completa: estão em andamento projetos que incluem um conjunto que deve superar 20 casas para funcionários, um centro de ciências, academia e outras instalações, segundo correspondências entre executivos de Musk e autoridades municipais e estaduais obtidas pela Bloomberg News por meio de um pedido de acesso a documentos públicos.

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Enquanto Musk encarrega a Boring Company de expandir a cidade, ele também testa o limite da boa vontade da região com suas ambições. Até agora, o condado de Bastrop tem exigido pouco, em termos de burocracia, e tolerado algumas infrações.

Mas Starbase mostra que ele tem um plano B, caso seja necessário.

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A Boring Company e a prefeitura de Bastrop não responderam aos pedidos de comentário sobre os novos projetos.

Disputa por incentivos fiscais

Musk adotou uma postura combativa desde que chegou a Bastrop, em 2021. A Boring Company, criada para revolucionar cidades com túneis futuristas, construiu infraestrutura e projetos de teste sem as licenças necessárias. Por várias violações envolvendo águas residuais, a empresa recebeu cerca de US$ 9 mil em multas.

Snailbrook

Mais recentemente, a companhia tem se dedicado a reduzir sua carga tributária, segundo pessoas familiarizadas com o assunto que falaram à Bloomberg News e que não estão autorizadas a falar publicamente. Documentos mostram que executivos discutiram com autoridades multas por atraso e buscaram isenções de impostos sobre casas pertencentes à empresa.

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A Boring Company argumentou que, por operar sua própria pré-escola no campus, não deveria pagar impostos destinados às escolas. O Distrito de Avaliação Central de Bastrop discordou e não respondeu a pedidos de comentário.

Para melhorar a relação, a empresa propôs doar parte de suas terras não desenvolvidas e recursos para a construção de campos comunitários de futebol, segundo correspondência interna. Isso também poderia ajudar a reduzir sua carga tributária, já que seria considerado doação à comunidade. Não está claro se a proposta avançou — ela incluía a exigência de que grupos locais arcassem com parte dos cerca de US$ 300 mil em custos.

A Boring Company teve mais sucesso ao pressionar por mudanças nas leis estaduais de bebidas alcoólicas, que exigiam que seu bar no campus, o Prufrock Pub, coletasse assinaturas de eleitores para pedir uma licença privada para vender drinques.

“Boas notícias!”, escreveu Adena Lewis, chefe de desenvolvimento econômico da Câmara de Comércio de Bastrop, em carta enviada ao diretor financeiro da Boring em junho, vista pela Bloomberg News.

Ela explicou que sua organização conseguiu aprovar um projeto de lei na Legislatura do Texas dando a Bastrop mais controle sobre suas permissões de álcool.

“Vamos poder eliminar a necessidade da sua licença de clube privado [em 2026]… a ajuda está a caminho!”, afirmou.

Lewis disse por e-mail que a Câmara não tomou nenhuma ação “especial” para a Boring Company e que trabalhava há anos numa solução legislativa para atender “muitos” solicitantes.

Rápido demais?

Instalar Snailbrook em uma área antes agrícola tornou o projeto menos disruptivo para a comunidade do que a ocupação da Starbase, em Boca Chica, embora também tenha gerado controvérsia.

Algumas pessoas recebem bem as comodidades trazidas por Musk, como mercado, bar, salão de beleza e playground em uma região predominantemente rural.

Essas adições “definitivamente ajudaram na boa vontade”, disse Judah Ross, corretor da Bastrop Real Estate Group.

Snailbrook

A Boring Company também planeja criar um centro público de ciências e um Hyperloop Health Club com paredes de escalada, segundo pessoas familiarizadas com os planos e correspondência com o condado.

Outros temem que Snailbrook esteja incentivando crescimento demais, rápido demais. Skip Connett, morador de Bastrop e cofundador da Friends of the Land, iniciativa voluntária que busca preservar o meio ambiente, aponta para a proliferação de algas no Rio Colorado.

O fenômeno decorre do aumento de efluentes causado pela chegada de indústrias e novos moradores, e ele se preocupa com a falta de planos para proteger a região.

Em 2023, Boring e SpaceX solicitaram permissão para despejar mais de 100 mil galões de águas residuais tratadas por dia no rio. Depois da oposição de moradores, legisladores e grupos ambientais, as empresas fecharam um acordo com Bastrop para tratar seus efluentes em uma instalação municipal.

“Eles deveriam ser bons cidadãos corporativos, melhores do que vêm sendo”, afirmou Connett, acrescentando que as empresas deveriam priorizar a preservação ambiental e o acesso dos moradores.

Uma das comodidades que a Boring Company está disposta a oferecer a Bastrop é, claro: túneis. A empresa propôs uma rede de túneis para pedestres, incluindo um de cerca de 600 metros que ligaria o centro da cidade ao Rio Colorado.

A Boring estimou o custo em cerca de US$ 7,5 milhões, e o condado tenta captar recursos via subsídios, disse Vivianna Nicole Andres, assistente do gerente municipal de Bastrop. Ela observou que a cidade de Smithville, ali perto, recebeu recentemente um subsídio para uma ponte de pedestres que custou cerca de US$ 15 milhões — tornando o túnel da Boring Company uma solução mais rápida e barata.

Nem todos, porém, estão convencidos dos benefícios.

“As pessoas simplesmente não usam esses trajetos a pé”, disse o morador de longa data Herb Smith, acrescentando que Bastrop tem outras melhorias de infraestrutura mais urgentes.

“Só porque alguém é capaz de construir túneis não significa que deva construí-los.”

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