Bloomberg — Mineradoras que esperam aproveitar a crescente demanda global por terras raras estão competindo por uma fatia de quase US$ 1 bilhão em financiamento para viabilizar seus projetos no Brasil, que tem as maiores reservas do mundo depois da China.
O país deve divulgar na quinta-feira (12) uma lista de projetos estratégicos de minerais elegíveis para apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da agência governamental de fomento Finep.
As entidades estatais passaram semanas analisando 124 propostas de iniciativas que totalizam US$ 15 bilhões, incluindo muitas empresas que pretendem produzir terras raras, um conjunto de minerais usados em ímãs, baterias e equipamentos de alta tecnologia.
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O país busca transformar anos de promessas de terras raras em realidade, num momento em que a China usa sua dominância no setor como ferramenta de negociação comercial, o que levou os Estados Unidos e outros governos a buscarem fontes estáveis em outros lugares por questões de segurança nacional.
Tensões comerciais sobre esses elementos pouco conhecidos criaram oportunidades para empresas novatas.
Entre as empresas com projetos em estágio inicial no Brasil estão Aclara Resources, Viridis Mining and Minerals e Meteoric Resources.
Embora um pedaço do financiamento estatal possa não ser suficiente para viabilizar completamente os projetos, o BNDES também está aberto a trazer instituições internacionais como a Agência de Cooperação Internacional do Japão — desde que os projetos incluam etapas de refino.
O banco também pode mobilizar parceiros privados, além de recursos do fundo climático do Brasil.
“O mundo percebeu que não pode depender de um só país”, disse Jose Luis Gordon, diretor de desenvolvimento produtivo, inovação e comércio exterior do BNDES.

O Brasil detém 23% das reservas globais, ficando atrás apenas da China, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos.
A produção brasileira se limita ao Grupo Serra Verde — uma empresa com investidores dos Estados Unidos que fechou contratos majoritariamente com compradores chineses.
“O Brasil é uma cópia geológica do que os chineses têm”, disse o CEO da Aclara Ramon Barua em entrevista à Bloomberg News. “A diferença é que estamos fazendo isso de uma forma super ambientalmente correta”.
As terras raras ganharam os holofotes depois que a China implementou restrições à exportação, enquanto os Estados Unidos pressionam por acordos de fornecimento com Ucrânia, Groenlândia e República Democrática do Congo.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira (11) que um acordo comercial com Pequim foi concluído, no qual a China fornecerá terras raras e ímãs.
Interesse antigo
Não é a primeira vez que terras raras atraem a atenção global. No início dos anos 2010, empresas como a Molycorp e a Lynas Rare Earths surfaram uma onda de interesse dos investidores nesses elementos pouco conhecidos, até que o mercado desabou com o aumento da oferta e sua substituição por alternativas mais baratas.
A indústria global ainda enfrenta muitos obstáculos além da extração dos elementos do solo. Um deles é competir com a China no processamento. Outro é estabelecer uma referência de preço fora do opaco mercado chinês.

A consultoria Wood Mackenzie estima que os preços teriam que dobrar para viabilizar uma oferta garantida fora da China.
“Os investidores não estão dispostos a assumir todos esses riscos, então é necessário haver incentivos, provavelmente por parte de governos, para ajudar a reduzir esses riscos”, disse Johann Schimd, chefe de consultoria em metais da Wood Mackenzie.
Potenciais produtores no Brasil buscam se conectar com compradores nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, apostando que conseguirão obter financiamento de baixo custo.
A Aclara, por exemplo, quer minerar e processar no Brasil para abastecer uma planta de ímãs na Carolina do Sul.
A Viridis manteve negociações com bancos estatais nos Estados Unidos, no Canadá, na Alemanha, na França, no Japão, na Coreia do Sul e na Austrália.
A empresa sediada em Perth, na Austrália, busca diversificar sua base de financiadores e clientes para obter mais flexibilidade.
“Toda a cadeia industrial ainda precisa ser estruturada”, disse Klaus Petersen, diretor da Viridis no Brasil. “Estamos falando apenas com bancos de desenvolvimento.”
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